Mortos e desaparecidos políticos da ditadura (1964-1985) |
1º DE ABRIL DE 2017: 53 ANOS DO GOLPE
DE 64 – ABAIXO A DITADURA!
Há 53 anos, um golpe militar, articulado
pela burguesia e pelo imperialismo estadunidense, submergiu o país em sangrenta
ditadura (1964-1985) que durou longos 21 anos. O golpe e a ditadura se
desdobraram em interminável transição (1985-2017) pactuada com as Forças
Armadas e controlada pelas classes dominantes. Os longos 32 anos desta
transição, ainda sem desenlace, têm consolidado cada vez mais a terrível herança
da ditadura militar. Tudo isto em nome da garantia do totalitarismo de mercado,
o chamado neoliberalismo.
Tal herança é estruturante no Estado penal
em vigor, que muitos insistem em chamar Estado
democrático de direito (???): a inimputabilidade dos torturadores e assassinos
de presos políticos; o prosseguimento das graves violações de direitos humanos
e dos crimes contra a humanidade; a questão dos desaparecidos políticos, ainda
sem solução; a interdição de acesso aos arquivos da repressão; a fabricação do
esquecimento e da mentira organizada; a destruição do espaço público e das
conquistas da classe trabalhadora; a privatização e militarização das cidades; a
escalada da exploração e da opressão sem quaisquer limites; a vigência da Lei
de Segurança Nacional; a crescente criminalização dos movimentos sociais; as perseguições
e prisões de manifestantes; a continuidade da tortura, do extermínio e dos
desaparecimentos forçados; a manutenção e o incremento do aparato repressivo.
O Brasil continua no pódio como um dos
campeões mundiais em diversas modalidades: desigualdade social, concentração de
renda e de terras; oligopolização do aparato midiático; corrupção sistêmica;
violência policial; guerra generalizada contra os pobres; encarceramento em massa;
genocídio institucionalizado contra o Povo Negro e contra os povos originários;
chacinas no campo cometidas pelo latifúndio/agronegócio; feminicídio e
extermínio de LGBTs. O grande paradigma da política de Estado é a segurança
pública. Esta conserva o arcabouço da Doutrina de Segurança Nacional da ditadura,
a qual preconiza a necessidade de eliminação dos inimigos internos – as classes
perigosas e torturáveis de sempre. É o que se vê no recrudescimento do
processo de militarização nas favelas e periferias (UPPs). Institui-se, assim,
o mais completo terrorismo de Estado, dos governos e do capital.
A Polícia Militar brasileira é
considerada a que mais mata entre todas as polícias do planeta. No Rio de Janeiro, entre janeiro e fevereiro
deste ano 182 pessoas foram mortas pela PM – 3 por dia, portanto. Os
casos mais recentes dão a medida deste descalabro: a morte de Maria Eduarda da
Conceição, 13 anos, atingida dentro de sua escola por 3 tiros da PM e a
execução a queima roupa, a céu aberto e à luz do dia de dois homens já feridos
e contidos. Tudo aconteceu na última semana em Acari, Rio de Janeiro, sob a responsabilidade
do 41º BPM – regimento notoriamente violento, o qual cometeu 1/5 dos autos de resistência – leia-se:
execuções sumárias – nos dois primeiros meses deste ano. A comunidade de Acari é uma das mais
atingidas pela violência policial: lembremos a luta das Mães de Acari cujos
filhos - 11 jovens (7 menores) - foram chacinados pela PM em 26 de julho de
1990. O inquérito policial foi encerrado
em 2010, ninguém foi indiciado. O crime
prescreveu em 25 de julho do mesmo ano. Diga-se de passagem que crimes contra a
humanidade não são passíveis de prescrição, fiança ou anistia.
Maria Eduarda da Conceição. |
Em janeiro/2017, o prefeito recém-empossado do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB), nomeou o agente da ditadura e torturador Paulo Cesar Amendola para a Secretaria Municipal de Ordem Pública (SEOP). Amendola atuou no DOI-CODI, um dos principais centros de tortura da ditadura. Foi também um dos fundadores do famigerado BOPE.
Ainda em janeiro, ficou escancarada para
o Brasil e o mundo a condição hedionda dos presídios brasileiros. A chamada crise dos presídios dos estados Amazonas,
Rondônia, Rio Grande do Norte, Alagoas e São Paulo deixaram centenas de mortos,
ultrapassando o massacre do Carandiru (02/10/1992), quando 111 presos foram
executados pela PM paulista. Acontece que esta crise se cronificou no Brasil: verdadeiras masmorras/campos de
concentração constituem os depósitos da quarta população carcerária do mundo e
da quinta população carcerária feminina. No pessimamente chamado sistema
socioeducativo, crianças e adolescentes são submetidos às mesmas condições de
superlotação, maus tratos, torturas, tratamentos degradantes. Para agravar mais
ainda tal situação de barbárie, conservadores e parafascistas clamam pela
redução da maioridade penal.
Em março/2017, decisão do juiz Alcir
Luiz Lopes Coelho, da 1ª Vara Federal de Petrópolis/RJ, negou sumariamente ação
penal contra Antônio Waneir Pinheiro Lima pelo sequestro, tortura e estupro da
companheira Inês Etienne Romeu, ex-guerrilheira da Vanguarda Popular
Revolucionária (VPR). Este crime de lesa humanidade foi perpetrado em 1971 na Casa
da Morte, centro clandestino da ditadura militar cujos objetivos precípuos eram
a tortura, o extermínio e o desaparecimento dos corpos dos opositores. Várias
entidades de direitos humanos e movimentos por memória, verdade e justiça
participam, divulgam e recolhem assinaturas para o seguinte abaixo-assinado: “Pelo
afastamento imediato do juiz federal Alcir Luiz Lopes Coelho” - https://www.change.org/p/pelo-afastamento-imediato-do-juiz-federal-alcir-luiz-lopes-coelho?recruiter=142329570&utm_source=share_petition&utm_medium=facebook&utm_campaign=share_for_starters_page&utm_term=des-lg-no_src-no_msg
Ainda em março/2017, o governador de São
Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), nomeou o cel. Nivaldo Cesar Restivo ao posto
mais importante da PM do estado. Ele é um dos PMs denunciados pelo massacre do
Carandiru. O cel. Restivo justifica a ação como “legítima e necessária”. No dia
27 de setembro de 2016, o Tribunal de Justiça (TJ) de São Paulo – em decisão
unânime dos desembargadores Ivan Sartori, Camilo Léllis e Edson Brandão – anulou
os julgamentos que condenaram pelo massacre 74 militares a penas entre 48 e 624
anos de prisão. Ninguém foi punido. Cabe
recurso ao Superior Tribunal de Justiça (STJ).
O poder judiciário, assim, continua
impávido em seu proverbial reacionarismo, como serviçal dos governos e do capital,
assim como o legislativo. Este é o reino da inépcia e do obscurantismo político
galvanizado pelas bancadas Boi/Bala/Bíblia/Jaula. Trata-se da composição mais
corrupta, demofóbica, reacionária, patriarcal, racista, machista e LGBTfóbica
desde os tempos da ditadura militar.
O mesmo bloco de classes e de alianças responsável
pelo golpe de 1964 sustenta o governo Michel Temer/Henrique Meirelles (PMDB/DEM/PSDB/PP
e outros) - bloco que, de resto, com algumas variações
partidárias, também compunha os governos anteriores: donos das
finanças, das indústrias, das mineradoras, das empreiteiras, dos latifúndios,
dos oligopólios midiáticos somados aos fundamentalismos cristãos e a protofascistas
de quatro costados, saudosistas da ditadura militar. O governo Temer/Meirelles foi
alçado
ao poder por obra do golpe parlamentar de 2016 promovido pelo Estado penal em
vigor (mal chamado Estado democrático de
direito), articulado pela direita institucionalizada. Este processo tem
levado ao paroxismo processo continuado de fascistização, matéria de longa
duração no Brasil.
São objetivos declarados deste governo
espúrio: a destruição de todas as conquistas e direitos da classe trabalhadora;
o avanço contra os direitos dos povos originários; a ofensiva contra a luta
feminista e LGBTs. A partir daí, processa-se o mais nefasto desmonte das já
péssimas políticas públicas de educação, saúde, moradia e seguridade social. É
este o sentido do projeto criminoso de terceirização/precarização recém promulgado
e das chamadas reformas do ensino médio, trabalhista e previdenciária. Resultados
imediatos: arrocho salarial ilimitado, aumento da pauperização e
miserabilidade, aprofundamento do obscurantismo, índice insuportável de
desemprego. O próximo passo pode ser a reedição da escravidão pura e simples.
Aos 53 anos do golpe militar é preciso,
portanto, resgatar a radicalidade e o potencial revolucionário das companheiras
e dos companheiros que tombaram ao combater a ditadura e lutar por uma
sociedade sem exploração e opressão. Trata-se de luta contra-hegemônica, de caráter anticapitalista por
excelência.
Abaixo o terrorismo de Estado, dos
governos e do capital.
Pelo fim de todo aparato repressivo!
Pelo direito à história, à memória, à
verdade e à justiça!
Belo
Horizonte, 01 de abril de 2017
Instituto Helena Greco de Direitos Humanos
e Cidadania
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ResponderExcluirAbaixo a ditadura!"? A ditadura já acabou faz tempo. Por que não fazem sobre ditaduras vigentes?
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