NOTÍCIA SOBRE O II SEMINÁRIO EDUCAÇÃO E LUTA DE
CLASSES
Realizado no sábado, dia 11/08/2018, o II Seminário Educação e Luta de Classes - Novas estratégias de lutas dos
trabalhadores em educação e pela construção da greve
de ocupação. Construir a
greve de ocupação unindo professores, estudantes, pais, funcionários e toda a
comunidade em defesa da escola pública!
O seminário
aconteceu na Escola Estadual Machado de Assis em Vespasiano/MG. Foi organizado
pelo Comando de Luta Classista dos Trabalhadores em Educação e pelo Sind-Ute –
Subsede Vespasiano/São José da Lapa – MG.
A programação começou pela manhã com a
exibição do documentário Acabou a paz,
isto aqui vai virar o Chile - Escolas ocupadas em São Paulo (60’ – 2016) de
Carlos Pronzato. “A saga dos estudantes secundaristas de São Paulo por uma
educação de qualidade. O levante do segundo semestre de 2015 contra o
fechamento de 94 escolas culminou na ocupação de mais de 200 que seriam
afetadas pelas ações de precarização do ensino público engendradas pelo Governo
de Geraldo Alckmin, o qual vem perdendo apoio dia após dia. A coragem, a autonomia,
a horizontalidade, a solidariedade demonstradas pelos secundaristas e o apoio
popular presentes! Os gritos seguem ecoando na rua talvez anunciando uma
profecia já concretizada: Acabou a paz, isto aqui vai virar o Chile!”
Na parte da tarde houve duas mesas de
palestras. Os debates contaram com a participação de estudantes, professoras/es
e militantes de movimentos sociais:
- Análise de conjuntura nacional e
internacional – com a professora Heloisa Greco “Bizoca” (Instituto Helena
Greco de Direitos Humanos e Cidadania) e Eduardo Magrão (operário da construção
civil e membro da Liga Operária). A mediação foi feita pelo professor Kleiton
Gomes (Comando de Luta
Classista dos Trabalhadores em Educação).
- Estratégias
de lutas dos trabalhadores em educação e a necessidade da
construção da greve de ocupação – com o professor Rômulo (Moclate – Movimento Classista
dos Trabalhadores em Educação) e Rosa (estudante que participou de ocupação de
escola em São Paulo, em 2015). A mediação foi feita pelo professor João
Martinho (Sind-Ute – Subsede Vespasiano/São José da Lapa – MG).
Durante os intervalos e no encerramento
houve forte apresentação do grupo de protesto Ameaça Vermelha – “O grupo de Rap ‘Ameaça Vermelha’ surgiu em 2015 na Zona Leste
de São Paulo (SP) com o intuito de levar às massas mais empobrecidas a Cultura
Popular, mantemos desde o começo uma linha revolucionária nas letras buscando
sempre propagandear a Revolução de Nova Democracia em nosso país, como único
caminho para a libertação do povo e para varrer o imperialismo da face da
terra. Em síntese o ‘Ameaça Vermelha’ é um grupo de caráter Antifascista,
Anti-imperialista e Revolucionário”. “Que as
classes dominantes tremam diante da Cultura Popular!”
O seminário foi
dedicado às combativas professoras que faleceram neste ano.
Companheira Viviane Ciriaco (02/03/1971 – 17/02/2018):
Presente na luta!
Companheira Jussara Maria Gomes (26/11/1971 – 19/07/2018):
Agradecemos a todas e todos pelo convite e pela presença!
Belo Horizonte, 21 de agosto de 2018
Notícia/Fotos: Instituto Helena
Greco de Direitos Humanos e Cidadania
Abaixo reproduzimos o texto distribuído pelos organizadores e debatido durante o seminário:
“II Seminário Educação e Luta de Classes
Construir a
greve de ocupação unindo professores, estudantes, pais, funcionários e
toda a comunidade em defesa da escola pública!
Estamos realizando o nosso segundo seminário Educação e Luta de
Classes com o objetivo de avançar em nossa organização e luta em um momento
de grave crise do capitalismo burocrático em nosso país, como parte da crise
geral do sistema imperialista[1].
Como inevitável consequência dessa crise nossas escolas estão sendo cada vez
mais atacadas e sucateadas, os trabalhadores em educação estão vendo seus
direitos arrancados, os seus salários arrochados e atrasados e os estudantes
cada vez mais prejudicados em seu direito de estudar e aprender.
Viemos de importantes lutas, como a greve na rede estadual que
durou 42 dias entre março e abril de 2018, em que nosso Comando de Luta
Classista dos Trabalhadores em Educação impôs a marca da combatividade,
contrapondo à greve imobilista e de pijama da cúpula estadual do sindicato. Ao
final da greve, realizamos um importante seminário em que estudamos o
significado do pensamento do grande Karl Marx, como parte das celebrações dos
seus 200 anos e iniciamos, ainda que brevemente, um balanço desta greve de 42
dias.
Neste balanço apontamos que mesmo com as vitórias da greve para
nossa organização, era necessário entender as limitações das greves
tradicionais e avançar na tática da greve de ocupação para avançarmos na nossa
organização para a conquista de nossos direitos. Atuamos organizados enquanto
Comando Classista dos Trabalhadores em Educação no Congresso do SIND-UTE/MG,
apresentando nossa tese de greve de ocupação contra as demais teses
oportunistas e eleitoreiras e saímos fortalecidos com a convicção de que a
greve de ocupação é o caminho que devemos traçar: mesmo sem dominar toras suas
particularidades na prática. Por isso, é que temos de nos aprofundar para buscar
responder: O que é a greve de ocupação? Quais experiências existem na
história recente em nosso país? E como podemos aplicá-la em nossas escolas?
Para aprofundarmos nestes questionamentos, selecionamos alguns
trechos do balanço da greve de 2011 feita pelo MOCLATE – Movimento Classista
dos Trabalhadores em Educação, que corresponde ao balanço que devemos fazer da
greve deste ano e principalmente a necessidade de buscarmos novas formas de
lutas, junto aos trabalhadores em educação:
“Em todo o país somos 1,5 milhão de professores da educação básica
pública trabalhando em 160 mil escolas com 45 milhões de alunos (dados de
2009). Somos uma parcela importante dos trabalhadores do país e, apesar de
desempenhar uma atividade intelectual, somos parte do proletariado brasileiro.
No final dos anos de 1970, a mobilização política dos professores foi
fundamental para pôr abaixo o regime militar. Mas desde este período o
movimento de professores tem sido hegemonizado pela CUT a serviço do
oportunismo eleitoreiro do PT. O projeto de eleger Lula presidente converteu
greves na educação em instrumento e joguete de mero desgaste eleitoral de
governantes adversários. Ou, ao contrário, gerou vacilação e conciliação quando
o governante era aliado, como durante o gerenciamento de Itamar Franco em
Minas.
Parcelas importantes do professorado passaram a ver com
desconfiança as greves e manifestações devido à manipulação descarada exercida
pela direção das entidades. Assim, a deterioração das condições de trabalho do
magistério e o sucateamento nunca visto da escola pública dos últimos tempos
não encontraram no movimento de professores a resistência necessária.
Mas o agravamento da crise está impulsionando a retomada da luta.
O surgimento de correntes classistas, como o MOCLATE — Movimento Classista de
Trabalhadores em Educação (da Liga Operária) — antecipam novas perspectivas
para a luta do magistério. Não temos ilusões que neste Estado seja possível
transformar no necessário as condições das escolas públicas ou de nossos
salários. Estamos convictos que estes governos, em todos seus níveis, não têm
compromisso com os interesses do povo. E muito ao contrário, cumprem o papel de
submeter tudo aos interesses dos lucros das classes dominantes. O que temos
tirado como lição, entretanto, inclusive da recente greve em Minas, é que
podemos ter saltos de organização e de politização dos professores.
Ganhou terreno o
classismo, a combatividade na luta por direitos, a democracia no movimento.
Ficou claro que sem combatividade não é possível pressionar o governo. Estas
greves por muito extensas que sejam, afetam minimamente o governo. Não são como
uma paralisação numa indústria ou no transporte público que trazem grande
impacto econômico. Ao contrário, são facilmente utilizadas pela manipulação
demagógica dos governantes e usada como chantagem por essa imprensa venal, os
quais se apresentam como hipotéticos defensores do direito do povo à educação.
Por isto defendemos que devemos repensar e avançar em nossas formas de luta. É
preciso e necessário ultrapassar os limites que esta ordem reacionária nos
impõe defendendo e praticando o direito do povo à rebelião, de que a Rebelião
se Justifica!
OCUPAR TODAS AS ESCOLAS
Precisamos
potencializar nossas greves com a ocupação da administração e de todas as
atividades da escola, transformando cada uma delas na nossa base principal de
organização. Para isto ela tem que ser um ponto de mobilização e organização de
professores, funcionários, estudantes e pais, enfim uma Assembleia Popular
na defesa da escola pública. E não somente nos momentos de luta por melhores
salários e condições de trabalho. Manter a escola fechada durante nossas
greves nos enfraquece, pois nos distancia do que deve ser nosso principal
apoio, enquanto os agentes do Estado reacionário e a imprensa dos monopólios
trabalham para desinformar e confundir a população. Ocupando as escolas
para dar aulas às crianças e jovens e realizar assembleias com a comunidade,
explicando e informando a todos a real situação do ensino e dos trabalhadores
(professores e outros servidores), a situação do país, a politicagem
oportunista dos “políticos” e de seus partidos eleitoreiros demagógicos e
mentirosos, realizando enfim toda a denúncia sobre este Estado e seu caráter de
classe opressor e explorador do povo trabalhador; desmascarar todos seus
gerentes (municipal, estadual e federal
e toda sua estrutura executiva, legislativa e judiciária) que enganam as
massas, violam seus direitos mais elementares para defenderem os interesses das
classes serviçais do imperialismo. Nossas manifestações, ocupações de prédios
públicos têm que ser organizadas a partir das escolas, envolvendo boa parte da
população que são os pais de alunos. Cada escola pública, uma a uma, deve ser o
centro de nossa organização, construindo vigorosas e massivas Assembleias
Populares de base. O caos que hoje se instalou nas escolas públicas é porque
elas têm se transformado em uma extensão do aparato repressivo sobre nossa
juventude. Ver na rebeldia de nossos jovens principalmente expressão de delinquência
ou de uso de drogas é não levar em conta a violência que hoje se abate sobre
eles por várias formas e vias, e a negação completa de seus direitos. Educar é
transformar. Atrevamo-nos a revolucionar nossas escolas. É preciso não só
entender nossos estudantes, mas infundir neles a confiança e esperança de que
podemos, com nossa luta, com nossa mobilização, organização e politização
transformar o Brasil e o mundo.
Em essência, como professores, devemos imprimir em nosso trabalho
um profundo e verdadeiro sentido de servir ao povo de todo o coração. Ganhar o
coração das massas populares ajudando na elevação, insistimos, de sua
mobilização, politização e organização. Só assim faremos de nossas escolas
trincheiras para as transformações tão reclamadas em nosso país.”
Fazemos questão de reproduzir esta importante avaliação do MOCLATE
porque ela se mostrou completamente acertada, como demonstraram as lutas
estudantis nas escolas públicas nos anos seguintes.
Juventude combatente toma as ruas,
universidades e escolas
No
mesmo período da greve dos trabalhadores em educação de Minas Gerais em 2011,
no outro extremo do país, os estudantes da UNIR – Universidade Federal de
Rondônia, por meio de uma combativa greve unificada junto aos professores e
servidores, apontavam o caminho mais consequente para a luta em defesa do
ensino público. Os estudantes da UNIR, que lutavam contra o sucateamento, as
ameaças de fechamento da universidade e pela deposição do reitor Januário
Amaral, envolvido em inúmeros esquemas de corrupção, ocuparam a reitoria da universidade por mais de dois
meses e angariaram o apoio massivo da população de Porto Velho e cidades
próximas à capital. Devido ao massivo envolvimento de toda a comunidade
acadêmica, a universidade não ficou fechada, ao contrário, tornou-se palco de
grandes eventos políticos e culturais que tinham como centro chamar a atenção
da opinião pública para a situação caótica do ensino e convocar a população a
apoiar a luta em defesa da UNIR. Por mais que a burocracia universitária tentasse
deslegitimar a greve, utilizando o monopólio de imprensa para criminalizá-la
como “baderna”, “vandalismo”, etc., ficava cada vez mais evidente para a
população local a justeza da greve e a necessidade da própria ocupação. Da
mesma forma, o uso da força repressiva do Estado, por meio da atuação da
Polícia Federal que chegou a prender um professor e dois estudantes grevistas e
mesmo ameaças de morte contra ativistas, não fizeram o movimento retroceder. A
justeza da linha encetada pelos estudantes ficou comprovada na conquista de
todas as reivindicações e na deposição do reitor Januário Amaral, conquista sem
precedentes na historia do movimento estudantil brasileiro.
Já em
2014, no influxo das grandes jornadas de junho/julho de 2013 e em meio à luta contra
a farra da Fifa, os estudantes de Goiânia ocuparam as escolas contra a
tentativa do governo de Goiais de avançar nos intentos de privatização do
ensino público com as chamadas Organizações Sociais (OSs) e com essa tática
derrotaram essa investida contra o ensino público. Também nesse momento a
juventude combatente levantou-se, na capital paulista, contra as medidas de
fechamento de escolas impostas pelo gerenciamento de Alckmin/PSDB. Os
estudantes ocuparam as escolas com o apoio dos pais e, em muitos locais, os
professores se juntaram à luta. Reforçando a justeza da linha de ocupação das
escolas, os estudantes se organizaram em comissões (alimentação, limpeza,
disciplina, cultural e autodefesa) assegurando o funcionamento das escolas e
realizando atividades junto às comunidades onde as escolas estavam localizadas.
Mantiveram, assim, por meio do apoio popular, as ocupações, apesar da grande
repressão policial e das tentativas da imprensa em deslegitimar o movimento por
meio do berreiro histérico de “vandalismo”. Nestas lutas os oportunistas da
UNE/UBES, que já estavam queimados pela experiência das jornadas de 2013 e todo
o seu histórico de traição à luta estudantil, correram para se cacifarem com a
mobilização das massas, mas foram, literalmente, expulsos pelos estudantes da
maior parte das escolas ocupadas.
Na
medida em que o gerenciamento de Alckmin aumentava a repressão contra os
estudantes, as ocupações se expandiam na capital e espalhavam-se para outras
cidades do estado. Desta forma os estudantes venceram tal contenda, impedindo o
fechamento das escolas. O exemplo da juventude combatente entusiasmou
professores e pais em todas as partes do país. Paralisações, greves e ocupações
ocorreram em solidariedade aos estudantes paulistas. Novamente, em 2016, para
desespero da reação e do oportunismo, as ocupações de escolas por estudantes
voltaram a se generalizar na luta contra a PEC 55 e a contrarreforma do ensino
médio. No Paraná, a luta dos estudantes ganha contornos e dimensões semelhantes
ao grande movimento dos secundaristas em São Paulo em 2014 e 2015. Foi a partir
deste momento que as ocupações, que já vinham sendo utilizadas como método de
luta pelos estudantes brasileiros nas universidades públicas, por meio da
ocupação de reitorias desde a luta contra a “reforma” universitária do Banco
Mundial durante o gerenciamento do oportunismo, passaram a ser o principal
método de luta do movimento estudantil combativo. Da mesma forma como a
utilização de barricadas com fogo e a cobertura dos rostos generalizaram-se
depois de 2013.
Em
Belo Horizonte e região metropolitana, embora não tenha ocorrido nas mesmas
dimensões que em São Paulo e Paraná, aconteceram ocupações importantes em
várias escolas, demonstrando a adesão dos estudantes a esta forma de luta. Isto
também ocorreu por todas as partes do país. Em 2016, vários países tiveram
escolas e universidades ocupadas pelos estudantes, na luta pela escola pública.
Ocupar
todas as escolas junto aos estudantes e comunidades escolares!
Todas estas experiências comprovam que
a ocupação das escolas é o único caminho para efetivamente democratizar a
escola. Nas ocupações que aconteceram por todo o país os estudantes
demonstraram que essa democracia é muito maior que a simples eleição de
diretores. Os estudantes se puseram a participar das decisões e em assembleias
permanentes se posicionavam, junto a toda a comunidade escolar, sobre todas as
questões da escola.
Devemos, durante todo o período de
paralisações, greves e mobilizações manter as escolas abertas e lutar por
organizar e manter o funcionamento permanente de Assembleias Populares
compostas por profissionais em educação, estudantes e comunidades. Entre estas
assembleias, que devem ter caráter soberano na decisão de todos os assuntos
concernentes à escola, devemos montar comandos de luta unificados e paritários
entre estes três seguimentos, eleitos por maioria simples nas assembleias, de
caráter executivo e revogável a qualquer momento. Desta maneira nossa luta se
tornará cada vez mais forte. Nossa combatividade se sustentará em uma base
muito maior e poderemos, de forma coordenada, realizar manifestações por toda a
cidade.
Ao estalar uma greve devemos nos reunir
com os professores e debater a necessidade de organizar a luta a partir de cada
escola. Devemos imediatamente direcionar um comunicado de cada escola aos pais
e à comunidade circundante explicando nosso movimento e convocando todos para
participar de nossas atividades e assembleias. Também é exigido que nos
apoiemos sobre as organizações dos estudantes e chamemos assembleias estudantis
para que esses possam se posicionar e participar conscientemente de nossa
jornada. Assim uniremos toda a comunidade escolar e criaremos as bases para nos
ligarmos às massas da cidade e do campo de nosso país na luta pela construção
de uma nova sociedade.
Nossas reivindicações mais imediatas
devem ser apresentadas de forma clara nessas lutas e somadas às demais
reivindicações dos estudantes e da comunidade escolar. Nos momentos de refluxo
da luta, quando as escolas não estiverem mobilizadas e a vida escolar
transcorrer de forma “normal”, devemos lutar por envolver todos os principais
ativistas (professores, funcionários, estudantes, pais, etc.) organizados na
forma de Grupos de Base. Esta é uma questão chave para que o movimento grevista
não seja um fim em si mesmo, rompendo com o economicismo e o eleitoralismo do
velho movimento sindical oportunista e eleitoreiro das centrais sindicais, que
usam as lutas da categoria, como trampolim eleitoral. Estes Grupos de Base se revestirão
de formas distintas em cada local. Os Grupos de Base devem ter três funções bem
definidas: a primeira é a mobilização permanente dos trabalhadores em educação,
dos estudantes e pais em torno dos problemas e atividades da escola e da
comunidade; a segunda é a politização das atividades de modo a elevar a
consciência classista e combativa de todos os seus membros e a terceira, que
também é imprescindível, é a organização democrática de todas as atividades de
modo que a luta econômica diária se transforme em um instrumento de organização
e propaganda por uma sociedade mais justa e igualitária.
Para isso devemos apoiar a luta dos
estudantes pela sua livre organização, assim como pela criação e manutenção dos
grêmios estudantis. E, na medida do possível e segundo as necessidades
concretas da luta pela democratização da escola e por reivindicações econômicas
específicas, participar dos Conselhos Escolares, assim como apoiar a criação e
manutenção das Associações de Pais.
A experiência histórica demonstra que o
elemento mais dinâmico da luta em defesa da democratização das escolas são os
estudantes e devemos levar em conta os seus interesses para nos unirmos
solidamente com eles. Dentre suas demandas específicas, é necessário dar
atenção especial ao lazer, esporte e cultura. Esses são direitos
sistematicamente negados às crianças e aos jovens pobres, que temos o dever de
lutar por assegurar durante e após as ocupações. Atividades como música,
teatro, artes plásticas, jogos, brincadeiras, gincanas, concursos, campeonatos
esportivos, festivais, etc., são uma necessidade premente para nos ligar
profundamente à juventude combatente e às crianças.
Como parte de nossos esforços por
organizar o movimento classista entre os profissionais em educação, devemos
lutar contra a influência do corporativismo e do economicismo (de só ver as
reivindicações imediatas da categoria e não das classes populares em seu
conjunto) impostos pela hegemonia histórica do oportunismo na categoria e nos
unirmos, concretamente, às lutas específicas dos estudantes, em particular,
àquelas relacionadas à gratuidade do ensino, como pelo direito a uma
alimentação de qualidade nas escolas e o passe-livre estudantil. Dando atenção
especial às pautas em que os interesses dos profissionais em educação e dos
estudantes convirjam, como as reformulações curriculares (BNCC, etc.); contra a
Residência Pedagógica (que se liga à luta dos estudantes universitários pelo
direito à extensão e contra a precarização do trabalho docente); Escola sem
Partido; contra os cortes de verbas para o ensino público, entre outras
políticas e medidas impostas pelos gerenciamentos de turno em todas as esferas.
Companheiras e companheiros,
Se tomarmos a situação em qualquer escola no estado, encontraremos os
trabalhadores em educação altamente descontentes com as medidas dos governos de
plantão, com seus salários arrochados e atrasados, falta de recursos e
estrutura na escola para garantir o mínimo de apoio didático para as aulas.
Os trabalhadores em educação, com seus salários atrasados, atrasam o
pagamento das contas de suas casas, de aluguel, água, luz, telefone, cartão de
crédito. Além disso, muitos se encontram endividados, com créditos consignados,
e quando cai a primeira parcela do pagamento, o banco já faz o desconto e muitas
vezes esses trabalhadores só veem a cor do dinheiro na segunda parcela que
recebem já no final do mês. Isto em uma situação em que muitos professores são
“arrimos de família”, pois com o desemprego crescente no país, acaba ficando
para esses profissionais a responsabilidade total de famílias inteiras. Os
juros das dívidas que os professores têm que pagar não são acrescidos nos
salários atrasados, dificultando ainda mais a manutenção de suas casas,
faltando, cada vez mais, recursos para itens básicos como alimentação.
Esta é a situação objetiva sob
a qual vai se represando muita revolta. Quando há divisão entre os
trabalhadores em educação em entrar em greve no 5º dia útil até receber os
salários, e se muitos não querem paralisar suas atividades, na maioria das
vezes, é porque desconfiam que esta forma de luta não dará resultado e não
confiam na direção estadual do sindicato que está totalmente envolvida em
joguetes eleitorais. Enquanto, na rede estadual de ensino, os trabalhadores em
educação recebem abaixo do piso salarial nacional, a cúpula da direção estadual
do SIND-UTE/MG faz de tudo para blindar o governador Pimentel que é quem no
momento tem aplicado essas medidas, inclusive dando declarações de que “a
polícia é mais importante para a sociedade que os trabalhadores da educação e
da saúde, e por isso devem ter prioridade no pagamento de salários”. O esforço
da cúpula da direção estadual do sindicato não é para fortalecer a luta e
organização dos professores, mas para fazer vistas grossas ao atraso no
pagamento de salários e ensalçando a PEC do piso estadual, transformando isto
numa batalha parlamentar para desgastar o PSDB de Anastasia e terem algum
fôlego para reelegerem o PT no governo do Estado. Esse joguete eleitoral não
interessa à luta dos trabalhadores em educação e às massas populares em nosso
país. Seja qual for o governante que vencer as eleições, aplicará as mesmas
medidas de arrocho e atraso nos pagamentos de salários e sucateamento das
escolas, tendo em vista que ambos fazem parte do Partido Único, que só se
divergem no varejo, mas se aliam no atacado, para frear a luta do povo (vide
Pimentel/PT e os trabalhadores em educação 2015/2018). Só a nossa organização
poderá impedir, através de resistência, os ataques à educação.
Para aplicar a linha da greve de ocupação, devemos ter em vista que o
trabalho político deve ser feito com paciência e persistência. Não devemos ver
os trabalhadores em educação como um só bloco, como gente desinteressada e que
não quer lutar, mas sim como nossos companheiros de classe. Devemos aprofundar
nossa politização, nosso trabalho de propaganda, acumulando no dia a dia para
dar saltos em nossa organização. Se agirmos assim, estaremos preparados para
dar uma direção mais justa nos momentos em que as lutas mais generalizadas
estourarem.
Vivemos um novo momento da luta de classes em nosso país. Aqui e acolá por
todo o país estouram revoltas e rebeliões, cada vez mais frequentes. Mesmo
entre os professores tivemos importantes iniciativas, como na greve de 42 dias
no início do ano e as paralisações que estão ocorrendo todo o mês em várias
escolas do Estado. A firmeza e combatividade da recente greve da educação
infantil em Belo Horizonte também nos dá esses sinais. Em Vespasiano, a greve
da rede municipal de ensino enlouqueceu a prefeita que teve que enfrentar a
direção combativa dos companheiros da direção da subsede do SIND-UTE/MG de
Vespasiano e São José da Lapa. Por todo o país os trabalhadores em educação
resistem às medidas de ataque à educação. A recente greve dos caminhoneiros que
pararam completamente o país por uma semana deu indicações importantes da
disposição de nosso povo de lutar e indicou que somente com organização e
combatividade podemos impor nossas reivindicações e conquistar nossos direitos.
Atrevemo-nos a transformar nossas escolas em trincheiras da luta popular!
Propostas:
1- Realizar seminários por escola, principalmente onde trabalhamos, com o
estudo deste documento como forma de reposição.
2- Organizar grupos de base do Comando de Luta Classista dos Trabalhadores
em Educação por escola.
3- Apoiar a organização e formação independente dos estudantes e seus
grêmios;
4- Desenvolver debates com toda comunidade escolar (Professores,
funcionários, estudantes e pais) sobre a defesa da escola pública gratuita e
que sirva ao povo;
5- Promover atividades culturais que valorizem a cultura popular;
6- Debater sobre formas de aliar os conteúdos escolares aos temas políticos
a serem trabalhados com os estudantes na escola conforme a demanda;
7- Promover debates sobre a farsa eleitoral nas escolas.
Vespasiano, 11 de agosto de 2018
Comando de Luta Classista dos
Trabalhadores em Educação”
[1] O Capitalismo burocrático é a forma que o sistema
capitalista se desenvolveu nos países atrasados, nos quais a revolução burguesa
(Revolução Democrática) ainda não se concretizou, é um capitalismo que fora
desenvolvido de fora para dentro pelas potências imperialistas com objetivo de
manter seu domínio e aumentar seu saqueio, por isso dizemos que foi engendrado.
É caracterizado por se sustentar sobre relações não capitalistas de tipo
feudais ou semifeudais de modo a manter o país atrasado economicamente e assim
manter a condição de país consumidor dos produtos das potências imperialistas,
exportador de matéria-prima (in natura como Commodities – produtos que possuem
seu valor determinado pelo sistema financeiro internacional) e subjugado
politicamente, por isso estes países são caracterizados como colônias ou
semicolônias, dependendo do grau de dominação. Tais formas de dominação se
mantêm desenvolvendo com uma aparência de capitalismo contudo mantêm em sua
essência os elementos não capitalistas e de dependência (exemplo o agronegócio
e as montadoras e automóveis). O atraso nas relações econômicas se reflete em
um sistema de governo subserviente, anti-povo e anti-nação, como também em
formas culturais alienante e conservadoras, dado que seu objetivo é desenvolver
as melhores condições para a inversão de capitais de seus amos imperialistas.
Nos países em que se desenvolveu o capitalismo burocrático segue pendente a
Revolução Democrática, que não pode mais ser levada a termo pela burguesia, e
deve ser compreendida como a primeira tarefa revolucionária a ser levada a cabo
pela frente única revolucionária como Revolução Democrática de novo tipo,
baseada na aliança operário-camponesa cujo conteúdo é revolução agrária e
anti-imperialista, para destruir o latifúndio e desenvolver a industrialização
e nacionalização das riquezas nacionais.
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