Debate na Arena da Fafich na UFMG
"Pela
punição dos torturadores
e abertura dos arquivos da ditadura”:
um debate
necessário entre a esquerda,
uma luta fundamental da juventude!
Por Flávia Vale |
No dia 08 de maio
na, Arena da Fafich, convidados de organizações partidárias e de
direitos humanos de esquerda fizeram um rico resgate histórico da luta
contra a ditadura militar no Brasil desde a perspectiva marxista junto a
presença de 75 pessoas no auge do debate. Todos denunciaram a comissão
da verdade de Dilma e, em distintos níveis, a farsa da transição
democrática pactuada no Brasil que deixou impune os militares, que faz
necessário a punição de todos os militares e civis envolvidos com a
ditadura militar.
A Juventude às Ruas foi uma das organizadoras do evento
junto às organizações políticas representadas na mesa do debate com seus
convidados: Val Lisboa pela Ler-qi, Vanessa Portugal pelo PSTU, Heloísa
Greco (Bizoca) pelo IHG, Francisco Neres pelo PCB, Gerson Lima pela
Liga Operária e Leovegildo Leal pelo MM5 [1].
Gerson Lima ressaltou a necessidade de uma campanha
nacional pela desmilitarização dos canteiros de obras e a libertação dos
operários da construção civil, presos políticos do governo Dilma.
Val Lisboa ressaltou como a Comissão da Verdade segue a
Lei da Anistia, defendida inclusive por setores da esquerda, esta que
foi a pedra fundamental para a anistia total aos agentes militares e
civis da ditadura e a anistia parcial aos militantes contra a ditadura.
Val seguiu dizendo ser necessário a organização de um amplo movimento
nacional pela punição dos agentes da ditadura e que as entidades
estudantis e sindicais antigovernistas devem ser as primeiras a
impulsionar, junto às organizações de direitos humanos, comissões de
verdade e justiça independente do governo e dos militares.
Francisco Neres, preso político pelo PCB quando jovem
trabalhador em Minas Gerais, resgatou a necessidade da luta por uma
ditadura dos trabalhadores desenvolvendo como tanto na democracia
burguesa quanto numa ditadura burguesa a base de sustentação de seus
regimes é a mais valia explorada dos trabalhadores.
Leovegildo Leal desenvolveu como em seus anos de
militância durante a ditadura nunca lutou pela democracia, mas sim pelo
fim da ditadura militar e pelo socialismo.
Vanessa Portugal iniciou sua fala dizendo que o fim da ditadura foi uma
vitória inconclusa da classe operária e que a partir do início dos anos
1980 existiu um amplo movimento de massas que teria sido a mobilização
central para a derrota do regime militar.
Bizoca foi a última a intervir mostrando como o processo
de redemocratização foi baseado na permanência de um estado
policialesco, Aparato militar que deve ser denunciado como resquício da
ditadura e que a esquerda deve ter um programa que leve à dissolução
deste aparato repressivo.
A impunidade no Brasil, construída em nome da
redemocratização, foi consagrada com a Lei da Anistia como pedra de
toque para seguir resquícios da ditadura presentes na repressão aos
jovens, trabalhadores e negros e foi construída sob as bases de derrotas
e desvios de lutas operárias e estudantis: como a grande luta operária
em Contagem/MG e Osasco/SP em 1968 necessárias de serem derrotadas para
que fosse possível a implementação do AI-5 em 1968; e como o desvio das
grandes greves operárias entre 1979/80 por Lula e sua burocracia
sindical que levaram à frente uma estratégia desgaste do regime
ditatorial para garantir a redemocratização pactuada.
Após as falas de abertura um rico debate se estendeu no
plenário seguido de falas de militantes das organizações políticas
presentes assim como dos militantes do COMPA e estudantes dos cursos.
Bernardo Andrade, estudante da filosofia e militante da Juventude às
Ruas e da Ler-qi, denunciou como a UNE tornou-se um entrave na luta pela
verdade e justiça estando interessada apenas nos salários de seus
diretores, pagos pelo governo, sendo uma correia de transmissão dos
projetos do governo entre os estudantes tendo, em seu último Congresso,
ministros do atual governo como porta vozes da defesa da comissão da
verdade de Dilma.
Os debatedores seguiram o debate com uma rica discussão
sobre as distintas políticas e estratégias para a derrubada da ditadura
no Brasil o que envolve lições para a luta atual contra os resquícios da
ditadura na atual democracia burguesa e sua base de opressão e
exploração.
Se por um lado Vanessa Portugal reafirmou haver uma
vitória inconclusa da classe operária contra a ditadura com a queda do
regime militar e instalação da democracia burguesa a partir da ação do
movimento operário e de massas, Gerson Lima, por outro lado, sustentou a
atualidade da estratégia guerrilheira.
Val Lisboa partiu de saudar o alto nível político do
debate que entrou em discussões estratégicas necessárias de serem
debatidas não apenas pela esquerda, mas por todos os jovens e
trabalhadores que se colocam a perspectiva militante. Colocou os limites
da estratégia da guerrilha que predominou nas direções do movimento
estudantil da época como o PCdoB e que levou ao distanciamento dos
estudantes e quadros operários em relação ao movimento de massas ao
negar uma política que buscasse ajudar o proletariado a alcançar sua
independência política forjando uma aliança operário e popular para a
derrubada da ditadura militar pelas massas e seus organismos de frente
única.
Se a estratégia da guerrilha não poderia ser uma
resposta do movimento de massas contra a ditadura, a análise que diz que
a derrubada da ditadura para a existência de um regime democrático
burguês foi uma vitória da classe operária, mesmo que inconclusa, tende a
embelezar uma transição pactuada moldada pelas direções sindicais da
época junto com a Igreja e setores da burguesia. A transição se deu às
custas de desvios das greves operárias e das lutas estudantis em nome de
uma estratégia de redemocratização “pelo voto” da qual Lula foi figura
chave para garantir uma democracia degradada, arquitetada para
restringir a atuação operária e popular com a não anistia aos presos
políticos, torturados e mortos, a consolidação de um regime eleitoral
antioperário, na intensificação da precarização do trabalho, nos altos
índices de violência policial e na não punição de nenhum torturador ou
militar.
Ao contrário destas visões acreditamos que apenas a
classe operária atuando como sujeito independente, a partir da sua
organização em organismos de frente única que poderiam se desenvolver em
organismos soviéticos como os conselhos ou comitês de fábricas, apoiada
pelas classes oprimidas é que poderia ser a base para a existência de
uma estratégia para a derrubada do regime ditatorial e de sua classe
dirigente: a burguesia e sua inserção no movimento operário e estudantil
por via da burocracia sindical. Estas poderiam ter sido as bases da
construção de um verdadeiro partido revolucionário de vanguarda no
Brasil que tivesse a estratégia da derrubada da ditadura para a
existência de uma ditadura operária baseada na mais ampla democracia
soviética, a única que poderia garantir as demandas democráticas mínimas
das massas assim como levar à frente a luta por igual trabalho e igual
salário, um salário mínimo digno, a reforma agrária radical, o não
pagamento da dívida interna e externa assim como a ocupação de fábricas
visando a expropriação sob controle operário.
As divergências abertas foram parte do rico debate
aberto, uma pequena iniciativa visto a necessidade de uma ampla
mobilização social pela punição de todos os militares e civis envolvidos
com a ditadura militar que deve ser impulsionada com independência do
governo e dirigida pelas organizações de direitos humanos, populares,
estudantis e de trabalhadores.
[1]
O debate ocorreu uma semana após um ato em frente única convocado pelas
mesmas organizações políticas que mudou simbolicamente o nome da rua
Luiz Soares da Rocha, este que foi superintendente da polícia civil de
MG entre 1969 e 1970 e atuou como chefe da equipe de tortura da
delegacia de furtos e roubos, um dos principais centros de tortura da
ditadura militar em Belo Horizonte. TEXTO DE FLÁVIA VALE - MILITANTE DA LER - QI
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