quarta-feira, 19 de abril de 2023

VIVA A BRAVA LUTA DOS POVOS INDÍGENAS! ABAIXO O GENOCÍDIO, O ETNOCÍDIO E O EPISTEMICÍDIO!

No início de 2023, somos confrontados com um cenário de devastação que a revelaram uma situação há muito denunciada pelos Povos Indígenas, pelos Direitos Humanos e movimentos sociais. A política indigenista bolsonarista constituiu-se na proposta de assimilação violenta, no massacre, no extermínio - cópia da ditadura militar (1964-1985). Pautou-se pelo incentivo à invasão e pelo esbulho das terras dos Povos Originários. Houve desfinanciamento sistemático da saúde e da educaçao indígenas. Como na ditadura, os Povos Indígenas foram considerados empecilhos ao desenvolvimento do capitalismo e à segurança nacional.

Ao longo dos quatro anos de governo genocida houve uma escalada da ofensiva contra os Povos Originários. Em 2022, inúmeras situações de violência extrema foram denunciadas. Além das ameaças de despejo e cortes de água e luz, a Aldeia Pataxó Novos Guerreiros (Porto Seguro/Bahia) sofreu a execução de três membros de sua comunidade. No dia 13 de março de 2022, ocorreu o assassinato da jovem liderança Pataxó Vitor Braz, neto da Pajé Japira. Seu assassinato foi seguido pelo do tio, Iris Braz, e do primo, Geferson Novais Santos - filho de Iris. Tal escalada da violência institucional contra os Povos Indígenas foi provocada pela política bolsonarista sistemática de não demarcação de Terras Indígenas. Além da violência policial, das investidas dos pistoleiros a serviço do latifúndio, das empreiteiras e mineradoras, há também a violência do tráfico de drogas e das milícias. Violência esta impulsionada pela indústria predatória e ecocida do turismo local. A presente situação coloca essas comunidades mais vulneráveis para as violências às quais estão expostas historicamente. É isto o que o necroliberalismo tem a oferecer aos Povos Originários: fome, violência, pobreza, doenças, exploração, extermínio.

Em 2023, esta violência não deu trégua. No início do ano, dois jovens Pataxó, Nawir Brito de Jesus (17 anos) e Samuel Cristiano do Amor Divino (25 anos) foram executados por pistoleiros. Desde agosto de 2022, os Pataxó do Sul da Bahia já denunciavam contínuas ameaças de pistoleiros que chegaram a cercar as aldeias Boca da Mata e da Cassiana, as quais buscam a retomada de uma Terra Indígena invadida por fazendeiros. No dia 15 de abril, o Pataxó Hã-Hã-Hãe Daniel Souza (17 anos) foi morto a tiros nas proximidades de sua casa, na Aldeia Selva de Pedra. O principal suspeito desse crime é filho da prefeita do município de Pau Brasil/BA, Bárbara Suzete de Souza (PSD).

Outra comunidade que também sofreu especialmente esta política genocida foi o Povo Guajajara da Terra Indígena Arariboia no município de Amarante/Maranhão. No dia 3 de setembro de 2022, em um ataque de pistoleiros, Janildo Oliveira Guajajara foi assassinado. No mesmo dia, em outra localidade, foi a vez de Jael Carlos Miranda Guajajara. No dia 11 de setembro, Antônio Cafeteiro Sousa Silva Guajajara foi executado com seis tiros. No dia 9 de janeiro de 2023, Benedito Guajajara (18 anos) e Júnior Guajajara (16 anos) foram alvejados na cabeça. Ficaram internados em estado grave. Estes são alguns dos muitos casos ao longo do ano de 2022 e início de 2023.

A situação de desnutrição, adoecimento, intoxicação, envenenamento e contínuas violências vivenciadas pelos Yanomami, escancaradas no início de 2023, revelou as pavorosas consequências da política genocida de Bolsonaro contra os Povos Indígenas. O número é aterrador: 570 crianças morreram por causas evitáveis. Segundo dados do Ministério da Saúde, a desnutrição atinge 50% das crianças Yanomami. Fome, malária, tuberculose, intoxicação por mercúrio são flagelos endêmicos que assolam o Povo Yanomami. Esta situação se agravou ao extremo pelo descaso sistemático do governo Bolsonaro. Mais de 21 pedidos de ajuda direcionados formalmente a ele foram ignorados. Os aproximadamente 28 mil Yanomami viram suas terras invadidas por mais de 20 mil garimpeiros. Todo esse cenário de destruição é fruto do incentivo institucional ao garimpo, à mineração, ao desmatamento em Terras Indígenas, o que é terminantemente proibido pela constituição federal.

Cabe reiterar que o governo Bolsonaro institucionalizou as invasões de Terras Indígenas e o saque de suas riquezas. Em abril de 2020, poucos dias depois do ainda então chamado "Dia do Índio”, o governo genocida publicou a Instrução Normativa n°9 por meio da FUNAI. Esta liberou a certificação de fazendas dentro de Terras Indígenas ainda não homologadas. Tal instrução - ainda não revogada - é responsável pela certificação de mais de 9 mil hectares de fazendas em Terras Indígenas. Sônia Guajajara, ministra dos Povos Indígenas do governo Lula, determinou a revogação da normativa. Até o presente momento, no entanto, a FUNAI não a publicou, o que permite que novas fazendas ocupem Terras Indígenas em processo de homologação.

O novo ministério dos Povos Indígenas é conquista de histórica luta dos Povos Indígenas. Está, contudo, sob grande conflito de interesses. O governo Lula busca conciliar interesses inconciliáveis. A representatividade sem uma real transformação das ações do governo servirá apenas para construir uma imagem falsa e mitigada da realidade. Buscando limpar a imagem negativa que o governo Bolsonaro deixou internacionalmente, o ministério pode ser rebaixado a mera instância representativa, desprovida de capacidade para transformar esta realidade.

Viemos a público repudiar o genocídio, o etnocídio e o epistemicídio que se abate sobre as comunidades indígenas. Forte saudação à combativa e longa luta dos Povos Indígenas. A luta em defesa dos Povos Indígenas e de seus territórios é princípio da luta pelos Direitos Humanos.

PELO FIM DO GENOCÍDIO DOS POVOS INDÍGENAS!

PELA DEMARCAÇÃO IMEDIATA DAS TERRAS INDÍGENAS!

PELO DIREITO À HISTÓRIA, À MEMÓRIA, À VERDADE E À JUSTIÇA!

Belo Horizonte, 19 de abril de 2023

Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania - BH/MG

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