NOTÍCIA SOBRE A ENTREGA DA
30ª
MEDALHA CHICO MENDES DE RESISTÊNCIA/2018
Desde
1989, o Grupo Tortura Nunca Mais – RJ,
em parceria com outros movimentos sociais e entidades de direitos humanos,
realiza a entrega da Medalha Chico Mendes de Resistência. Esta foi criada em
contraposição à provocação do Comando Regional do Leste, que concedeu a Medalha do Pacificador (leia-se Medalha do Repressor) a membros do
aparato repressivo da ditadura militar (1964 – 1985). Desde então, todos os anos, no dia 1º de abril,
cerca de dez movimentos sociais e defensores dos direitos humanos recebem a
Medalha Chico Mendes de Resistência. São perseguidos(as) e ex-presos(as) políticos(as);
mortos(as) e desaparecidos(as) políticos(as) e seus familiares; guerrilheiros(as)
que combateram a ditadura; trabalhadores(as) do campo e da cidade; camponeses(as)
pobres; sem terra; sem teto; pessoas em situação de rua; negras e negros;
quilombolas; indígenas; feministas; LGBTQIs.
Trata-se de insurgentes e resistentes de ontem e de hoje que lutam por memória,
verdade e justiça; pela abertura irrestrita dos arquivos da repressão; contra a
tortura e o extermínio institucionalizados; contra o aparato repressivo; contra
o encarceramento em massa; contra o genocídio do Povo Negro e dos Povos
Indígenas; contra o racismo, o machismo e a lgbtqifobia – enfim, contra o
terrorismo de Estado e do capital.
Na organização desta 30ª edição da
Medalha Chico Mendes de Resistência/2018, foram parceiras do Grupo Tortura
Nunca Mais – RJ as seguintes entidades: CECAC; Comitê Chico Mendes; Rede de Comunidades e Movimentos Contra a
Violência; CDH-OAB/RJ; CEJIL; Justiça Global; Instituto Helena Greco de Direitos
Humanos e Cidadania-BH/MG; CDDH-Petrópolis; SINDPSI-RJ; Movimento de Justiça de
Direitos Humanos-RS; CRP-RJ; MST; PCB.
O ato público da entrega das medalhas foi realizado
no dia 02 de abril de 2018, no Teatro Odylo Costa Filho/UERJ - campus Maracanã.
Aconteceu na UERJ por esta constituir espaço de
defesa do ensino público, gratuito, de qualidade e de luta contra o
sucateamento praticado pela política educacional do governo. A UERJ resiste!
Foram homenageadas e homenageados:
- Comandante Paulo Mello Bastos – sindicalista e piloto de avião que
garantiu a entrada de João Goulart no Brasil depois da renúncia de Jânio Quadros,
em 1961. Foi perseguido e cassado pela ditadura. Tem 100 anos de idade.
- Fabiana Braga – presa no Paraná por ser membro do MST, acusada de terrorismo e organização criminosa. A
jovem militante tem 22 anos de idade.
- Mãe Meninazinha (Ilê Omolu Oxum) – Candomblecista que, ao longo de
cinquenta anos, tem resistido bravamente às perseguições e às violências sistemáticas
praticadas pela intolerância religiosa do Estado e do fundamentalismo cristão.
- Ana Maria Tellechea – promotora do Uruguai que investigou
assassinatos de presos(as) políticos(as) levando à responsabilização de agentes
da ditadura uruguaia.
- Ilma e Rômulo Noronha – presos políticos durante a ditadura,
guerrilheiros da Ação Libertadora Nacional (ALN).
- Cosme Alves Neto (in memoriam)
– preso político durante a ditadura. Transformou a Cinemateca do Museu de Arte
Moderna do Rio de Janeiro em espaço de resistência contra a ditadura. Foi
programador do Cinema Paissandu.
- Jaime Petit (in memoriam)
– desaparecido em 1973, juntamente com seus dois irmãos (Lúcio e Maria Lúcia), na
Guerrilha do Araguaia. Era militante do PCdoB.
- José Barreto (Zequinha -
in memoriam) – militou na Vanguarda
Popular Revolucionária (VPR) e no Movimento Revolucionário 8 de outubro (MR-8).
Foi executado pela ditadura em 1971, juntamente com Carlos Lamarca, em Brotas
de Macaúbas/Bahia.
- Ocupação Manuel Congo – ocupação organizada pelo Movimento Nacional
de Luta pela Moradia (MNLM). Existe e resiste há 11 anos no centro do Rio
Janeiro.
- Rute Fiúza – grande lutadora, mãe de David Fiúza, adolescente de 16
anos morto e desaparecido no Bairro São Cristóvão, em Salvador/BA. Antes do seu
desaparecimento em 2014, foi violentamente abordado por policiais militares da
PETO (Pelotão de Emprego Tático Operacional) e da RONDESP (Rondas Especiais). Policiais militares amarraram as mãos e os pés
de David Fiúza, o encapuzaram e depois o jogaram no porta-malas de um carro descaracterizado.
Rute Fiúza tem sido ameaçada.
- Milagro Sala – indígena, líder comunitária e presa política da
Argentina. Encontra-se encarcerada desde janeiro de 2016. É uma dos(as) sete
presos(as) políticos(as) do governo Macri – dos sete presos(as) políticos(as),
cinco são mulheres.
- Casa Nem – acolhimento e apoio a transexuais, travestis e
transgêneros em situação de rua – espaço de sobrevivência, luta e resistência das
comunidades LGBTQIs. A casa é reconhecida também por ter um projeto de curso comunitário,
o PreparaNem, que tem aprovado seus(as)
participantes trans no ENEM.
Nesta 30º edição da medalha estiveram
presentes estudantes, trabalhadores(as), moradores(as) de ocupações, periferias
e favelas, familiares de mortos(as) e desaparecidos(as) políticos(as), ex-presos(as)
políticos(as), organizações comunitárias, entidades de direitos humanos,
sindicatos e organizações políticas de esquerda. Foi feita homenagem especial
para Marielle e Anderson – executados no dia 14/03/2018. Foi rememorado o trigésimo
ano da execução de Chico Mendes (1944 – 1988) – seringueiro, ambientalista,
sindicalista e militante que combateu o latifúndio/agronegócio.
Em tempo, em 1995, Dona Helena Greco
(1916 - 2011) - uma das fundadoras do Movimento Feminino pela Anistia (MFPA/MG),
do Comitê Brasileiro pela Anistia (CBA/MG) e do Movimento Tortura Nunca Mais/MG
- teve a honra de receber a 7ª Medalha Chico Mendes de Resistência.
Neste ano, nós do Instituto Helena Greco
de Direitos Humanos e Cidadania, Belo Horizonte/MG, fomos convidados pelo Grupo
Tortura Nunca Mais – RJ para compor o coletivo de entidades parceiras na
realização da entrega da Medalha Chico Mendes de Resistência. Agradecemos às
companheiras e companheiros pelo convite, o qual aceitamos com muita honra.
Pelo
direito à História, à Memória, à Verdade e à Justiça!
Abaixo o terrorismo de
Estado e do Capital!
Cosme Alves Neto: presente!
Jaime Petit: presente!
José Barreto (Zequinha): presente!
David Fiúza: presente!
Marielle: presente!
Anderson: presente!
Chico Mendes: presente!
Hoje
e sempre!
Belo
Horizonte, 05 de abril de 2018
Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e
Cidadania
Fotos/Arquivo: Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania.
- Pedimos desculpas às companheiras e companheiros pela má resolução de algumas fotos.