Sociedade
CORONAVÍRUS
Entrevista com Dirceu Greco, médico e
professor da UFMG, sobre a pandemia do coronavírus
Flavia
Valle, professora e editora do Esquerda Diário, entrevistou Dirceu Greco,
médico e professor emérito da UFMG, sobre a pandemia de coronavírus no Brasil,
que afirmou a importância do isolamento social e da prevenção, dos testes
massivos, os perigos da subnotificação, e criticou a postura do governo
Bolsonaro e do ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta. Além disso, discutiram
medidas de prevenção para a saúde dos trabalhadores e da população vulnerável
socialmente, a defesa do SUS, formas de financiamento da saúde pública, entre
outros.
Redação
sábado
11 de abril| Edição do dia
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Foto: IEA/USP. |
Abaixo fazemos um breve
resumo das perguntas e respostas, e ao final disponibilizamos o vídeo completo.
Dirceu Greco é doutor em Medicina Tropical (UFMG), especialista em
Imunologia Clínica pela Universidade Estadual de Nova York (Buffalo) e pela
Universidade de Londres. Atualmente leciona em Disciplina de Bioética na
Pós-graduação (Programa de Pós Graduação em Ciência da Saúde: Infectologia e
Medicina Tropical-FMUFMG). É presidente da Sociedade Brasileira de Bioética
(SBB). Atua na área de medicina, com ênfase em doenças infecciosas e
parasitárias, imunologia clinica e ética.
Flavia Valle: É praticamente um consenso entre os especialistas a
necessidade da testagem massiva em relação à COVID-19, como forma de prevenção,
no sentido de que a quarentena possa ser melhor organizada e o tratamento possa
ser melhor pensado e melhor racionalizado, e a gente vê que essa medida não
está sendo efetivada no Brasil. Queria que você comentasse qual a importância
da testagem massiva na luta contra a COVID-19.
Dirceu Greco: A primeira é que nesse momento a epidemia começa a se
expandir. Hoje (07) teve um caso uma cidade de 5.000 habitantes em Minas
Gerais. Isso mostra muita coisa. Primeiro que a epidemia como essa que se
reproduz pelo ar, ela tem chance de chegar para todo lado. É o que a gente
chama de espalhamento centrífugo, do centro para a periferia. Já chegou em São
Paulo, chegando por gente rica chegando de avião, se espalha pela cidade, passa
para o Rio de Janeiro, Minas e agora tem pra todo lugar. Já está em Minas. Eu
não vi o de hoje, você está com o boletim de hoje?
Flava Valle: Os dados de ontem (06), foram: 47.715 casos suspeitos, 525
confirmados, 119 óbitos em investigação e 09 confirmados.
Dirceu Greco: É, aumentou um pouco o número de óbitos e o de suspeitos,
como é o esperado. Realmente essa epidemia tem características que tem que
serem feitos os diagnósticos pra preparar respostas. No momento, e vale a pena
repetir isso, desse espalhamento, essa epidemia tem uma característica muito
diferente das anteriores, porque é um vírus que aparentemente salta de um
animal para outro animal, que é o homem. Então não há uma resposta imunológica
nem parecida montada. Então a chance de infectar muita gente é importante.
Então se vai infectar todo mundo por que quarentena? Tem várias razões. No
início de um processo novo, os conhecimentos, até de como tratar os mais
graves, estão evoluindo. Quer dizer, as pessoas hoje estão sendo tratadas nos
CTIs de maneira melhor, de maneira mais intensiva do que no começo da epidemia,
quando ela atingiu a China e, principalmente, quando atingiu a Itália. Então
quanto mais tempo levar para você correr risco de ser infectado, melhor é.
[...] Segundo, que existe a possibilidade de aparecer um tratamento, não
obrigatoriamente de cura, mas que alivie essa doença. [...] Há uma porção de
notícias falsas sobre a cloroquina, que ela resolveria, que funcionou em uma
porção de gente, mas na verdade nós só vamos saber disso corretamente com os
trabalhos que a gente chama de ‘ensaios clínicos’, que são os estudos com as
populações, em que você usa grupos bem controlados, em que para metade você dá
o remédio e para a outra metade você acompanha como acompanharia antes pra você
ver a evolução. Porque o risco grande, quando a pessoa melhorar espontaneamente
ao tomar o medicamento, ela vai achar que o medicamento funcionou e isso pode
trazer problemas sérios, inclusive efeitos colaterais e não tem nenhum sentido.
Então essa é a segunda parte importante de você ficar mais isolado. [...] O
terceiro, vai ser mais longo, que é: vacinas estão sendo preparadas. Mas não
vai ser agora. Os otimistas dizem que talvez em doze meses vai ter alguma coisa
que seja inicial. Então além da testagem, que você falou muito bem, mas vou
deixar para depois para saber o que a gente pode fazer para prevenção nesse
momento, a prevenção solicitada em países mais draconianos com mais
intensidade, a Itália fechou tudo, a Espanha fechou tudo, a China na época
fechou uma região de 60 milhões de habitantes. Era fechar mesmo, ninguém saía
de casa. Na Itália e na Espanha só sai com autorização. Ou seja, medidas
completamente intensas. No Brasil não, foi o auto confinamento. Que se pensar,
seria o melhor, ou seja, eu sei do risco, eu sou capaz de ver então eu fico em
casa pois acredito no que você está me dizendo. Esse seria o ideal. Que na
verdade é muito complicado. Aqui próximo de casa, por exemplo, não parou. O
fator do risco ainda não chegou para as pessoas. [...] E aí podemos falar de
uma das razões óbvias. As pessoas que estão controlando o país, que nem sei se
estão controlando mais, mas o presidente da república falou idiotices
irresponsáveis [...] de só isolar as pessoas mais velhas e o resto pode andar,
se não a economia vai parar. Tudo isso trouxe malefícios [...] Por enquanto é
melhor ficar em casa, mais afastado possível de aglomerações, se tiver que
sair, sair com todo o cuidado”.
E sobre os testes, Dirceu Greco afirmou:
do ponto vista que a gente chama epidemiológico [testes massivos] são
importantes porque com o correr do tempo da epidemia, quando você tiver teste
que possa mostrar que a pessoa já teve o contato e estruturou uma resposta
imunológica robusta, aquela pessoa, pelo menos até que se prove o contrário,
está imune ao vírus, e teoricamente essa pessoa poderia ter muito mais
liberalidade para fazer as coisas que são necessárias. Evidentemente, nesse
momento o mais importante de tudo é testar quem está na frente. Quem está na
frente? Começamos pelo profissional de saúde. Não vou nomear, porque vou
esquecer pessoas. Mas todos, todos são importantes. Os profissionais que têm o
conhecimento até aqueles que trabalham no local onde aquilo está acontecendo.
Todos devem ser testados. Os protege e, além de tudo, se está imune faz a
pessoa ficar muito mais tranquila para trabalhar de maneira correta. Depois
testar as pessoas que têm contato conosco. Você falou que tem muita gente na
rua e eu também vejo, mas tem pessoas que estão trabalhando. E um grupo que é
importante pra nós em relação à direita, que são esses que eles chamam de
microempreendedores individuais, o que é uma maldade, esses moços de bicicleta
e motocicleta, carregando pacotes atrás. E que dizem que ‘não é desempregado,
não, é microempreendedor’. Esse povo não tem a menor segurança e estão se
expondo. Então seria interessante que essa população, quando pudermos ter
testes, fazer. As chamadas forças de segurança (que até arrepiei aqui) também,
porque eles também estão nas ruas. Então nesse momento atual tem-se dito que os
testes vão começar a ficar mais disponíveis, felizmente! Vou até desviar um
pouco mas uma parte desses testes estão sendo produzidos, onde? No SUS, claro.
Então é hora de reforçar a importância desse sistema tem, o Osvaldo Cruz, a
Funed aqui em Belo Horizonte.
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Imagem da entrevista. |
Flavia Valle: Um tema que tem surgido bastante, em relação ao problema de
não haver a testagem, é relacionado à subnotificação, porque os dados de Minas
estão bastante preocupantes e que parece ser o governo escondendo,
subnotificando, a grande mídia de alguma maneira sendo conivente com isso, e
sem testagem a gente não vai saber a quantidade total de infectados. Queria que
você falasse mais como essa subnotificação pode causar ainda mais dano.
Dirceu Greco: Teve uma fase que esteve pior, que pararam de notificar os
suspeitos; então ficava parecendo que só tinham os 500 que estavam testados e
aqueles que faleceram. Então, era pior ainda, porque você tinha uma falsa
impressão de que as coisas estavam sob controle. A decisão agora de colocar
todos os suspeitos diminuiu um pouco esse processo mas nós não sabemos o real
número. [...] Eu tinha pensado em um projeto e conversei com alguns amigos, e
esse projeto está sendo começado na Universidade Federal de Pelotas, que está
começando testes [de uma maneira que] lembra muito Datafolha e Ibope. Você não
consegue testar todos, você faz amostragem e pega um tanto de cada grupo, mas
acho que esse vai nos dar essa visão mais ampla, apesar de não ser pessoa por
pessoa, por enquanto, para que nós saibamos em que pé que nós estamos,
inclusive o número de assintomáticos. Nós vamos fazer, eu acho, 16.000 por vez,
repetindo a cada 4 semanas, pra depois sair de Pelotas...Rio de Janeiro, São
Paulo, e depois vai cair aqui em Minas Gerais.
O planejamento pra você fazer qualquer tipo de medida, necessitará
você saber alguns dados importantes. O primeiro, claro, que é mais simples, é
saber qual é a capacidade instalada de terapia intensiva para atender a
população que pode aparecer. O segundo, é saber como a epidemia está se
alastrando nos locais [...] é uma epidemia que começa nos grandes centros e vai
espalhando. Em cada momento ela vai ser diferente, em cada lugar. Como está em
São Paulo hoje não está em Belo Horizonte [...] Aqui (BH) podemos ter um tempo
um pouco maior de preparação, daí a importância do isolamento, para mitigar
esse espalhamento. Lembra muito quando a epidemia da AIDS começou a se espalhar
pelo país. Foi exatamente assim. São Paulo, Rio, capitais, e agora em todo
lugar tem casos. E o coronavírus vai ser igual. Agora, voltando aos testes, que
são importantíssimos, vamos falar do lado médico: é preciso ter diagnóstico. E
inclusive na China isso aconteceu também. Que as características da infecção
estarão muito bem definidas, aquele que começa com tosse, febre, vai piorando,
tem dificuldade respiratória, então ele vai ser tratado como se fosse
coronavírus, independentemente de ele ter tratamento intensivo, então para esse
aí é, teste é importante depois pra saber se foi mesmo [coronavírus] ou não
foi, faleceu de quê. Mas nesse momento do atendimento ele é possível fazer até
sem estimativa. Agora o que você perguntou, mais importante, que é o que a população
está perguntando, que é isso: ‘eu preciso sair de casa, eu tô em vários
lugares’, trabalhadores que estão na rua [...] então se tiver testes, melhor
[...].
Flavia Valle: Queria que você falasse um pouco sobre a situação dos mais
pobres, um drama social muito profundo. No Brasil são mais de 30 milhões que
não tem água encanada em casa, e uma das recomendações é lavar as mãos, e é um
tipo de serviço não é garantido para uma parcela enorme da população
brasileira. Queria que você falasse mais dessas questões que envolvem
diretamente o processo de desigualdade social do nosso país e o enfrentamento a
essa crise. E também, que comentasse mais da produção e do conhecimento para
atender as demandas da população.
Dirceu
Greco: Neste momento, nós estamos em um processo emergencial. Se é
emergencial, as medidas tomadas têm que ser emergentes. Quer dizer, não dá
agora pra pensar que vai ter esgoto amanhã em todo local, não vai dar pensar
que nós vamos ter direitos que já deveríamos ter há muito agora. Mas tem coisa
que pode ser pra mitigar, nem tem que ser imediato. Eu não sei cadê os 600
reais [...] você ter 600 para dar para as pessoas pode fazer uma diferença
sobre tudo que você está falando. Um país que você falou de 30 milhões sem
esgoto, 40 milhões vivem com menos de 800 reais por mês. Então se entrar com
600 reais pra essa população que já não tinha trabalho – tinha 11 milhões de
desempregados e um tanto de subempregado – você vai mitigar imediatamente um
problema que talvez seja dos mais sérios [...] nesse momento, o único jeito de
resolver é cada lugar desse chegar caminhão pipa...e nós estamos esquecendo da
parte de esgotamento sanitário, que um percentual grande não tem. Mas tudo isso
está dentro de um problema em que nós não chegamos, porque não atingiu essa
população ainda, não sabemos o que vai acontecer, mas não importa [...]. Nós
estamos num momento ótimo pra intervir antes que as coisas aconteçam piores do
que já estão acontecendo. Temos que lutar cada um de nós para liberar primeiro
o dinheiro para essas pessoas para inclusive ser possível eles ficarem em casa,
porque se não não tem nem o que comer – esse argumento está sendo usado pelo
indivíduo que está na presidência da república [...] – mas eles não têm que
sair não [...] pelo menos essa [ajuda], que não é suficiente, mas é o primeiro
passo pra pensar". Então tem o lado da saúde e tem o lado social que é o
de mitigar o risco de exposição dessas pessoas por um vírus que você tem o
contato respiratório.
Flavia Valle: No ano de 2019 o governo Zema garantiu 6,2 bilhões em
isenção de impostos aos empresários. Esse valor, reconvertido para assistência
à saúde, significaria mais de 14 mil leitos, somente para ter uma projeção, já
que poderíamos realocar isso de maneira racional conforme as necessidades. Os
206 maiores bilionários acumulam uma fortuna de mais de 1,2 trilhão; se
taxássemos só em 3% essas fortunas (o que é nada para o tamanho dessas
fortunas) teríamos uma arrecadação de 240 bilhões. Recursos existem, eles não faltam,
mas são monopolizados por poucos capitalistas.
Dirceu Greco: [...] Recursos escassos ou recursos insuficientes? É
completamente diferente [...] Você diz que é recurso insuficiente enquanto esse
povo diz que é recurso escasso. Esse Zema agora aparece toda hora falando que
“o estado está quebrado, vai aumentar o déficit em não sei quanto”, o governo
federal do mesmo modo. Você comentou das fortunas específicas o que é
interessante porque são pessoas, dá até para ter muito mais localização e falar
“olha, vamos taxar”. E ninguém está falando de banco; os bancos têm passado
[...] podemos falar qualquer nome que dá na mesma, 30 bilhões de lucro em um
semestre. Como que pode em uma situação tão grave as pessoas terem tanto lucro?
Outra coisa são essas renúncias fiscais que você mencionou, que tem pra todo
lado e em todo lado dá pra tirar [...] Acrescentando mais um dado [...] que
chama Renda Básica Universal [...] agora, talvez, e eu estou sendo otimista,
esse choque que está tendo agora para as pessoas que sempre sofreram e agora
vai ficar muito mais claro que sofrem e devem ter direitos, quem sabe nessa
saída nós vamos ter aquilo que nós todos esperávamos, que as pessoas se
juntassem para reivindicar os direitos que elas têm. [...] Em 2013 saiu um
artigo interessantíssimo [...] de pesquisadores internacionais [...] “Como a
AIDS mudou a saúde global?” e usando exatamente o mesmo argumento, que quando
teve uma epidemia que matava pessoas, tanto preconceito, tanta coisa, o que se
acumulou lá mudou como as pessoas enfrentam a saúde global. A minha expectativa
agora é que essa epidemia vai mudar a sociedade global. Ela vai ser factível
para que as pessoas realmente tenham esse direito [...] vai ser exatamente para
isso, para transformar essas coisas emergenciais em definitivas: taxação de
grandes fortunas, renda universal [...] e revogação da Emenda Constitucional
95.
Flavia Valle: O SUS já vinha sendo sucateado nos governos do PT. Com o
golpe institucional deixou de ser um sucateamento e passou a ser diretamente uma
destruição do SUS. A gente viu a aprovação da Emenda Constitucional 95 e isso
se deu combinado com a crescente privatização (só no ano de 2017, 231 bilhões
foram gastos com a saúde privada no país). Eu queria que você falasse mais do
fortalecimento do SUS e da possibilidade da estatização de todo o sistema
privado, a ser controlado totalmente pelo SUS, emergencialmente. E também sobre
o Mandetta, que tem sido reivindicado nas últimas semanas como se fosse o
paladino da reivindicação do SUS, aparecendo com o colete, sendo que a gente
sabe o papel que ele cumpriu pela privatização do sistema de saúde.
Dirceu Greco: [...] [A epidemia] traz à tona que apesar de tudo que
fizeram com o SUS, ainda é o maior sistema público de saúde do mundo, por causa
do tamanho do país; não é nem o melhor não, mas é o maior de todos, se você
pensar na população que usa. Todo mundo usa, mesmo quem tem plano de saúde.
Tudo que complica, o SUS que faz. Vamos começar pelos mais simples. Podemos
começar pelos acidentes de trânsito, que a pessoa vai para um hospital público
[...], tomar vacina é com o programa nacional de imunizações, tratar HIV-AIDS e
hepatite, também está no SUS. A maior parte das coisas complexas e caras. O
capitalismo até gosta disso. Deixa o cara com eles e vamos pegar as pessoas
jovens para serem do plano privado, que não vão dar trabalho, vão só pagar.
Então esse é o primeiro ponto importante. Essa epidemia tem mostrado que sem
esse SUS não teria resposta nenhuma. É o que os americanos estão sofrendo
agora; 70 milhões de pessoas lá não tem acesso a nada, então estão fazendo
várias medidas emergenciais para verem se põem esse pessoal pra receber alguma
coisa. Nós já temos isso.
[...]
Esse ministro não é paladino de nada do bom. Todo o paladino dele é do passado
ruim [...] Um levantamento do Conselho Nacional de Saúde é que nos 2 anos e
meio da emenda [constitucional 95], 22 bilhões foram tirados do SUS. Que dizer,
se ele [Mandetta] está dando 5 bilhões ele não está dando nada, está repondo um
pedaço pequeno.
[...]
Sobre a privatização [...] tem uma saída melhor, mais prática e talvez mais
imediata, que é colocar sob a responsabilidade do SUS todo o processo de
decisão de internamento nos CTIs do país [...] estão tentando fazer isso
aparentemente porque parece que é a única solução, a chamada “regulação do
sistema” estar na mão do SUS. E aí está na hora de a gente pressionar mais – e
o Conselho Nacional de Saúde está fazendo isso – para que a regulação seja
desse jeito: regula todo mundo, onde tem vaga a pessoa vai, independentemente
de você estar entre os 40 milhões de pessoas que têm plano de saúde. Acho que
isso também serve, porque se isso é possível fazer agora, você pode dizer
“porque que vai acabar quando acabar essa epidemia?”, então é o segundo passo
de um processo que quem sabe no correr do tempo vamos conseguir ter uma
estrutura pública. E outra coisa que fizeram uma mudança brutal também esses
bandidos, agora piores do que todos, governando esse país, que é a história do
‘Estado mínimo’, claro que eles tiveram que voltar atrás, né? Impossível.
Agora, de repente, vão ser todos paladinos. Vai virar o Guedes e dizer “não, eu
defendi isso a vida inteira”, como o Mandetta agora fica parecendo que ele é a
última Coca Cola do deserto. Não é verdade [...]
Flavia Valle: Claro, essa medida de colocar sob controle do SUS todo
sistema privado seria emergencial e inclusive uma medida para poder colocar à
frente os trabalhadores e especialistas que são os que realmente entendem e
cuidam da saúde da população.
Dirceu Greco: Inclusive sobre isso tem um estudo, que está sendo feito com
outras estruturas [...] um grupo muito coeso trabalhando e fazendo o que é
possível fazer e ajudando o Conselho Nacional de Saúde nesse sentido [...] e
tem mais um ponto que é importante falar. Ontem (6) o ministro [Mandetta]
naquele negócio esquisito demais, naquela frase dele de que “se eu for mandado
embora a minha gaveta foi esvaziada”. Ele falou um negócio que traz muito
problema. Que alguém que foi trabalhar com ele propôs o uso da hidroxicloroquina
pra todos. Se essa pessoa, o imunologista, trouxer pra mim e mostrar que
funciona eu vou autorizar. Um ponto importantíssimo que não pode ser feito sem
um projeto de pesquisa bem feito, que passe pelo Comitê de Ética Nacional que
pertence ao Comitê Nacional de Saúde. Eles estão tentando também destruir esse
Conselho Nacional de Ética e Pesquisa (Conep). Tem notícias boas que tem um
projeto da OMS que vai testar quatro medicamentos de maneira correta [...] No
Brasil, terá um representante de Belo Horizonte. E tem coisa assustadora por
outro lado. Ontem estava escutando que eles chamaram um infectologista jovem em
São Paulo que disse que teve coronavírus e foi salvo pela hidroxicloroquina.
Que ele disse que tomou por cinco dias e que está curado. Agora pensa um
negócio desse na televisão pública (pública não, desculpa, privada mas de alta
penetração) e vai contra tudo que a gente está falando. Mas é isso. Estamos
juntos e temos que aproveitar esse momento. Estou dando muitas entrevistas, pra
tentar chegar na população e com vocês é claro estarei disponível também sempre
que precisar.
Flavia Valle: E em relação a essas movimentações bem preocupantes que
vimos nas últimas semanas, de uma escalada da intervenção dos militares nas
decisões governamentais, como você esse aumento da intervenção dos militares
frente a todo negacionismo do Bolsonaro?
Dirceu Greco: [..] A situação está tão ruim que muita gente acha que,
talvez, se tivesse uma hierarquia funcionando no governo, melhoraria o país.
Nós chegamos em um ponto tão ruim, que a maior parte das pessoas, que não viveu
a Ditadura Militar, que houve, não viveu o que os militares fizeram, e qual é o
risco de outra vez isso se repetir e de maneira mais sutil, né? Então é
preocupantíssimo. Eu estava na Faculdade de Medicina, terminando medicina,
quando o Ato Institucional número 5 foi promulgado. Tive 5 colegas banidos do
país. Então a situação hoje está tão tensa, e tão intensa [...] então além de
toda preocupação que nós conversamos aqui hoje tem uma preocupação maior
cercando a gente de todo lado, que é cada vez mais, se você olhar todos os
locais onde tem mando hoje nesse governo, tem um militar [...] Inclusive as
conversas de quem está cuidando [do gabinete da crise] que é um militar aqui de
Belo Horizonte [Braga Netto]. Então a preocupação é enorme.
Flavia Valle: Dirceu, muito obrigada. Queria reforçar como você disse que
há os cenários difíceis e preocupantes ao mesmo tempo em que temos os cenários
de saídas radicais. Essa entrevista nos ajuda a ver as saídas que sejam
favoráveis aos trabalhadores e à população e não aos capitalistas.
Dirceu Greco: Muito obrigado por ter convidado. Não sabemos o que pode
acontecer. Essa epidemia está crescendo nesse momento. As respostas são muito
provisórias. Quanto tempo as pessoas vão ficar autoconfinadas...não dá pra
fazer planejamento. Tem que planejar semanalmente, se tem medicamentos; se não
tem então vamos ficar quietos mais tempo; se os auxílios foram pagos, se não
vamos cobrar que soltem. Essas coisas que são positivas não pode ser só da
emergência. Vamos fazer isso tudo para que após epidemia, que vai acabar, que
esses direitos sejam mantidos. Estou disponível. Prazer conversar com vocês,
continuem essa luta!
Veja a entrevista completa no vídeo abaixo:
ENTREVISTA/IMAGENS/FONTE - ACESSE: