terça-feira, 21 de agosto de 2018

SEMINÁRIO NA E.E. MACHADO DE ASSIS EM VESPASIANO

NOTÍCIA SOBRE O II SEMINÁRIO EDUCAÇÃO E LUTA DE CLASSES
        Realizado no sábado, dia 11/08/2018, o II Seminário Educação e Luta de Classes - Novas estratégias de lutas dos trabalhadores em educação e pela construção da greve de ocupação. Construir a greve de ocupação unindo professores, estudantes, pais, funcionários e toda a comunidade em defesa da escola pública!
        O seminário aconteceu na Escola Estadual Machado de Assis em Vespasiano/MG. Foi organizado pelo Comando de Luta Classista dos Trabalhadores em Educação e pelo Sind-Ute – Subsede Vespasiano/São José da Lapa – MG.
        A programação começou pela manhã com a exibição do documentário Acabou a paz, isto aqui vai virar o Chile - Escolas ocupadas em São Paulo (60’ – 2016) de Carlos Pronzato. “A saga dos estudantes secundaristas de São Paulo por uma educação de qualidade. O levante do segundo semestre de 2015 contra o fechamento de 94 escolas culminou na ocupação de mais de 200 que seriam afetadas pelas ações de precarização do ensino público engendradas pelo Governo de Geraldo Alckmin, o qual vem perdendo apoio dia após dia. A coragem, a autonomia, a horizontalidade, a solidariedade demonstradas pelos secundaristas e o apoio popular presentes! Os gritos seguem ecoando na rua talvez anunciando uma profecia já concretizada: Acabou a paz, isto aqui vai virar o Chile!”
        Na parte da tarde houve duas mesas de palestras. Os debates contaram com a participação de estudantes, professoras/es e militantes de movimentos sociais:
- Análise de conjuntura nacional e internacional – com a professora Heloisa Greco “Bizoca” (Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania) e Eduardo Magrão (operário da construção civil e membro da Liga Operária). A mediação foi feita pelo professor Kleiton Gomes (Comando de Luta Classista dos Trabalhadores em Educação).
- Estratégias de lutas dos trabalhadores em educação e a necessidade da construção da greve de ocupação – com o professor Rômulo (Moclate – Movimento Classista dos Trabalhadores em Educação) e Rosa (estudante que participou de ocupação de escola em São Paulo, em 2015). A mediação foi feita pelo professor João Martinho (Sind-Ute – Subsede Vespasiano/São José da Lapa – MG).
        Durante os intervalos e no encerramento houve forte apresentação do grupo de protesto Ameaça Vermelha – “O grupo de Rap ‘Ameaça Vermelha’ surgiu em 2015 na Zona Leste de São Paulo (SP) com o intuito de levar às massas mais empobrecidas a Cultura Popular, mantemos desde o começo uma linha revolucionária nas letras buscando sempre propagandear a Revolução de Nova Democracia em nosso país, como único caminho para a libertação do povo e para varrer o imperialismo da face da terra. Em síntese o ‘Ameaça Vermelha’ é um grupo de caráter Antifascista, Anti-imperialista e Revolucionário”. “Que as classes dominantes tremam diante da Cultura Popular!”
        O seminário foi dedicado às combativas professoras que faleceram neste ano.
Companheira Viviane Ciriaco (02/03/1971 – 17/02/2018):
Presente na luta!
Companheira Jussara Maria Gomes (26/11/1971 – 19/07/2018):
Presente na luta!
Agradecemos a todas e todos pelo convite e pela presença!
Belo Horizonte, 21 de agosto de 2018
Notícia/Fotos: Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania
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Abaixo reproduzimos o texto distribuído pelos organizadores e debatido durante o seminário:
        “II Seminário Educação e Luta de Classes
Construir a greve de ocupação unindo professores, estudantes, pais, funcionários e toda a comunidade em defesa da escola pública!
        Estamos realizando o nosso segundo seminário Educação e Luta de Classes com o objetivo de avançar em nossa organização e luta em um momento de grave crise do capitalismo burocrático em nosso país, como parte da crise geral do sistema imperialista[1]. Como inevitável consequência dessa crise nossas escolas estão sendo cada vez mais atacadas e sucateadas, os trabalhadores em educação estão vendo seus direitos arrancados, os seus salários arrochados e atrasados e os estudantes cada vez mais prejudicados em seu direito de estudar e aprender.
        Viemos de importantes lutas, como a greve na rede estadual que durou 42 dias entre março e abril de 2018, em que nosso Comando de Luta Classista dos Trabalhadores em Educação impôs a marca da combatividade, contrapondo à greve imobilista e de pijama da cúpula estadual do sindicato. Ao final da greve, realizamos um importante seminário em que estudamos o significado do pensamento do grande Karl Marx, como parte das celebrações dos seus 200 anos e iniciamos, ainda que brevemente, um balanço desta greve de 42 dias.
        Neste balanço apontamos que mesmo com as vitórias da greve para nossa organização, era necessário entender as limitações das greves tradicionais e avançar na tática da greve de ocupação para avançarmos na nossa organização para a conquista de nossos direitos. Atuamos organizados enquanto Comando Classista dos Trabalhadores em Educação no Congresso do SIND-UTE/MG, apresentando nossa tese de greve de ocupação contra as demais teses oportunistas e eleitoreiras e saímos fortalecidos com a convicção de que a greve de ocupação é o caminho que devemos traçar: mesmo sem dominar toras suas particularidades na prática. Por isso, é que temos de nos aprofundar para buscar responder: O que é a greve de ocupação? Quais experiências existem na história recente em nosso país? E como podemos aplicá-la em nossas escolas?
        Para aprofundarmos nestes questionamentos, selecionamos alguns trechos do balanço da greve de 2011 feita pelo MOCLATE – Movimento Classista dos Trabalhadores em Educação, que corresponde ao balanço que devemos fazer da greve deste ano e principalmente a necessidade de buscarmos novas formas de lutas, junto aos trabalhadores em educação:
“Em todo o país somos 1,5 milhão de professores da educação básica pública trabalhando em 160 mil escolas com 45 milhões de alunos (dados de 2009). Somos uma parcela importante dos trabalhadores do país e, apesar de desempenhar uma atividade intelectual, somos parte do proletariado brasileiro. No final dos anos de 1970, a mobilização política dos professores foi fundamental para pôr abaixo o regime militar. Mas desde este período o movimento de professores tem sido hegemonizado pela CUT a serviço do oportunismo eleitoreiro do PT. O projeto de eleger Lula presidente converteu greves na educação em instrumento e joguete de mero desgaste eleitoral de governantes adversários. Ou, ao contrário, gerou vacilação e conciliação quando o governante era aliado, como durante o gerenciamento de Itamar Franco em Minas.
        Parcelas importantes do professorado passaram a ver com desconfiança as greves e manifestações devido à manipulação descarada exercida pela direção das entidades. Assim, a deterioração das condições de trabalho do magistério e o sucateamento nunca visto da escola pública dos últimos tempos não encontraram no movimento de professores a resistência necessária.
Mas o agravamento da crise está impulsionando a retomada da luta. O surgimento de correntes classistas, como o MOCLATE — Movimento Classista de Trabalhadores em Educação (da Liga Operária) — antecipam novas perspectivas para a luta do magistério. Não temos ilusões que neste Estado seja possível transformar no necessário as condições das escolas públicas ou de nossos salários. Estamos convictos que estes governos, em todos seus níveis, não têm compromisso com os interesses do povo. E muito ao contrário, cumprem o papel de submeter tudo aos interesses dos lucros das classes dominantes. O que temos tirado como lição, entretanto, inclusive da recente greve em Minas, é que podemos ter saltos de organização e de politização dos professores.
        Ganhou terreno o classismo, a combatividade na luta por direitos, a democracia no movimento. Ficou claro que sem combatividade não é possível pressionar o governo. Estas greves por muito extensas que sejam, afetam minimamente o governo. Não são como uma paralisação numa indústria ou no transporte público que trazem grande impacto econômico. Ao contrário, são facilmente utilizadas pela manipulação demagógica dos governantes e usada como chantagem por essa imprensa venal, os quais se apresentam como hipotéticos defensores do direito do povo à educação. Por isto defendemos que devemos repensar e avançar em nossas formas de luta. É preciso e necessário ultrapassar os limites que esta ordem reacionária nos impõe defendendo e praticando o direito do povo à rebelião, de que a Rebelião se Justifica!
OCUPAR TODAS AS ESCOLAS
        Precisamos potencializar nossas greves com a ocupação da administração e de todas as atividades da escola, transformando cada uma delas na nossa base principal de organização. Para isto ela tem que ser um ponto de mobilização e organização de professores, funcionários, estudantes e pais, enfim uma Assembleia Popular na defesa da escola pública. E não somente nos momentos de luta por melhores salários e condições de trabalho. Manter a escola fechada durante nossas greves nos enfraquece, pois nos distancia do que deve ser nosso principal apoio, enquanto os agentes do Estado reacionário e a imprensa dos monopólios trabalham para desinformar e confundir a população. Ocupando as escolas para dar aulas às crianças e jovens e realizar assembleias com a comunidade, explicando e informando a todos a real situação do ensino e dos trabalhadores (professores e outros servidores), a situação do país, a politicagem oportunista dos “políticos” e de seus partidos eleitoreiros demagógicos e mentirosos, realizando enfim toda a denúncia sobre este Estado e seu caráter de classe opressor e explorador do povo trabalhador; desmascarar todos seus gerentes (municipal, estadual e federal  e toda sua estrutura executiva, legislativa e judiciária) que enganam as massas, violam seus direitos mais elementares para defenderem os interesses das classes serviçais do imperialismo. Nossas manifestações, ocupações de prédios públicos têm que ser organizadas a partir das escolas, envolvendo boa parte da população que são os pais de alunos. Cada escola pública, uma a uma, deve ser o centro de nossa organização, construindo vigorosas e massivas Assembleias Populares de base. O caos que hoje se instalou nas escolas públicas é porque elas têm se transformado em uma extensão do aparato repressivo sobre nossa juventude. Ver na rebeldia de nossos jovens principalmente expressão de delinquência ou de uso de drogas é não levar em conta a violência que hoje se abate sobre eles por várias formas e vias, e a negação completa de seus direitos. Educar é transformar. Atrevamo-nos a revolucionar nossas escolas. É preciso não só entender nossos estudantes, mas infundir neles a confiança e esperança de que podemos, com nossa luta, com nossa mobilização, organização e politização transformar o Brasil e o mundo.
Em essência, como professores, devemos imprimir em nosso trabalho um profundo e verdadeiro sentido de servir ao povo de todo o coração. Ganhar o coração das massas populares ajudando na elevação, insistimos, de sua mobilização, politização e organização. Só assim faremos de nossas escolas trincheiras para as transformações tão reclamadas em nosso país.” 
        Fazemos questão de reproduzir esta importante avaliação do MOCLATE porque ela se mostrou completamente acertada, como demonstraram as lutas estudantis nas escolas públicas nos anos seguintes.
Juventude combatente toma as ruas, universidades e escolas
        No mesmo período da greve dos trabalhadores em educação de Minas Gerais em 2011, no outro extremo do país, os estudantes da UNIR – Universidade Federal de Rondônia, por meio de uma combativa greve unificada junto aos professores e servidores, apontavam o caminho mais consequente para a luta em defesa do ensino público. Os estudantes da UNIR, que lutavam contra o sucateamento, as ameaças de fechamento da universidade e pela deposição do reitor Januário Amaral, envolvido em inúmeros esquemas de corrupção, ocuparam  a reitoria da universidade por mais de dois meses e angariaram o apoio massivo da população de Porto Velho e cidades próximas à capital. Devido ao massivo envolvimento de toda a comunidade acadêmica, a universidade não ficou fechada, ao contrário, tornou-se palco de grandes eventos políticos e culturais que tinham como centro chamar a atenção da opinião pública para a situação caótica do ensino e convocar a população a apoiar a luta em defesa da UNIR. Por mais que a burocracia universitária tentasse deslegitimar a greve, utilizando o monopólio de imprensa para criminalizá-la como “baderna”, “vandalismo”, etc., ficava cada vez mais evidente para a população local a justeza da greve e a necessidade da própria ocupação. Da mesma forma, o uso da força repressiva do Estado, por meio da atuação da Polícia Federal que chegou a prender um professor e dois estudantes grevistas e mesmo ameaças de morte contra ativistas, não fizeram o movimento retroceder. A justeza da linha encetada pelos estudantes ficou comprovada na conquista de todas as reivindicações e na deposição do reitor Januário Amaral, conquista sem precedentes na historia do movimento estudantil brasileiro.
        Já em 2014, no influxo das grandes jornadas de junho/julho de 2013 e em meio à luta contra a farra da Fifa, os estudantes de Goiânia ocuparam as escolas contra a tentativa do governo de Goiais de avançar nos intentos de privatização do ensino público com as chamadas Organizações Sociais (OSs) e com essa tática derrotaram essa investida contra o ensino público. Também nesse momento a juventude combatente levantou-se, na capital paulista, contra as medidas de fechamento de escolas impostas pelo gerenciamento de Alckmin/PSDB. Os estudantes ocuparam as escolas com o apoio dos pais e, em muitos locais, os professores se juntaram à luta. Reforçando a justeza da linha de ocupação das escolas, os estudantes se organizaram em comissões (alimentação, limpeza, disciplina, cultural e autodefesa) assegurando o funcionamento das escolas e realizando atividades junto às comunidades onde as escolas estavam localizadas. Mantiveram, assim, por meio do apoio popular, as ocupações, apesar da grande repressão policial e das tentativas da imprensa em deslegitimar o movimento por meio do berreiro histérico de “vandalismo”. Nestas lutas os oportunistas da UNE/UBES, que já estavam queimados pela experiência das jornadas de 2013 e todo o seu histórico de traição à luta estudantil, correram para se cacifarem com a mobilização das massas, mas foram, literalmente, expulsos pelos estudantes da maior parte das escolas ocupadas.
        Na medida em que o gerenciamento de Alckmin aumentava a repressão contra os estudantes, as ocupações se expandiam na capital e espalhavam-se para outras cidades do estado. Desta forma os estudantes venceram tal contenda, impedindo o fechamento das escolas. O exemplo da juventude combatente entusiasmou professores e pais em todas as partes do país. Paralisações, greves e ocupações ocorreram em solidariedade aos estudantes paulistas. Novamente, em 2016, para desespero da reação e do oportunismo, as ocupações de escolas por estudantes voltaram a se generalizar na luta contra a PEC 55 e a contrarreforma do ensino médio. No Paraná, a luta dos estudantes ganha contornos e dimensões semelhantes ao grande movimento dos secundaristas em São Paulo em 2014 e 2015. Foi a partir deste momento que as ocupações, que já vinham sendo utilizadas como método de luta pelos estudantes brasileiros nas universidades públicas, por meio da ocupação de reitorias desde a luta contra a “reforma” universitária do Banco Mundial durante o gerenciamento do oportunismo, passaram a ser o principal método de luta do movimento estudantil combativo. Da mesma forma como a utilização de barricadas com fogo e a cobertura dos rostos generalizaram-se depois de 2013.
        Em Belo Horizonte e região metropolitana, embora não tenha ocorrido nas mesmas dimensões que em São Paulo e Paraná, aconteceram ocupações importantes em várias escolas, demonstrando a adesão dos estudantes a esta forma de luta. Isto também ocorreu por todas as partes do país. Em 2016, vários países tiveram escolas e universidades ocupadas pelos estudantes, na luta pela escola pública.
Ocupar todas as escolas junto aos estudantes e comunidades escolares!
        Todas estas experiências comprovam que a ocupação das escolas é o único caminho para efetivamente democratizar a escola. Nas ocupações que aconteceram por todo o país os estudantes demonstraram que essa democracia é muito maior que a simples eleição de diretores. Os estudantes se puseram a participar das decisões e em assembleias permanentes se posicionavam, junto a toda a comunidade escolar, sobre todas as questões da escola.
        Devemos, durante todo o período de paralisações, greves e mobilizações manter as escolas abertas e lutar por organizar e manter o funcionamento permanente de Assembleias Populares compostas por profissionais em educação, estudantes e comunidades. Entre estas assembleias, que devem ter caráter soberano na decisão de todos os assuntos concernentes à escola, devemos montar comandos de luta unificados e paritários entre estes três seguimentos, eleitos por maioria simples nas assembleias, de caráter executivo e revogável a qualquer momento. Desta maneira nossa luta se tornará cada vez mais forte. Nossa combatividade se sustentará em uma base muito maior e poderemos, de forma coordenada, realizar manifestações por toda a cidade.
        Ao estalar uma greve devemos nos reunir com os professores e debater a necessidade de organizar a luta a partir de cada escola. Devemos imediatamente direcionar um comunicado de cada escola aos pais e à comunidade circundante explicando nosso movimento e convocando todos para participar de nossas atividades e assembleias. Também é exigido que nos apoiemos sobre as organizações dos estudantes e chamemos assembleias estudantis para que esses possam se posicionar e participar conscientemente de nossa jornada. Assim uniremos toda a comunidade escolar e criaremos as bases para nos ligarmos às massas da cidade e do campo de nosso país na luta pela construção de uma nova sociedade.
        Nossas reivindicações mais imediatas devem ser apresentadas de forma clara nessas lutas e somadas às demais reivindicações dos estudantes e da comunidade escolar. Nos momentos de refluxo da luta, quando as escolas não estiverem mobilizadas e a vida escolar transcorrer de forma “normal”, devemos lutar por envolver todos os principais ativistas (professores, funcionários, estudantes, pais, etc.) organizados na forma de Grupos de Base. Esta é uma questão chave para que o movimento grevista não seja um fim em si mesmo, rompendo com o economicismo e o eleitoralismo do velho movimento sindical oportunista e eleitoreiro das centrais sindicais, que usam as lutas da categoria, como trampolim eleitoral. Estes Grupos de Base se revestirão de formas distintas em cada local. Os Grupos de Base devem ter três funções bem definidas: a primeira é a mobilização permanente dos trabalhadores em educação, dos estudantes e pais em torno dos problemas e atividades da escola e da comunidade; a segunda é a politização das atividades de modo a elevar a consciência classista e combativa de todos os seus membros e a terceira, que também é imprescindível, é a organização democrática de todas as atividades de modo que a luta econômica diária se transforme em um instrumento de organização e propaganda por uma sociedade mais justa e igualitária.
        Para isso devemos apoiar a luta dos estudantes pela sua livre organização, assim como pela criação e manutenção dos grêmios estudantis. E, na medida do possível e segundo as necessidades concretas da luta pela democratização da escola e por reivindicações econômicas específicas, participar dos Conselhos Escolares, assim como apoiar a criação e manutenção das Associações de Pais.
        A experiência histórica demonstra que o elemento mais dinâmico da luta em defesa da democratização das escolas são os estudantes e devemos levar em conta os seus interesses para nos unirmos solidamente com eles. Dentre suas demandas específicas, é necessário dar atenção especial ao lazer, esporte e cultura. Esses são direitos sistematicamente negados às crianças e aos jovens pobres, que temos o dever de lutar por assegurar durante e após as ocupações. Atividades como música, teatro, artes plásticas, jogos, brincadeiras, gincanas, concursos, campeonatos esportivos, festivais, etc., são uma necessidade premente para nos ligar profundamente à juventude combatente e às crianças.
        Como parte de nossos esforços por organizar o movimento classista entre os profissionais em educação, devemos lutar contra a influência do corporativismo e do economicismo (de só ver as reivindicações imediatas da categoria e não das classes populares em seu conjunto) impostos pela hegemonia histórica do oportunismo na categoria e nos unirmos, concretamente, às lutas específicas dos estudantes, em particular, àquelas relacionadas à gratuidade do ensino, como pelo direito a uma alimentação de qualidade nas escolas e o passe-livre estudantil. Dando atenção especial às pautas em que os interesses dos profissionais em educação e dos estudantes convirjam, como as reformulações curriculares (BNCC, etc.); contra a Residência Pedagógica (que se liga à luta dos estudantes universitários pelo direito à extensão e contra a precarização do trabalho docente); Escola sem Partido; contra os cortes de verbas para o ensino público, entre outras políticas e medidas impostas pelos gerenciamentos de turno em todas as esferas.
Companheiras e companheiros,
        Se tomarmos a situação em qualquer escola no estado, encontraremos os trabalhadores em educação altamente descontentes com as medidas dos governos de plantão, com seus salários arrochados e atrasados, falta de recursos e estrutura na escola para garantir o mínimo de apoio didático para as aulas.
        Os trabalhadores em educação, com seus salários atrasados, atrasam o pagamento das contas de suas casas, de aluguel, água, luz, telefone, cartão de crédito. Além disso, muitos se encontram endividados, com créditos consignados, e quando cai a primeira parcela do pagamento, o banco já faz o desconto e muitas vezes esses trabalhadores só veem a cor do dinheiro na segunda parcela que recebem já no final do mês. Isto em uma situação em que muitos professores são “arrimos de família”, pois com o desemprego crescente no país, acaba ficando para esses profissionais a responsabilidade total de famílias inteiras. Os juros das dívidas que os professores têm que pagar não são acrescidos nos salários atrasados, dificultando ainda mais a manutenção de suas casas, faltando, cada vez mais, recursos para itens básicos como alimentação.
        Esta é a situação objetiva sob a qual vai se represando muita revolta. Quando há divisão entre os trabalhadores em educação em entrar em greve no 5º dia útil até receber os salários, e se muitos não querem paralisar suas atividades, na maioria das vezes, é porque desconfiam que esta forma de luta não dará resultado e não confiam na direção estadual do sindicato que está totalmente envolvida em joguetes eleitorais. Enquanto, na rede estadual de ensino, os trabalhadores em educação recebem abaixo do piso salarial nacional, a cúpula da direção estadual do SIND-UTE/MG faz de tudo para blindar o governador Pimentel que é quem no momento tem aplicado essas medidas, inclusive dando declarações de que “a polícia é mais importante para a sociedade que os trabalhadores da educação e da saúde, e por isso devem ter prioridade no pagamento de salários”. O esforço da cúpula da direção estadual do sindicato não é para fortalecer a luta e organização dos professores, mas para fazer vistas grossas ao atraso no pagamento de salários e ensalçando a PEC do piso estadual, transformando isto numa batalha parlamentar para desgastar o PSDB de Anastasia e terem algum fôlego para reelegerem o PT no governo do Estado. Esse joguete eleitoral não interessa à luta dos trabalhadores em educação e às massas populares em nosso país. Seja qual for o governante que vencer as eleições, aplicará as mesmas medidas de arrocho e atraso nos pagamentos de salários e sucateamento das escolas, tendo em vista que ambos fazem parte do Partido Único, que só se divergem no varejo, mas se aliam no atacado, para frear a luta do povo (vide Pimentel/PT e os trabalhadores em educação 2015/2018). Só a nossa organização poderá impedir, através de resistência, os ataques à educação.
        Para aplicar a linha da greve de ocupação, devemos ter em vista que o trabalho político deve ser feito com paciência e persistência. Não devemos ver os trabalhadores em educação como um só bloco, como gente desinteressada e que não quer lutar, mas sim como nossos companheiros de classe. Devemos aprofundar nossa politização, nosso trabalho de propaganda, acumulando no dia a dia para dar saltos em nossa organização. Se agirmos assim, estaremos preparados para dar uma direção mais justa nos momentos em que as lutas mais generalizadas estourarem.
        Vivemos um novo momento da luta de classes em nosso país. Aqui e acolá por todo o país estouram revoltas e rebeliões, cada vez mais frequentes. Mesmo entre os professores tivemos importantes iniciativas, como na greve de 42 dias no início do ano e as paralisações que estão ocorrendo todo o mês em várias escolas do Estado. A firmeza e combatividade da recente greve da educação infantil em Belo Horizonte também nos dá esses sinais. Em Vespasiano, a greve da rede municipal de ensino enlouqueceu a prefeita que teve que enfrentar a direção combativa dos companheiros da direção da subsede do SIND-UTE/MG de Vespasiano e São José da Lapa. Por todo o país os trabalhadores em educação resistem às medidas de ataque à educação. A recente greve dos caminhoneiros que pararam completamente o país por uma semana deu indicações importantes da disposição de nosso povo de lutar e indicou que somente com organização e combatividade podemos impor nossas reivindicações e conquistar nossos direitos. Atrevemo-nos a transformar nossas escolas em trincheiras da luta popular!
Propostas:
1- Realizar seminários por escola, principalmente onde trabalhamos, com o estudo deste documento como forma de reposição.
2- Organizar grupos de base do Comando de Luta Classista dos Trabalhadores em Educação por escola.
3- Apoiar a organização e formação independente dos estudantes e seus grêmios;
4- Desenvolver debates com toda comunidade escolar (Professores, funcionários, estudantes e pais) sobre a defesa da escola pública gratuita e que sirva ao povo;
5- Promover atividades culturais que valorizem a cultura popular;
6- Debater sobre formas de aliar os conteúdos escolares aos temas políticos a serem trabalhados com os estudantes na escola conforme a demanda;
7- Promover debates sobre a farsa eleitoral nas escolas.
Vespasiano, 11 de agosto de 2018
Comando de Luta Classista dos Trabalhadores em Educação”


[1] O Capitalismo burocrático é a forma que o sistema capitalista se desenvolveu nos países atrasados, nos quais a revolução burguesa (Revolução Democrática) ainda não se concretizou, é um capitalismo que fora desenvolvido de fora para dentro pelas potências imperialistas com objetivo de manter seu domínio e aumentar seu saqueio, por isso dizemos que foi engendrado. É caracterizado por se sustentar sobre relações não capitalistas de tipo feudais ou semifeudais de modo a manter o país atrasado economicamente e assim manter a condição de país consumidor dos produtos das potências imperialistas, exportador de matéria-prima (in natura como Commodities – produtos que possuem seu valor determinado pelo sistema financeiro internacional) e subjugado politicamente, por isso estes países são caracterizados como colônias ou semicolônias, dependendo do grau de dominação. Tais formas de dominação se mantêm desenvolvendo com uma aparência de capitalismo contudo mantêm em sua essência os elementos não capitalistas e de dependência (exemplo o agronegócio e as montadoras e automóveis). O atraso nas relações econômicas se reflete em um sistema de governo subserviente, anti-povo e anti-nação, como também em formas culturais alienante e conservadoras, dado que seu objetivo é desenvolver as melhores condições para a inversão de capitais de seus amos imperialistas. Nos países em que se desenvolveu o capitalismo burocrático segue pendente a Revolução Democrática, que não pode mais ser levada a termo pela burguesia, e deve ser compreendida como a primeira tarefa revolucionária a ser levada a cabo pela frente única revolucionária como Revolução Democrática de novo tipo, baseada na aliança operário-camponesa cujo conteúdo é revolução agrária e anti-imperialista, para destruir o latifúndio e desenvolver a industrialização e nacionalização das riquezas nacionais.

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