segunda-feira, 23 de agosto de 2021

TRIBUTO AO COMPANHEIRO MANOEL DA CONCEIÇÃO (24 DE JULHO DE 1935 - 18 DE AGOSTO DE 2021)

        Foi com imensa consternação que recebemos a noticia do falecimento do companheiro Manoel da Conceição em Imperatriz/Maranhão, aos 86 anos, na última quarta-feira, 18 de agosto. Manoel da Conceição é uma das grandes referências da luta contra o latifúndio e do combate à ditadura militar (1964-1985).

        No início da década de 1960 participou do Movimento de Educação de Base (MEB), de Paulo Freire. Foi alfabetizado neste movimento e ajudou a organizar dezenas de escolas de alfabetização na região de Pindaré-Mirim/MA. Em 1963 foi um dos fundadores do Sindicato dos Trabalhadores Rurais do Maranhão, do qual foi o primeiro presidente, sindicato que chegou a ter mais de quatro mil filiados.

        Em 1964, logo depois do golpe, os militares invadiram o sindicato e prenderam mais de 200 trabalhadores. Em 1968, a polícia abriu fogo contra uma das subsedes do sindicato, em Anajá. Manoel da Conceição foi baleado na perna direita. Na prisão não recebeu tratamento e teve a perna amputada. O governador do Maranhão à época era José Sarney (ARENA).

 Manoel da Conceição foi militante da Ação Popular, viajou o Brasil e o mundo. Na China socialista (1969) conheceu a guerra popular de base camponesa, que se tornou uma de suas referências. Ao retornar a Pindaré-Mirim, em 1970, centenas de camponeses foram presos na região. Manoel da Conceição foi sequestrado e preso em janeiro de 1972 pelo DOPS do Maranhão, depois transferido para a Polícia do Exército do Rio de Janeiro, em seguida para o Centro de Informações da Marinha (CENIMAR). Foram sete meses de torturas intensivas inclusive nos órgão genitais, as quais deixaram lesões físicas permanentes. Só foi apresentado à Auditoria Militar em setembro de 1972; condenado, cumpriu três anos de prisão.

Em outubro de 1975 foi novamente sequestrado, preso e barbaramente torturado pelo famigerado DEOPS paulista. Ampla campanha nacional e internacional com a participação de D. Paulo Evaristo Arns, do reverendo Jaime Wright, de movimentos pelos Direitos Humanos e da Anistia Internacional garantiram a sua libertação e seu exílio em Genebra/Suíça. Lá ele se tornou uma das principais vozes de denúncia contra ditadura militar brasileira militando na luta pela Anistia Ampla, Geral e Irrestrita. Participou ativamente da Conferência Internacional pela Anistia e Liberdades Democráticas no Brasil (Roma, Itália, 28 a 30 de junho de 1979).

Voltou ao Brasil em 1979, logo depois da lei de anistia parcial e continuou na luta contra a ditadura e se organizando pela classe trabalhadora - teve importante papel na construção das oposições sindicais.  A partir da década de 1990, seguiu firme na sua luta permanente contra o latifúndio/agronegócio ao participar da construção de várias entidades e organismos como: o Centro Nacional de Apoio às Populações Tradicionais (CNPT); a Reserva Extrativista do Ciriaco; a Rede Frutos do Cerrado em vários municípios do Maranhão; cooperativas de pequenos produtores rurais no sul do Maranhão; a União Nacional de Cooperativas da Agricultura Familiar de Economia Solidária (Unicafes); a Central de Cooperativas do Maranhão.

        O companheiro Manoel da Conceição dedicou sua vida à luta contra a exploração e opressão: é, com certeza, um dos imprescindíveis, no sentido brechtiano. Nosso forte abraço de solidariedade aos seus familiares e companheiras/os. Ele estará sempre presente nas nossas lutas!

COMPANHEIRO MANOEL DA CONCEIÇÃO: 

PRESENTE, HOJE E SEMPRE!

Belo Horizonte, 23 de agosto de 2021

Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania – BH/MG

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