AMENDOLA: AGENTE DA REPRESSÃO DA
DITADURA
E, EM 2017, AGENTE DA REPRESSÃO
DE CRIVELLA
O Instituto Helena Greco de Direitos
Humanos e Cidadania repudia veementemente a prefeitura do Rio de Janeiro: o
prefeito Marcelo Crivella nomeou para a Secretaria Municipal de Ordem Pública
(SEOP) o agente da repressão da ditadura militar Paulo Cesar Amendola.
Marcelo Crivella (Partido Republicano
Brasileiro/PRB) é bispo evangélico neopentecostal licenciado da Igreja Universal
do Reino de Deus (IURD). Ao longo da sua trajetória, tem demonstrado seu
fundamentalismo cristão expresso na intolerância em relação à cultura do povo negro,
às crenças e religiões de matriz africana, à comunidade LGBTs e às lutas
feministas. Estas práticas de Crivella estão explicitadas no seu livro
“Evangelizando a África”, publicado em 2002 pela IURD. Foi senador pelo PRB e
ministro (Pesca e Agricultura) no governo Dilma Rousseff.
Paulo Cesar Amendola (PRB) participou
ativamente do aparato repressivo da ditadura militar (1964-1985) tendo afirmado
publicamente que foi um dos autores da prisão de César de Queiroz Benjamin, em operação
do Centro de Informações da Marinha (CENIMAR), em agosto de 1971. César Benjamin foi barbaramente torturado e
expulso do Brasil pela ditadura. Na época, este lutava contra a ditadura e pelo
socialismo – participava da luta armada pelo MR-8. Ex-PT, um dos fundadores do
Consulta Popular e ex-PSOL, César Benjamin hoje é titular da Secretaria de
Educação, Esportes e Lazer da prefeitura Rio de Janeiro – colega de seu próprio
repressor, o coronel Amendola, na gestão municipal. César Benjamim foi um dos
coordenadores da campanha de Marcelo Crivella e um dos articuladores do seu
programa de governo.
O torturador Amendola atuou no DOI-CODI, um dos
principais centros de tortura da ditadura militar. Além de seu histórico de
repressão durante a ditadura, é coronel reformado da Polícia Militar do Estado
do Rio de Janeiro. Atuou no Batalhão de Choque, foi um dos fundadores da Companhia
de Operações Especiais da PMERJ, atual BOPE e o primeiro superintendente da
Guarda Municipal do Rio de Janeiro.
A
Polícia Militar do Rio de Janeiro – como em todo o Brasil - se caracteriza pela
prática racista, assassina e parafascista. Seus alvos principais são o povo
negro, pobres, moradores(as) dos morros e favelas, as lutas dos(as)
trabalhadores(as) e dos movimentos sociais.
Abaixo Crivella! Fora Amendola!
Pelo fim de todo aparato
repressivo!
Apoiamos inteiramente a nota de 23/01/2017 do Grupo Tortura Nunca
Mais/RJ, a qual reproduzimos abaixo.
Belo Horizonte, 06 de fevereiro de 2017
Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania
Nota do Grupo Tortura Nunca
Mais/RJ:
É INACEITÁVEL QUE UM AGENTE DA REPRESSÃO DA DITADURA MILITAR
SEJA SECRETÁRIO DA PREFEITURA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO.
O Grupo Tortura Nunca Mais / RJ
(GTNM-RJ) vem a público manifestar sua total indignação e repúdio ao conceito
de “Ordem Pública” do prefeito Marcelo Crivella – conceito este expresso na
nomeação, mais do que simbólica, do atualmente Coronel da reserva da PM-RJ,
Paulo César Amêndola de Souza.
QUEM É PAULO CÉSAR AMÊNDOLA
1. O Projeto Brasil Nunca Mais,
coordenado pelo então cardeal de São Paulo Dom Paulo Evaristo Arns - é o
resultado da microfilmagem de todos os processos que se encontram no Superior
Tribunal Militar, em Brasília, abrangendo o período de 1964 a 1978,
tratando-se, portanto de documentação oficial produzida pelo regime ditatorial.
O nome do Coronel Amêndola é citado várias vezes (ver páginas 113 e 238 do Tomo
11, volume 3) e, mais especificamente na folha 005 do Processo 1599 da Segunda
Auditoria da Aeronáutica, com apelação no STM número 39.295, consta um
documento da Secretaria de Segurança Pública do Estado da Guanabara no qual o
então capitão Amêndola é identificado como “estando a serviço do Centro de
Operações de Defesa Interna do I Exército” – o famigerado DOI-CODI, centro de
torturas, assassinatos e desaparecimentos durante a ditadura militar.
2. Mas, mais do que está nos
documentos oficiais, o próprio coronel Amêndola – em recente entrevista ao
jornal O Globo (ver matéria do dia 21/12/2016) assume ter participado
diretamente de operativos, inclusive fora do estado do Rio de Janeiro. Como o
repórter descreve na abertura da matéria – Em agosto de 1971, o então
guerrilheiro Cesar Benjamin, foi preso, aos 17 anos, numa praça de Salvador
durante uma missão do Centro de Informações da Marinha (Cenimar). Integrante da
organização MR-8, que lutava contra a ditadura, ele estaria levando uma mala de
dinheiro para Carlos Lamarca quando foi capturado por militares. Entre seus
captores estaria Paulo Cesar Amêndola, que, em 2011, falou ao GLOBO sobre a
operação. Com riquezas de detalhes, ele afirmou que foi enviado à Bahia numa
ação confidencial, e que só chegando lá descobriu quem era o alvo. A prisão
teria ocorrido numa emboscada, e, na versão de Amêndola, coube a ele desarmar
Benjamin, que tentou escapar do cerco.
Nesta mesma entrevista o próprio Amêndola afirma, literalmente: “Eles
precisavam de gente com experiência em área urbana. E a missão que nos tinham
dado era capturar umcidadão que ia passar em Salvador...” e continua em
seguida: “Pegaram o Cesinha, eu fui por trás e tirei a (pistola) 45 dele.
Cesinha começou a gritar “estão me assaltando, estão me assaltando!”. Mas eram
três cercos, tudo à paisana — declarou o militar ao GLOBO.
3. Depois do fim da ditadura
militara carreira de Amêndola continua. O coronel se orgulha de ter sido o
criador do BOPE (Batalhão de Operações Especiais da PM-RJ. Este batalhão, que
tem como símbolo uma “caveira”, é por demais conhecido de todos os moradores
das favelas e periferias de nossa cidade. Todas as mães, pais, parentes e
amigos das vítimas do verdadeiro genocídio promovido contra jovens, pobres, em
sua enorme maioria negros; sabem muito bem dos métodos operacionais deste
batalhão. Sabem que para o povo pobre não existe “bala perdida” mas sim corpo
achado.
4. Ainda consta do currículo de
Amêndola a criação da Guarda Municipal que, contrariando os objetivos expressos
na lei que a criou, dedica-se a reprimir, com extrema violência os
trabalhadores desempregados que tentam buscar seu sustento como ambulantes e a
controlar as populações pobres da cidade. Até agora com as chamadas “armas não
letais” mas sabemos que já existem projetos para que passem a utilizar armas de
fogo.
Portanto, nós do GTNM-RJ,
Consideramos que colocar um membro do CODI - aparato de repressão da Ditadura
Civil-Militar, criador de uma corporação que se destaca pela violência e
desrespeitos aos direitos humanos, expressa com rara clareza uma compreensão do
atual prefeito do que seria ordem pública: repressão e intimidação pela
violência.
Rio de Janeiro, 23 de janeiro de
2017
Pela Vida e Pela Paz,
Tortura Nunca Mais!
Grupo Tortura Nunca Mais/RJ
Fonte: