quinta-feira, 23 de junho de 2016

NOTÍCIA SOBRE O ATO PÚBLICO CENTENÁRIO HELENA GRECO


Imagem: instalação Urgências do presente de Alice Costa Souza. Foto: Sávio Leite.

 NOTÍCIA SOBRE O ATO CENTENÁRIO HELENA GRECO 
 E REPÚDIO ÀS PROVOCAÇÕES FASCISTAS 
 DIANTE DO NOME DO VIADUTO D. HELENA GRECO 

Aconteceu no sábado, dia 18 de junho de 2016, embaixo do Viaduto Dona Helena Greco, o Ato Centenário Helena Greco (1916 - 2016). Foi um ato público de militância em tributo aos mortos e desaparecidos políticos da ditadura (1964 – 1985). Foi realizado pelo Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania, com o apoio da Frente Independente pela Memória, Verdade e Justiça de Minas Gerais (FIMVJ/MG) e com a parceria da atriz Idylla Silmarovi e do cineasta Sávio Leite. 
Houve debates, microfone aberto para militantes e movimentos sociais, lançamento de documentário, apresentação teatral, apresentação musical, discotecagem, instalação de arte e várias intervenções no viaduto.
A seguinte programação se estendeu de 16h00 às 21h30:

·         Painéis seguidos de microfone aberto com a participação de Cecília Coimbra (presa política durante a ditadura e membro do Grupo Tortura Nunca Mais/RJ), Diva Moreira (militante histórica do movimento negro, participou da luta contra a ditadura e do Movimento Feminino pela Anistia/MG), Amelinha Teles (presa política durante a ditadura, membro da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, da União de Mulheres de São Paulo e das Promotoras Legais Populares), Vicente Gonçalves (militante histórico do movimento de vilas e favelas, membro da Associação dos Perseguidos Políticos, participou do Comitê Brasileiro de Anistia/MG). Participaram também da mesa Marília Greco (socióloga do Projeto Horizonte, participou do Movimento Feminino pela Anistia e do Comitê Brasileiro de Anistia/MG) e Dirceu Greco (infectologista, professor da UFMG com trajetória de luta contra a AIDS), filhos de Helena Greco;

·         Exibição do documentário Arquivos Imperfeitos (2006) sobre a trajetória de lutas de Helena Greco.
·         Lançamento do documentário Desarquivando o Brasil (2016) – registro da coleta de material genético de familiares de desaparecidos políticos para efeito de identificação de ossadas.  Tal coleta teve lugar no Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania, em 7 de maio de 2007. Ambos os documentários são de Sávio Leite, que estava presente no ato;
·         Apresentação teatral Experimento 1: Mostra Guerrilha, solo de Idylla Silmarovi, direção de Raquel Castro e direção musical de Cláudia Manzo. Trata-se de apresentação feminista em homenagem às guerrilheiras.
·         Instalação Urgências do presente de Alice Costa Souza, que esteva presente no ato. A instalação presta homenagem aos mortos e desaparecidos políticos e traz a inscrição 1964 NUNCA MAIS!;
·         Apresentação musical (MPB de protesto e músicas próprias) – voz e violão de Ênio Poeta;
·         Discotecagem revolucionária – DJ Guerrilha e DJ Confusa.
São objetivos deste ato público Centenário Helena Greco:
• prestar homenagem aos mortos e desaparecidos políticos da ditadura e a todas as vítimas do aparato repressivo nos dias de hoje;
• resgatar a memória da luta contra a ditadura, a luta pelos direitos humanos e a trajetória de Helena Greco;
• debater e repudiar o terrorismo de Estado e do capital;
• garantir a identificação do Viaduto, já que não existe no local e no entorno nenhuma visualização física do seu nome;
• propor a consolidação do viaduto como lugar de memória para que todas e todos – movimentos, entidades, indivíduos e militância – façam intervenções/ocupações permanentes neste espaço.
Compareceram e participaram do ato militantes dos movimentos sociais, sindicalistas, membros de organizações políticas de esquerda, população de rua, trabalhadores(as), estudantes, punks, presos políticos durante a ditadura, familiares de mortos e desparecidos políticos, companheiros(as) de luta de Helena Greco. O Comitê Mineiro de Apoio às Causas Indígenas e a Aldeia Umuarama fizeram expressiva denúncia e veemente repúdio do genocídio dos povos indígenas ao longo da história e na atualidade. Fizeram também intervenções no viaduto.
Este foi um ato de democracia direta realizado no chão da rua de forma absolutamente autogestionária, autônoma e independente com relação ao Estado, governos e empresas. Agradecemos a todas e todos que participaram do ato e tornaram possível a sua realização.
Até 2014, o viaduto tinha o nome de Castelo Branco, primeiro ditador imposto pelo golpe militar de 1964. Há dois anos, no dia 1º de abril de 2014 – 50 anos do golpe – foi feita a renomeação popular do viaduto, que passou a se chamar Dona Helena Greco. Neste dia foi realizado o seguinte ato público: “Manifestação em repúdio ao golpe de 1964 – 50 anos! Abaixo a ditadura!”. Este foi convocado pela Frente Independente pela Memória, Verdade e Justiça de Minas Gerais (FIMVJ/MG), da qual o Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania participa. Foi feito tributo aos mortos e desaparecidos políticos. Foi exigida a mudança do nome do Viaduto para Dona Helena Greco. Houve intervenções com faixas, cartazes, banners e um expressivo silhuetaço. Depois de muita pressão, o nome Viaduto Dona Helena Greco foi oficializado no dia 02/05/2014. Até hoje, no entanto, ele não foi identificado com a instalação de placas indicando o seu nome.
         A extrema direita nunca se conformou com a substituição popular do nome de um ditador sanguinário pelo nome de uma militante da luta contra a ditadura e da luta pelos direitos humanos.   No mesmo dia do Ato Público Centenário Helena Greco pela manhã - antes, portanto, do nosso ato -  certo  grupo fascista autodenominado Direita Minas fez provocação pesada.  Seus membros – muitos deles agentes da repressão – distribuíram, no Viaduto Dona Helena Greco, canhestro folheto que destila o mais rebaixado anticomunismo em defesa da Marcha da Família com Deus (19/03/1964) e da ditadura militar. O folheto ostenta o retrato do ditador marechal Castelo Branco.  Tal grupo é entusiasta de todas as iniquidades do terrorismo de Estado e do capital de ontem e de hoje.  Ele defende abertamente crimes contra a humanidade fazendo apologia da tortura e de torturadores; é adepto do machismo, da cultura do estupro, da LGBTfobia.  Combate com ferocidade todas as conquistas e princípios programáticos do movimento feminista, das comunidades LGBTs, das causas indígenas, do movimento negro e dos quilombolas.  Defende fortemente a redução da maioridade penal. Apregoa o aprofundamento da repressão e guerra generalizada contra os pobres, da criminalização das lutas dos(as) trabalhadores(as) e dos movimentos sociais.   
Os adeptos do Direita Minas portavam com orgulho camisetas do deputado Jair Bolsonaro (PSC/RJ), réu no Supremo Tribunal Federal por apologia da cultura do estupro.  O mesmo Bolsonaro – militar da reserva, racista, fascista, machista, LGBTfóbico ao paroxismo - que é membro proeminente da Bancada da Bala no congresso nacional. Ele tem como herói o Cel. Brilhante Ustra, o Dr. Tibiriçá, torturador contumaz condenado pela justiça brasileira em ação declaratória transitada em julgado em 2012, graças à iniciativa de Amelinha Teles e de seus familiares – todos eles presos e torturados por ele no DOI-CODI de São Paulo.  Brilhante Ustra, morto em 2015, foi chefe do DOI-CODI/SP - um dos maiores centros de tortura e extermínio da ditadura militar – nos anos 1970-73, tendo sido responsável por pelo menos 50 casos de assassinatos e 300 casos de torturas naqueles porões.
         Durante o nosso ato público, houve ainda outra agressão isolada: foi arremessado no local, de um carro, um saco cheio de cacos de vidro – não acertaram ninguém, o ato prosseguiu. Mas ficou o recado. Jamais passarão!
         O Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania repudia com veemência este grupo fascista e suas tentativas de impor uma memória e uma narrativa que são aquelas dos repressores, torturadores e assassinos de opositores - a história dos vencedores e da classe dominante. Trata-se da estratégia do esquecimento que herdeiros da ditadura militar insistem em construir.
O espaço físico do Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania também tem sido alvo de provocações de grupos de extrema direita. No ano de 2014, seu muro e seu portão foram pichados várias vezes com dizeres anticomunistas, nazistas, machistas e LGBTfóbicos. Dona Helena Greco sofreu ataques de grupos semelhantes sobretudo durante a ditadura militar. Houve atentado a bomba e tiros contra sua casa. Ela teve a correspondência violada, recebia ameaças pelo correio e por telefone.  Algumas destas provocações eram anônimas, outras eram assumidas por grupos parapoliciais e paramilitares.
Reiteramos que não aceitamos nem aceitaremos estas provocações. A maneira de combater estas investidas é identificar o Viaduto Dona Helena Greco e consolidá-lo como espaço de resgate da luta contra a ditadura; da luta por memória, verdade e justiça; da luta pelos direitos humanos; da luta pelo fim de todo o aparato repressivo; da luta contra o terrorismo de Estado e do capital. Trata-se da construção de um espaço a ser ocupado para a resistência e a reafirmação das lutas do povo negro, das populações indígenas, das mulheres, da comunidade LGBTs, dos estudantes, dos(as) trabalhadores(as), da população de rua; das ocupações rurais e urbanas; dos movimentos sociais: um lugar de memória onde todas e todos – movimentos, entidades, indivíduos e militância – façam intervenções/ocupações permanentes contra a exploração, a cultura dominante e a opressão.
VIADUTO DONA HELENA GRECO:
OCUPAR E RESISTIR!
nazi/fascistas e coxinhas: NÃO PASSARÃO!

VIADUTO DONA HELENA GRECO: SEMPRE!

Belo Horizonte, 22 de junho de 2016
 INSTITUTO HELENA GRECO DE DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA  (BH/MG) 
Imagem: camisetas da Ocupação Helena Greco, Bairro Zilah Spósito.
Foto/Arquivo: Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania.
Fotos acima/Arquivo: Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania.
Foto: Raquel Castro.
Foto: Jô Miranda.




     
Fotos acima: Sávio Leite.
Fotos acima/Arquivo: Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania.
Fotos acima: Alice Costa Souza.

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