Nota
de repúdio à violência e prisão
sofridas pelos militantes Bizoca e Bruno
sofridas pelos militantes Bizoca e Bruno
O Instituto Helena
Greco de Direitos Humanos e Cidadania/IHG vem a público manifestar o mais
veemente repúdio à violência praticada pela Guarda Municipal de Belo Horizonte
e pela Polícia Militar de Minas Gerais contra dois dos seus militantes. Heloisa Greco (Bizoca) e Bruno A. Soares
foram presos e sofreram espancamentos e tortura, no dia 30 de março de 2014, por
volta da 19h00, na Praça Duque de Caxias, em Santa Tereza.
Vamos aos fatos. Bizoca
e Bruno tiravam fotos do busto de Duque de Caxias, um dos maiores repressores
do século XIX. Lá estava colado um
emblemático flyer (mosquitinho) sobre
a manifestação em repúdio ao golpe de 1964 convocada pela Frente Independente
pela Memória, Verdade e Justiça-MG, da qual o IHG é membro.
Bruno e Bizoca foram, então, abordados
por dois guardas municipais, Jardel Henrique e Itamar Silva. Ambos empunhavam armas de eletrochoques –
chamadas taser - e passaram a ameaçá-los
com truculência. Deram imediatamente voz de prisão acusando os dois de “depredação
de patrimônio público” (?). Jardel Henrique tinha retirado a identificação, o
que é facilitado pelo providencial velcro dos uniformes da Guarda Municipal e
da PM. Após vários empurrões, derrubaram Bizoca. Em seguida, derrubaram Bruno, imobilizaram-no,
começaram a chutar e aplicar choques elétricos em todo o seu corpo, por mais de
cinco minutos.
Logo
depois, chegou um homem a paisana, que também passou a chutar Bruno e Bizoca. Disse que podia fazer qualquer coisa porque
era policial. Havia mais dois indivíduos a paisana agindo de forma
truculenta. Exatamente os três –
juntamente com os PMs e os guardas municipais que estavam na ocorrência - foram
arrolados como testemunhas contra Bizoca e Bruno. Trata-se, certamente de P2, policiais infiltrados
para monitorar cidadãos, denunciá-los e reforçar a repressão – tão presentes em
toda e qualquer manifestação popular. Os
militantes do IHG foram acusados de pichação, desacato, resistência à prisão e
agressão física a seus repressores.
Nós, do IHG, desqualificamos totalmente estas acusações.
Os guardas municipais, então, pressionaram a cabeça
de Bruno no asfalto e o algemaram. Aí, chegaram
os policiais militares – mais de uma dezena deles, alguns da tropa de choque,
em várias viaturas. Eram chefiados pela Comandante de Policiamento da Capital
em pessoa, a Coronel Cláudia Romualdo – a mesmíssima repressora feroz das
jornadas de junho de 2013 -, o que potencializou a violência policial. Bruno foi mantido algemado nas costas, propositalmente
de frente para a Igreja de Santa Tereza, em saída de missa. Os policiais disseram
que queriam que todos o vissem naquela situação, em mais uma tentativa infame
de humilhá-lo.
Bizoca
foi imobilizada com extrema brutalidade pela PM, o que deixou seus dois braços
machucados. Foi, literalmente, arremessada no camburão. Durante toda a agressão houve participação direta
da cel. Cláudia. Bruno foi atirado com a
mesma violência em outra viatura, juntamente com um jovem que estava no
local. Este foi preso pelo fato de ter
dito que era covardia a ação dos PMs e dos guardas municipais. Não foi o único
a se indignar: pessoas que saíam da
Igreja de Santa Tereza e aquelas que estavam na praça – que presenciaram os
choques elétricos e as agressões - também disseram que era covardia o que foi feito
contra Bruno, que já estava imobilizado, e Bizoca, que tem 62 anos de idade,
mede 1,50m e pesa pouco mais de 43 quilos.
Bizoca,
Bruno e o jovem passante foram conduzidos à Central de Flagrantes (Rua Pouso
Alegre, Floresta). Durante todo o trajeto foram ameaçados e agredidos verbalmente:
os PMs disseram que os detidos tiveram sorte porque a abordagem inicial foi da
Guarda Municipal - se tivesse sido deles teriam logo dado pauladas.
Ao
chegar à Central de Flagrantes, Bizoca foi jogada na carceragem da PM, onde já
havia três homens presos, o que é absolutamente ilegal. Depois de muito
protestar, foi de lá retirada e mantida no espaço dos conduzidos. Bruno e o jovem foram mantidos na carceragem nas
seguintes condições: o tempo todo de pé (não há lugar para sentar), sem água,
sem luz, no meio da urina que se espalhava no lugar. As pessoas tinham que
urinar e defecar no chão de azulejo, uma vez que não há instalações para isso,
nem sequer um ralo para escoamento dos dejetos. São estas as condições das masmorras
existentes em Minas e no Brasil. Os celulares de Bruno e Bizoca foram
apreendidos e, depois, inutilizados. Os dois e o jovem detido com eles só foram
ouvidos pelo delegado de plantão e liberados por volta de 04h30min da madrugada
do dia seguinte.
Bruno e Bizoca foram, então, ao Instituto Médico Legal para o exame de corpo de delito: ainda hoje, uma semana depois,
Bruno continua mancando e ambos apresentam ferimentos e hematomas causados
pelas agressões da Guarda Municipal e da PM.
Familiares da Bizoca, que chegaram à Central de
Flagrantes, foram abordados com truculência por uma policial civil que chegou a
dar ordem de prisão a eles, o que evidentemente não se concretizou. Ao longo da
noite do dia 30/03 e da madrugada do dia seguinte, amigos e militantes da Frente
Independente pela Memória, Verdade e Justiça-MG e de outras entidades
compareceram para prestar solidariedade aos militantes presos. Também a
Comissão de Direitos Humanos da OAB-MG, a Comissão de Direitos Humanos da
Câmara Federal, o Sindicato dos Advogados - MG e a Associação Brasileira de
Advogados do Povo/ABRAPO estiveram presentes. Seus advogados estão assistindo Bizoca, Bruno
e o jovem que foi detido com eles.
O Instituto
Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania tem recebido manifestações de
solidariedade de todo o Brasil. Bizoca e
Bruno denunciaram amplamente as violências sofridas. Além disso, encaminharam
denúncia formal às comissões de direitos humanos da Ordem dos Advogados do
Brasil/OAB-MG, da Assembléia Legislativa de Minas Gerais e da Câmara Federal. Na
próxima semana, a denúncia será encaminhada também à Promotoria de Direitos
Humanos do Ministério Público.
O Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania
considera intolerável a violência a que foram submetidos seus militantes, o que
aconteceu exatamente às vésperas do cinquentenário do golpe militar de 1964,
que submeteu o Brasil a uma ditadura sangrenta.
Fica evidente que a Polícia Militar mantém a mesma prática da época da
ditadura. Atua sistematicamente como um exército
no campo de batalha cujo objetivo é eliminar o inimigo. A Guarda Municipal reproduz esta
prática. Afinal, os guardas municipais
são treinados e coordenados pela PM e incorporam o paradigma da violência
generalizada contra a população da cidade.
Choques
elétricos constituem método tradicional e institucionalizado de tortura do
aparato repressivo. A guarda municipal
aplicou choques elétricos, ou seja, torturou o companheiro Bruno. Antes, os choques
elétricos eram aplicados exclusivamente nos porões. Agora são aplicados também em praça pública,
a céu aberto e à vista de todos.
O Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania
reitera o repúdio à violência da PM e da Guarda Municipal. Responsabilizamos diretamente a comandante de
policiamento da capital, coronel Cláudia
Romualdo por toda esta violência. Responsabilizamos
também todos os guardas municipais e policiais militares envolvidos nas
agressões. Reafirmamos que lutamos pelo
fim da PM, da Guarda Municipal e pelo desmantelamento do aparato repressivo.
Agradecemos todas as manifestações de apoio e solidariedade
que temos recebido dos movimentos e entidades que lutam conosco, ombro a ombro,
contra todas as formas de repressão e opressão, contra o aparato repressivo e
contra o terror de Estado, que continua a vigorar, agora sob o manto do pessimamente
chamado Estado democrático de direito, que
não é outra coisa senão o Estado penal.
Abaixo
a repressão! Pela liberdade de manifestação e expressão!
Pelo
fim imediato da Guarda Municipal e da Polícia Militar!
Pelo
fim de todas as polícias!
Belo Horizonte, 5 de abril de 2014
Instituto Helena Greco
de Direitos Humanos e Cidadania
Imagem: Ao centro da foto, o Guarda Municipal Jardel Henrique sem a sua identificação e, à direita, o Guarda Municipal Itamar Silva. Ambos agrediram e utilizaram as armas de eletrochoque.
Foto: Bizoca - IHG
Total e absoluto desrespeito! A ditadura continua. O passado que não passa!
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