sexta-feira, 23 de julho de 2021

NÃO À CRIMINALIZAÇÃO DA AÇÃO DIRETA E DOS PROTESTOS! PELO FIM DOS PROCESSOS E PELA LIBERDADE DAS/OS PRESAS/OS!

        No dia 3 de Julho, em São Paulo, na grande manifestação nacional FORA BOLSONARO, MOURÃO E MILITARES houve violência policial com investidas da tropa de choque da PM de João Dória (PSDB) contra os manifestantes, reforçada pelos seguranças do metrô. O tatuador Matheus Machado, 25 anos, foi preso – juntamente com mais três manifestantes. Estes três últimos foram soltos no domingo (4 de julho), depois de passar por violências e maus tratos da repressão. Matheus continuou preso até o dia 13 de julho, sob a falsa acusação de haver agredido e furtado o capacete de um segurança. Há provas testemunhais e materiais que isto não aconteceu – mesmo assim ele responde a processo. Na manifestação do dia 3 de julho houve violência policial também no Rio de Janeiro.

 Outro manifestante, Rodrigo Pilha, foi levado preso no dia 18 de março, para a Papuda/DF, por portar faixa com a inscrição Bolsonaro genocida. Durante o período em que ficou detido, sofreu torturas e maus tratos – tratamentos rotineiros naquele presídio e no conjunto do sistema carcerário do país. Pilha só foi solto no dia 10 de julho, depois de iniciar uma greve de fome. Também há processo aberto contra ele.

No dia 14 de maio, a Polícia Militar do governador cel. Marcos Rocha (ex-PSC, ex-PSL e agora sem partido), bolsonarista raiz – sempre a serviço do latifúndio/agronegócio - invadiu o Acampamento Manoel Ribeiro, em Rondônia. Atacou ferozmente o acampamento da Liga dos Camponeses Pobres(LCP) e prendeu ilegalmente quatro moradores: Ezequiel, Luís Carlos, Estefane e Ricardo, que continuam presos até hoje.  

     As prisões de Matheus, Pilha, Ezequiel, Luís Carlos, Estefane e Ricardo se inserem no aprofundamento da ofensiva do Estado em reprimir violentamente as lutas, os movimentos sociais, o dissenso e todas as pessoas consideradas indesejáveis pelo hipermilitarizado governo genocida Bolsonaro/Mourão.

Estas prisões se inserem sobretudo na consolidação da velha narrativa  reacionária de criminalizar ações diretas, autônomas, combativas, Antifascistas e Anticapitalistas as quais – reiteramos - consideramos legítimas contra a necropolítica em vigor: o genocídio sanitário que já causou mais 547 mil mortes; as centenas de enquadramentos de opositores do bolsonarismo na Lei de Segurança Nacional – legado infame da ditadura militar; o aumento exponencial da letalidade e da violência policial; o recrudescimento do encarceramento em massa, do racismo estrutural e do genocídio institucional do Povo Negro e dos Povos Indígenas. Enfim, adoção de graves violações dos Direitos Humanos como política de Estado.

Tal narrativa reacionária – urdida pela institucionalidade e pela mídia corporativa/burguesa – infelizmente é incorporada também pelas esquerdas institucionais. A justificativa é sempre a “preservação da imagem de um protesto pacífico” e da viabilidade de uma ampla aliança – para nós inaceitável - com a direita. O programa desta direita, golpista e ultraneoliberal, é antagônico a tudo que defendemos em nossas lutas e nossas manifestações.

 Repudiamos com veemência qualquer tipo de interlocução das esquerdas institucionais com o aparato repressivo para combinar o formato e o caráter bem comportado das manifestações. Isto ocorreu em São Paulo, na última quarta-feira (21 de julho): houve reunião conjunta das esquerdas institucionais com o PSDB, a Secretaria da Segurança Pública e a PM do Estado de São Paulo. Este tipo de prática centralizadora e aparelhista tem acontecido há anos. Aqui em Belo Horizonte, em 2013 e 2014, as esquerdas institucionais constituíram uma Comissão Sintética com a Polícia Militar, a Policia Civil, a Guarda Municipal e o governo Antônio Anastasia (PSDB) e se comprometeram a garantir a ordem nas manifestações das Jornadas de Junho e Anticopa.

As recentes prisões de Matheus, Pilha, Ezequiel, Luís Carlos, Estefane, Ricardo e dos demais manifestantes, assim como o silenciamento em relação a elas, constituem ataque aberto ao conjunto das lutas da classe trabalhadora e dos movimentos sociais. Não percamos de vista que, há quase exatos sete anos (12 de julho de 2014), na véspera do final da copa do mundo, houve a prisão dos 23 manifestantes do Rio de Janeiro. Estes sofreram torturas, maus tratos, privação de liberdade, retirada dos direitos de manifestação e expressão, restrições ao direito de ir e vir. Em primeira instância foram condenados a sete anos e meio em regime fechado. O processo continua em aberto e subiu recentemente para a segunda instância. Lembremos que há oito anos (14 de julho de 2013), o ajudante de pedreiro Amarildo foi preso, torturado, morto e desaparecido em um contêiner da UPP da Rocinha. Lembremos dos quatro jovens mortos pela PM em Belo Horizonte e na Região Metropolitana durante as Jornadas de Junho de 2013: Douglas Henrique de Oliveira Souza, Luiz Felipe Aniceto de Almeida, Luís Estrela e Lucas Daniel Alcântara Lima. E ainda, em 20 de junho de 2013, no Rio de Janeiro: o catador de materiais recicláveis Rafael Braga – que sequer participava das manifestações – foi preso e veio a ser o único condenado com trânsito em julgado nos processos das Jornadas de Junho. As penas a ele impingidas foram absurdas.  Negro, periférico, pobre - portanto indesejável e torturável - tornou-se a expressão mais escancarada do racismo e da seletividade estruturais e sistêmicos do aparato repressivo/jurídico.

A sensação de evidência destes fatos de 2013-2014 com o que vivemos hoje é muito clara, uma vez que a sanha punitiva deste aparato repressivo/jurídico só aumenta no quadro de escalada do processo de fascistização que assola o país. Daí a necessidade de reforçar e defender a luta independente e combativa da classe trabalhadora e dos movimentos sociais.

#LiberdadeParaMatheus

Todo apoio aos 23 #EuApoioOs23

#LiberdadeParaRodrigoPilha

Liberdade imediata para os camponeses pobres Ezequiel, Luís Carlos, Estefane e Ricardo!

Pelo fim das perseguições, dos processos e das prisões!

Abaixo a criminalização dos blocos autônomos e combativos!

Pela defesa de todas/os da luta Antifa e Anticapitalista!

Pelo desmantelamento do aparato repressivo!

Abaixo o terrorismo de Estado!

Fora o governo militar e genocida Bolsonaro/Mourão!

Fora golpistas e privatistas!

Abaixo o fascismo, o conservadorismo e o neoliberalismo!

Belo Horizonte, 23 de julho de 2021

Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania – BH/MG


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