"Estamos aqui pela Humanidade!" Comuna de Paris, 1871 - "Sejamos realistas, exijamos o impossível." Maio de 68

R. Hermilo Alves, 290, Santa Tereza, CEP: 31010-070 - Belo Horizonte/MG (Ônibus: 9103, 9210 - Metrô: Estação Sta. Efigênia). Contato: institutohelenagreco@gmail.com

Reuniões abertas aos sábados, às 16H - militância desde 2003.

terça-feira, 26 de junho de 2012

CORONEL USTRA É CONDENADO

COMUNICADO DO COLETIVO MERLINO

CORONEL USTRA É CONDENADO

 POR DANOS MORAIS PELA MORTE DO 

JORNALISTA LUIZ EDUARDO MERLINO

Diante da impossibilidade de processos judiciais criminais bloqueados pelo atual entendimento do Poder Judiciário sobre a extensão da anistia aos torturadores, e depois de uma tentativa de uma “ação declaratória” na área cível, extinta pelo Tribunal de Justiça, a família de Luiz Eduardo da Rocha Merlino – sua ex-companheira, Angela Mendes de Almeida, e sua irmã, Regina Merlino – moveram uma ação por “danos morais” contra o Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, comandante do DOI-CODI de São Paulo.

E a juíza Cláudia de Lima Menge, acaba de dar ganho de causa à ação, condenando o réu ao pagamento de R$ 50.000,00 reais a cada uma das autoras do processo. Na sua sentença ela narra, a partir do depoimento de testemunhas, como Merlino foi preso em Santos, em casa de sua mãe, em 15 de julho de 1971; como foi torturado durante 24 horas seguidas no “pau-de-arara” e jogado em uma cela solitária. Narra ainda que como consequência teve graves complicações circulatórias nas pernas, não tratadas, que redundaram em sua morte. Narra como o coronel Ustra negou atendimento médico decidindo a sua morte. Narra como uma testemunha ouviu dizer que seu cadáver foi levado para um “passeio” e esmagado por um caminhão, a fim de corroborar a falsa versão de que ele havia se suicidado em uma estrada a caminho do Rio Grande do Sul.

Em sua sentença a juíza ainda declara que as testemunhas de defesa arroladas pelo coronel Ustra nada souberam informar sobre os fatos.

A sentença reconhece que as autoras sofreram danos morais como decorrência dos atos de tortura praticados pelo réu, que resultaram na morte daquele que era respectivamente companheiro e irmão. Reconhece, ainda, que “a indenização almejada não será capaz de sanar a dor suportada pelas autoras, nem suprir-lhes a ausência do ente querido”

O Coletivo Merlino declara que nenhum dinheiro poderá, nunca, repor a vida de um jovem brilhante que via o seu futuro ligado à redenção da miséria do povo brasileiro.

Para a família a ação por danos morais foi o único recurso pelo qual era possível fazer algo para não deixar impune esse crime. Mas esta vitória obtida se insere na luta de todos os familiares de mortos e desaparecidos, bem como de todos os torturados e perseguidos pela ditadura militar.

Conscientes de que a impunidade dos crimes da ditadura militar alimenta a impunidade dos crimes dos agentes de Estado hoje.

Pela MEMÓRIA, VERDADE E JUSTIÇA

segunda-feira, 25 de junho de 2012

ATO EM SOLIDARIEDADE AOS OPERÁRIOS DE JIRAU - DIA 28 DE JUNHO, QUINTA-FEIRA, ÀS 18:30 NO SINDADOS/BH

                                                                                                                                                                                                                       - MANIFESTAÇÃO PÚBLICA DE APOIO AOS OPERÁRIOS DE JIRAU, COM A PRESENÇA DO COMPANHEIRO RAIMUNDO BRAGA DA CRUZ SOUZA, PRESO E TORTURADO NOS CANTEIROS DE OBRA DA CAMARGO CORREA E NO PRESÍDIO URSO BRANCO, RONDÔNIA.

COMPORÃO A MESA DE TRABALHO: RAIMUNDO BRAGA, ERMÓGENES JACINTO DE SOUZA(ABRAPO) E MILITANTES DA LIGA OPERÁRIA, SINTECT, CSP-CONLUTAS, INSTITUTO HELENA GRECO DE DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA E DO FÓRUM PERMANENTE DE SOLIDARIEDADE ÀS OCUPAÇÕES-BH.

DIA 28 DE JUNHO/2012, 5ªFEIRA, ÀS 18:30H.
SINDADOS-RUA DAVI CAMPISTA-150-FLORESTA-BH. 


ASSINAM ESTA CONVOCATÓRIA: 
FÓRUM PERMANENTE DE SOLIDARIEDADE ÀS OCUPAÇÕES-FPSO/BH, A LIGA OPERÁRIA, O SINTECT, STIC-BH/MARRETA E O SINDADOS, MOVIMENTO ESTUDANTIL POPULAR REVOLUCIONÁRIO E MOVIMENTO FEMININO POPULAR.







PRIMEIRA REUNIÃO DA COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE COM OS FAMILIARES DE MORTOS E DESAPARECIDOS POLÍTICOS

Reunião histórica entre a CNV e os familiares 


de mortos e desaparecidos políticos: 11/6/12

Pedro Pomar ( neto de Pedro Ventura Pomar, assassinado em 1976, na chacina da Lapa, São Paulo - SP).

Participaram da reunião de 11/6 em São Paulo com familiares de mortos e desaparecidos políticos vítimas da Ditadura Militar, no Gabinete Regional da Presidência da República, cinco membros da Comissão Nacional da Verdade (CNV): Gilson Dipp (atual coordenador), José Carlos Dias, Maria Rita Khel, Paulo Sérgio Pinheiro, Rosa Cardoso.

Os familiares eram cerca de 60. Parte deles era de São Paulo e parte veio do Rio de Janeiro, do Distrito Federal, de Pernambuco, Goiás e outros Estados.
Quem instalou a reunião formalmente foi Gilson Dipp. Mas ela teve início, efetivamente, quando Rosa Cardoso leu um texto de sua autoria, saudando os familiares. Depois manifestou-se Paulo Sérgio Pinheiro, que, após sustentar que não há problemas de relacionamento entre os membros da CNV, discorreu sobre o “mandato” da comissão.
Baseando-se no parecer de Eduardo Gonzalez Cueva (ICTJ), embora sem citá-lo, Paulo Sérgio disse que, pelo fato de haver sido instituída pelo poder legislativo e não pelo executivo, a CNV dispõe de “maiores poderes operativos” do que a maioria de suas congêneres (das 44 existentes, 30 foram instituídas pelo executivo). Assim, a CNV, afirmou, terá poderes de investigação semelhantes aos do Ministério Público Federal. Também a Lei do Acesso facilitará o trabalho da comissão: a CNV “tem acesso a qualquer documento”, disse ele, independentemente da sua classificação (sigiloso, ultra-sigiloso etc.). A título de comparação, lembrou que a Comissão da Verdade argentina “não teve acesso a nenhum documento das FFAA argentinas”.  Ele citou ainda o “enorme acervo” de informações colhidas pelas comissões da Anistia e Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos.
Paulo Sérgio comentou que a Comissão Rettig (Chile) não tinha poderes jurisdicionais e que “nenhuma comissão tinha poder para punir”. Disse que a CNV dispõe de um “mandato taxativo para esclarecer graves violações de direitos humanos” e que será “neutra” no tocante à Lei da Anistia. “A lei é neutra, a meu ver”, afirmou, referindo-se à lei que criou a CNV.
Ele revelou que a CNV ainda está “desenvolvendo metodologias” e que pretende definir uma agenda de visitas aos Estados. “Nós não vamos trabalhar sozinhos”, enfatizou, observando que existem comissões da verdade em vários Estados.
“Dois lados” e “revanchismo”
Encerrada a exposição de Paulo Sérgio, foi aberta a palavra aos familiares. O primeiro a falar foi Ivo Herzog, filho de Vladimir Herzog, que fez duas indagações à comissão: qual a posição da CNV relativamente à questão dos “dois lados”; e se a CNV pretende divulgar um relatório mensal de atividades.
Em seguida, Suzana Lisbôa leu carta aberta assinada por um grupo de familiares, que propõe à CNV que investigue os crimes da Ditadura Militar (1964-85) com a finalidade de identificar autores intelectuais e materiais das atrocidades. A carta sugere um roteiro de trabalho, que as reuniões sejam públicas, e solicita aos integrantes da CNV “que não mais usem o termo revanchismo quando se referirem à nossa busca por Justiça” (vide íntegra da carta e seus signatários ao final).
Luis Rabelo, filho de Jorge Leal Gonçalves, informou que recebeu um atestado de óbito do seu pai sem informação alguma e que isso é inaceitável: “Enquanto houver um atestado como esse, a Ditadura não acabou”. 

Iara Xavier, familiar de Iuri e Alex Xavier, criticou a CNV: “Nós esperávamos ouvir um plano de trabalho mais concreto”. Ela propôs focar os trabalhos da comissão nos mortos e desaparecidos; realizar audiências públicas (e não sigilosas); que todos os familiares possam depor, e que sejam ouvidos “com todo o tempo, cuidado e respeito que merecem”. Ela ainda dirigiu as seguintes questões aos comissários: qual a estrutura disponível?, que membro entre vocês vai ser o canal com os familiares?, como vai ser a equipe de apoio, antropólogos forenses, se vai haver convênios para extração e identificação de DNA.

A palavra voltou à CNV, para responder e comentar a primeira rodada de manifestações dos familiares. Paulo Sérgio Pinheiro respondeu à pergunta de Ivo Herzog: “Esta história dos ‘dois lados’ não pertence a nós”, declarou. Enquanto falava foi interrompido por José Carlos Dias, que estava a seu lado na mesa. O ex-ministro da Justiça fez questão de negar que defenda a investigação dos “dois lados”, e disse: “Saiu uma declaração na Folha [de S. Paulo] como se fosse minha”. Em seguida Paulo Sérgio reiterou que a “opinião unânime da comissão” é que sejam investigados apenas os crimes do Estado.
Paulo Sérgio respondeu à crítica de Iara: “É óbvio que o plano de trabalho não seria apresentado aqui hoje”. Ele disse, porém, que existe “clareza” na CNV quanto a “dar prioridade aos [casos de] mortos e desaparecidos”. Também manifestou concordância com o teor da carta lida por Suzana. Sobre tornar públicas as audiências, pedido apresentado na carta e também por Iara, declarou: “Não sabemos se todas as reuniões vão ser públicas”. 
Dossiê dos mortos e desaparecidos
Nova rodada de intervenções dos familiares teve início com Bernardo Kucinski, irmão de Ana Rosa Kucinski. “O caráter não público é a questão central”, criticou. Ele defendeu que todas as reuniões da CNV devem ser abertas, “inclusive esta”.
Em seguida falou Marta Nehring, filha de Norberto Nehring, que levantou problemas criados por torturadores que alegam “danos de imagem” em filmes e outras obras que falem de Brilhante Ustra e outros.
Victoria Grabois, que perdeu o pai, Mauricio Grabois, o marido, Gilberto Olimpio, e o irmão André Grabois no Araguaia, manifestou-se opinando que a CNV vai “dar em nada”, criticando as omissões do governo ao longo de décadas. Ela fez uma fala longa e emocionada. Lembrou que Gilson Dipp, membro da comissão, atuou como perito do Brasil no julgamento do caso dos guerrilheiros desaparecidos do Araguaia na Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).
Rosalina Santa Cruz, irmã de Fernando Santa Cruz, relatou: “Minha mãe fará 100 anos de idade quando se completarem os trabalhos da CNV”. Disse que ela e os irmãos conversaram sobre se deveriam contar à mãe, e como contar, a declaração do ex-delegado Cláudio Guerra de que o corpo de Fernando foi incinerado, chegaram a pensar em levar uma ambulância, para o caso de que ela passasse mal. Finalmente contaram à mãe, e a resposta dela foi: “Já apuraram? Enquanto não apurarem, não quero saber”.
 

Amélia Telles fez uma rápida fala e entregou a cada um dos comissários um exemplar do Dossiê dos Mortos e Desaparecidos Políticos, edição de 2009, explicando tratar-se de um produto do trabalho dos familiares que poderá contribuir com a CNV.
 
Cândida Cappello Guariba, neta de Heleny Guariba,
desaparecida em 1971, leu um texto em que elencou uma série de pedidos: que se inclua na conta de mortos e desaparecidos políticos os camponeses (em torno de 250) e os indígenas (em torno de 2.000); que se faça uma lista de “afetados/vítimas” incluindo torturados, perseguidos e exilados (estima-se em torno de 30.000 o número de torturados); que se faça uma lista de torturadores; que se faça uma lista de colaboradores (jornais, tvs, empresas, multinacionais) e de como se deu sua atuação; que se esclareça qual foi o apoio internacional dado ao golpe; que se esclareça como se deu a Operação Condor; que se faça uma revisão histórica do que significou o golpe de 1964: como e por quem o golpe foi dado? quem o planejou? quais foram as partes envolvidas? etc. Dirigiu-se a Gilson Dipp: “Parece que o senhor participou do julgamento na CIDH, gostaria que esclarecesse qual foi sua atuação/papel lá”. Pediu ainda que seja “quebrado o pacto do possível no qual esta comissão foi constituída; que se saiba quem são os culpados impunes das barbáries cometidas; que não haja mais desaparecidos nessa história”.

Filha de guerrilheiro seqüestrada

Manoel Cirillo, ex-preso político, contou a história de seu tio, João Carlos Cavalcanti Reis, que foi torturado e morto. “O corpo do meu tio é um verdadeiro corpo de delito, porque ele foi entregue em caixão lacrado. Eu exijo a exumação. O Estado diz que ele morreu num tiroteio e ele entrou no IML de cueca e meia. Eu fui torturado e sei que ninguém é torturado de roupa”. Cirillo quer que sua condenação pelo sequestro do embaixador americano seja retirada, já que lutava pelo legítimo direito de restaurar a democracia.
Igor Grabois afirmou que prevalece ainda hoje a verdade da Ditadura Militar, e que existe uma preocupação “de descaracterizar o crime de ocultação de cadáver”.
Maria Eliane Pinheiro, irmã de Antonio Theodoro de Castro, desaparecido do Araguaia, revelou que sua família descobriu uma possível filha dele, sequestrada pelos militares. Colheram DNA, que apontou 90% de possibilidade de ser idêntico ao de Theodoro (comparado ao dos irmãos). Contudo, o governo não quer fazer contraprova. Dizem que há oito filhos sequestrados de guerrilheiros do Araguaia.
José Dalmo Ribas questionou a efetiva capacidade de dedicação dos membros da CNV à tarefa que têm pela frente: “Qual é o tempo de que vocês dispõem, para chamar para si uma missão de tal envergadura?”
 

Aldo Balboni, irmão de Luiz Fogaça Balboni, falou da importância de resgatar a memória. Com a indenização recebida, a família construiu o “Parque do Zizo”, em São Miguel Arcanjo, pequena cidade onde Luiz cresceu e onde foi taxado de terrorista.

“No sábado faz 40 anos que minha irmã Maria Lúcia Petit foi executada, ela tinha 22 anos”, disse Laura Petit, que perdeu três irmãos no Araguaia. “O Estado brasileiro continua até hoje em guerra contra nós”, afirmou, após relatar as dificuldades de sua família para obter informações. Falou do julgamento da CIDH, criticando o Brasil: “O Estado colocou como seu representante não a Secretaria de Direitos Humanos, mas o Ministério da Defesa. O sr. Gilson Dipp atuou como perito do Estado contra nós”. Laura disse também que, numa conversa com uma pessoa do governo, esta lhe disse: “Estamos no mesmo barco”, ao que ela respondeu: “Não, estamos em barcos diferentes, e opostos”.


Pacto com os militares
Vera Paiva, filha do ex-deputado Rubens Paiva, falou da importância do momento. Fez referência à Comissão da Verdade da USP. Citou o caso de Ana Rosa Kucinski, demitida pela Congregação do Instituto de Química da USP por abandono de emprego quando já havia sido assassinada, e recomendou a todos a leitura de K., livro de Bernardo Kucinski.
A viúva de Virgílio Gomes da Silva contou sobre os esforços para localização do corpo: “Ver escavação é a coisa mais dolorosa que tem”, relatou.
Virgílio Gomes da Silva Filho protestou contra o que chamou de hipocrisia: “Os assassinos estão aí. A gente não tem que provar mais nada. As pessoas [os torturadores] têm que pagar a dor de 40 anos, pagar as humilhações. O povo tem o direito de se levantar [contra a Ditadura Militar]”.
Angela Mendes de Almeida, que foi companheira de Luiz Merlino, falou da relação entre a impunidade dos torturadores que agiam a serviço da Ditadura Militar e, na atualidade, as políticas de extermínio de pobres e negros.
Pedro Pomar, neto do ex-deputado Pedro Ventura Felipe Pomar, considerou um avanço a realização da reunião entre CNV e familiares, lembrando que desde o início da tramitação do projeto de lei os familiares tentaram, mas não conseguiram ser recebidos pela presidenta Dilma Rousseff. Falou do pacto do governo com os militares, que conseguiu embutir no projeto um “cavalo de Tróia”, a idéia da “reconciliação nacional”. Enfatizou que os familiares não desejam reconciliar-se com assassinos e torturadores. Afirmou que a CNV só alcançará resultados consistentes se enfrentar e superar o pacto com os militares. Reiterou a proposta feita por Cândida Guariba, de que Dipp explicasse seu papel na Costa Rica, e informou a ele que o Comitê Paulista MVJ pediu à presidenta que revisse sua nomeação como membro da comissão. 
Também se manifestaram Ivan Akselrud Seixas, Lorena Moroni Girão Barroso e outra familiar do Rio de Janeiro.
Esclarecimentos de Gilson Dipp
Gilson Dipp atendeu aos pedidos de esclarecimento. Primeiro contou que seu pai “foi colega de turma de João Goulart, foi deputado pelo PTB de Jango e Brizola”, e que seu irmão “é deputado pelo PDT no Rio Grande do Sul”. Depois disse ter atuado apenas como perito na CIDH, no caso do Araguaia, com a única finalidade de explicar como funcionam, no sistema legal brasileiro, as Ações por Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPFs). Ele disse que não entrou no mérito da ADPF 153, relacionada à Lei da Anistia, julgada pelo STF em 2010. “Em 2009, por proposta minha, o STJ convidou e trouxe a CIDH para fazer uma; sessão de julgamento no Brasil”, contou. “O Brasil não cumpre tratados internacionais. O Brasil deve sim se sujeitar às prescrições da Corte Interamericana”, declarou.
Antes de a reunião terminar, Rosa Cardoso propôs que os comentários dos familiares fossem incorporados como observações que a CNV levará em conta, e que uma nova reunião seja realizada dentro de dois meses. José Carlos Dias, porém, afirmou que talvez seja contraproducente fazer uma nova reunião nesse prazo, se não houver nada de novo a apresentar aos familiares. Paulo Sérgio Pinheiro, por sua vez, propôs que os familiares escolhessem representantes. Ambas as questões ficaram em aberto.

NOTÍCIAS DO PARAGUAI



Monsanto e os acontecimentos no Paraguai: Os mortos 

de Curuguaty e o julgamento político de Lugo

Foram muitos os sinais que antecederam o golpe contra o presidente Fernando Lugo: a maneira como ocorreu o conflito em Curuguaty que deixou 17 mortos, a presença de franco-atiradores entre os camponeses, a campanha via jornal ABC Color contra os funcionários do governo que se opunham à liberação das sementes de algodão transgênico da Monsanto, a convocação de um tratoraço nacional com bloqueio de estradas para o dia 25. O jornalista paraguaio Idilio Méndez Grimaldi conta essa história e adverte: "os mortos de Curugaty carregam uma mensagem para a região, especialmente para o Brasil". O artigo foi reproduzido pela Carta Maior, 23-06-2012.
A tradução é de Marco Aurélio Weissheimer.

O artigo de Idilio Méndez Grimaldi foi escrito dias antes da aprovação, no Senado paraguaio, da abertura do processo de impeachment de Fernando Lugo.

Eis o artigo.
Quem está por trás desta trama tão sinistra? Os impulsionadores de uma ideologia que promove o lucro máximo a qualquer preço e quanto mais, melhor, agora e no futuro. No dia 15 de junho de 2012, um grupo de policiais que ia cumprir uma ordem de despejo no departamento de Canindeyú, na fronteira com o Brasil, foi emboscado por franco-atiradores, misturados com camponeses que pediam terras para sobreviver. A ordem de despejo foi dada por um juiz e uma promotora para proteger um latifundiário. Resultado da ação: 17 mortos, 6 policiais e 11 camponeses, além de dezenas de feridos graves. As consequências: o governo frouxo e tímido de Fernando Lugo caiu com debilidade ascendente e extrema, cada vez mais à direita, a ponto de ser levado a julgamento político por um Congresso dominado pela direita.

Trata-se de um duro revés para a esquerda e para as organizações sociais e campesinas, acusadas pela oligarquia latifundiária de instigar os camponeses. Representa ainda um avanço do agronegócio extrativista nas mãos de multinacionais como a Monsanto, mediante a perseguição dos camponeses e a tomada de suas terras. Finalmente, implica a instalação de um cômodo palco para as oligarquias e os partidos de direita para seu retorno triunfal nas eleições de 2013 ao poder Executivo.

No dia 21 de outubro de 2011, o Ministério da Agricultura e Pecuária, dirigido pelo liberal Enzo Cardozo, liberou ilegalmente a semente de algodão transgênico Bollgard BT, da companhia norteamericana de biotecnologia Monsanto, para seu plantio comercial no Paraguai. Os protestos de organizações camponesas e ambientalistas foram imediatos. O gene deste algodão está misturado com o gene do Bacillus thurigensis, uma bactéria tóxica que mata algumas pragas do algodão, como as larvas do bicudo, um coleóptero que deposita seus ovos no botão da flor do algodão.

O Serviço Nacional de Qualidade e Saúde Vegetal e de Sementes (Senave), instituição do Estado paraguaio dirigida por Miguel Lovera, não inscreveu essa semente nos registros de cultivares pela falta de parecer do Ministério da Saúde e da Secretaria do Ambiente, como exige a legislação.

Campanha midiática

Nos meses posteriores, a Monsanto, por meio da União de Grêmios de Produção (UGP), estreitamente ligada ao grupo Zuccolillo, que publica o jornal ABC Color, lançou uma campanha contra oSenave e seu presidente por não liberar o uso comercial em todo o país da semente de algodão transgênico da Monsanto. A contagem regressiva decisiva parece ter iniciado com uma nova denúncia por parte de uma pseudosindicalista do Senave, chamada Silvia Martínez, que, no dia 7 de junho, acusou Lovera de corrupção e nepotismo na instituição que dirige, nas páginas doABC Color. Martínez é esposa de Roberto Cáceres, representante técnico de várias empresas agrícolas, entre elas a Agrosan, recentemente adquirida por 120 milhões de dólares pela Syngenta, outra transnacional, todas sócias da UGP.


No dia seguinte, 8 de junho, a UGP publicou no ABC uma nota em seis colunas: “Os 12 argumentos para destituir Lovera”. Estes supostos argumentos foram apresentados ao vice-presidente da República, correligionário do ministro da Agricultura, o liberal Federico Franco, que naquele momento era o presidente interino do Paraguai, em função de uma viagem de Lugo pela Ásia.

No dia 15, por ocasião de uma exposição anual organizada pelo Ministério da Agricultura e Pecuária, o ministro Enzo Cardoso deixou escapar um comentário diante da imprensa que um suposto grupo de investidores da Índia, do setor de agroquímicos, cancelou um projeto de investimento no Paraguai por causa da suposta corrupção no Senave. Ele nunca esclareceu que grupo era esse. Aproximadamente na mesma hora daquele dia, ocorriam os trágicos eventos de Curuguaty.

No marco desta exposição preparada pelo citado Ministério, a Monsanto apresentou outra variedade de algodão, duplamente transgênica: BT RR, ou Resistente ao Roundup, um herbicida fabricado e patenteado pela transnacional. A pretensão da Monsanto é a liberação desta semente transgênica no Paraguai, tal como ocorreu na Argentina e em outros países do mundo.

Antes desses fatos, o diário ABC Color denunciou sistematicamente, por supostos atos de corrupção, a ministra da Saúde, Esperanza Martínez, e o ministro do Ambiente, Oscar Rivas, dois funcionários do governo que não deram parecer favorável a Monsanto.

Em 2001, a Monsanto faturou 30 milhões de dólares, livre de impostos (porque não declara essa parte de sua renda), somente na cobrança de royalties pelo uso de sementes de soja transgênica no Paraguai. Toda a soja cultivada no país é transgênica, numa extensão de aproximadamente 3 milhões de hectares, com uma produção em torno de 7 milhões de toneladas em 2010.

Por outro lado, na Câmara de Deputados já se aprovou o projeto de Lei de Biossegurança, que cria um departamento de biossegurança dentro do Ministério da Agricultura, com amplos poderes para a aprovação para cultivo comercial de todas as sementes transgênicas, sejam de soja, de milho, de arroz, algodão e mesmo algumas hortaliças. O projeto prevê ainda a eliminação da Comissão de Biossegurança atual, que é um ente colegiado forma por funcionários técnicos do Estado paraguaio.

Enquanto transcorriam todos esses acontecimentos, a UGP preparava um ato de protesto nacional contra o governo de Fernando Lugo para o dia 25 de junho. Seria uma manifestação com máquinas agrícolas fechando estradas em distintos pontos do país. Uma das reivindicações do chamado “tratoraço” era a destituição de Miguel Lovera do Senave, assim como a liberalização de todas as sementes transgênicas para cultivo comercial.

As conexões

UGP é dirigida por Héctor Cristaldo, apoiado por outros apóstolos como Ramón Sánchez – que tem negócios com o setor dos agroquímicos -, entre outros agentes das transnacionais do agronegócio. Cristaldo integra o staff de várias empresas do Grupo Zuccolillo, cujo principal acionista é Aldo Zuccolillo, diretor proprietário do diário ABC Color, desde sua função sob o regime deStroessner, em 1967. Zuccolillo é dirigente da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP).


O grupo Zuccolillo é sócio principal no Paraguai da Cargill, uma das maiores transnacionais do agronegócio no mundo. A sociedade entre os dois grupos construiu um dos portos graneleiros mais importantes do Paraguai, denominado Porto União, a 500 metros da área de captação de água da empresa de abastecimento do Estado paraguaio, no Rio Paraguai, sem nenhuma restrição.

As transnacionais do agronegócio no Paraguai praticamente não pagam impostos, mediante a férrea proteção que tem no Congresso, dominado pela direita. A carga tributária no Paraguai é apenas de 13% sobre o PIB. Cerca de 60% do imposto arrecadado pelo Estado paraguaio é via Imposto sobre Valor Agregado (IVA). Os latifundiários não pagam impostos. O imposto imobiliário representa apenas 0,04% da carga tributária, cerca de 5 milhões de dólares, segundo estudo do Banco Mundial, embora a renda do agronegócio seja de aproximadamente 30% do PIB, o que representa cerca de 6 bilhões de dólares anuais.

O Paraguai é um dos países mais desiguais do mundo. Cerca de 85% das terras, aproximadamente 30 milhões de hectares, estão nas mãos de 2% de proprietários, que se dedicam à produção meramente para exportação ou, no pior dos casos, à especulação sobre a terra. A maioria desses oligarcas possui mansões em Punta del Este ou em Miami e mantém estreitas relações com transnacionais do setor financeiro, que guardam seus bens mal havidos nos paraísos fiscais ou tem investimentos facilitados no exterior. Todos eles, de uma ou outra maneira, estão ligados ao agronegócio e dominam o espectro político nacional, com amplas influências nos três poderes do Estado. Ali reina a UGP, apoiada pelas transnacionais do setor financeiro e do agronegócio.

Os fatos de Curugaty

Curuguaty é uma cidade na região oriental do Paraguai, a cerca de 200 quilômetros de Assunção, capital do país. A alguns quilômetros de Curuguaty encontra-se a fazenda Morombi, de propriedade do latifundiário Blas Riquelme, com mais de 70 mil hectares nesse lugar. Riquelme provém das entranhas da ditadura de Stroessner (1954-1989), sob cujo regime acumulou uma intensa fortuna. Depois, aliou-se ao general Andrés Rodríguez, que executou o golpe de Estado que derrubou o ditador StroessnerRiquelme, que foi presidente do Partido Colorado por muitos anos e senador da República, dono de vários supermercados e estabelecimentos pecuários, apropriou-se mediante subterfúgios legais de aproximadamente 2 mil hectares que pertencem ao Estado paraguaio.


Esta parcela foi ocupada pelos camponeses sem terra que vinham solicitando ao governo de Fernando Lugo sua distribuição. Um juiz e uma promotora ordenaram o despejo dos camponeses, por meio do Grupo Especial de Operações (GEO), da Polícia Nacional, cujos membros de elite, em sua maioria, foram treinados na Colômbia, sob o governo de Uribe, para a luta contra as guerrilhas.

Só uma sabotagem interna dentro dos quadros de inteligência da polícia, com a cumplicidade da promotoria, explica a emboscada, na qual morreram seis policiais. Não se compreende como policiais altamente treinados, no marco do Plano Colômbia, puderam cair facilmente em uma suposta armadilha montada pelos camponeses, como quer fazer crer a imprensa dominada pela oligarquia. Seus camaradas reagiram e dispararam contra os camponeses, matando 11 e deixando uns 50 feridos. Entre os policiais mortos estava o chefe do GEO, comissário Erven Lovera, irmão do tenente coronel Alcides Lovera, chefe de segurança do presidente Lugo.

O plano consiste em criminalizar, levar até ao ódio extremo todas as organizações campesinas, para fazer os camponeses abandonarem o campo, deixando-o para uso exclusivo do agronegócio. É um processo doloroso, “descampesinização” do campo paraguaio, que atenta diretamente contra a soberania alimentar, a cultura alimentar do povo paraguaio, por serem os camponeses produtores e recriadores ancestrais de toda a cultura guarani.

Tanto o Ministério Público, como o Poder Judiciário e a Polícia Nacional, assim como diversos organismos do Estado paraguaio estão controlados mediante convênios de cooperação com a USAID, agência de cooperação dos Estados Unidos.

O assassinato do irmão do chefe de segurança do presidente da República obviamente foi uma mensagem direta a Fernando Lugo, cuja cabeça seria o próximo objetivo, provavelmente por meio de um julgamento político, mesmo que ele tenha levado seu governo mais para a direita, tratando de acalmar as oligarquias. O ocorrido em Curuguaty derrubou Carlos Filizzola do Ministério do Interior. Em seu lugar, foi nomeado Rubén Candia Amarilla, proveniente do opositor Partido Colorado, o qual Lugo derrotou nas urnas em 2008, após 60 anos de ditadura colorada, incluindo a tirania de Alfredo Stroessner.

Candia foi ministro da Justiça do governo colorado de Nicanor Duarte (2003-2008) e atuou como procurador geral do Estado por um período, até o ano passado, quando foi substituído por outro colorado, Javier Díaz Verón, por iniciativa do próprio Lugo. Candia é acusado de ter promovido a repressão contra dirigentes de organizações campesinas e de movimentos populares. Sua indicação como procurador geral do Estado em 2005 foi aprovada pelo então embaixador dos Estados Unidos, John F. Keen. Candia foi responsável por um maior controle do Ministério Público por parte da USAID e foi acusado por Lugo no início do governo de conspirar para tirá-lo do poder.

Após assumir como ministro político de Lugo, a primeira coisa que Candia fez foi anunciar o fim do protocolo de diálogo com os campesinos que ocupam propriedades. A mensagem foi clara: não haverá conversação, mas simplesmente a aplicação da lei, o que significa empregar a força policial repressiva sem contemplação. Dois dias depois de Candia assumir, os membros do UGP, encabeçados por Héctor Cristaldo, foram visitar o flamante ministro do Interior, a quem solicitaram garantias para a realização do tratoraço no dia 25. No entanto, Cristaldo disse que a medida de força poderia ser suspensa, em caso de sinais favoráveis para a UGP (leia-se: liberação das sementes transgênicas da Monsanto, destituição de Lovera e de outros ministros, entre outras vantagens para o grande capital e os oligarcas), levando o governo ainda mais para a direita.

Cristaldo é pré-candidato a deputado para as eleições de 2013 por um movimento interno do Partido Colorado, liderado por Horacio Cartes, um empresário investigado em passado recente nos Estados Unidos por lavagem de dinheiro e narcotráfico, segundo o próprio ABC Color, que foi ecoado por várias mensagens do Departamento de Estado dos EUA, conforme divulgado porWikileaks. Entre elas, uma se referia diretamente a Cartes, no dia 15 de novembro de 2011.

Julgamento político de Lugo

Enquanto escrevia esse artigo, a UGP (4), alguns integrantes do Partido Colorado e os próprios integrantes do Partido Liberal Radical Autêntico (PLRA), dirigido pelo senador Blas Llano e aliado do governo até então, começaram a ameaçar com a abertura de um processo de impeachment de Fernando Lugo para destituí-lo do cargo de presidente da República. Lugo passou a depender do humor dos colorados para seguir como presidente do país, assim como do de seus aliados liberais, que passaram a ameaçá-lo com um julgamento político, seguramente buscando mais espaços de poder (dinheiro) como condição para a paz. O Partido Colorado, aliado a outros partidos minoritários de oposição tinha a maioria necessária para destituir o presidente de suas funções.


Talvez esperassem “os sinais favoráveis” de Lugo que a UGP – em nome da Monsanto, da pátria financeira e dos oligarcas – estava exigindo do governo. Caso contrário se passaria à fase seguinte, de interrupção deste governo que nasceu como progressista e lentamente foi terminando como conservador, controlado pelos poderes da oposição.

Entre outras coisas, Lugo é responsável pela aprovação da Lei Antiterrorista, patrocinada pelos EUA em todo o mundo depois do 11 de setembro. Em 2010, ele autorizou a implementação da Iniciativa Zona Norte, que consiste na instalação e deslocamento de tropas e civis norteamericanos no norte da região oriental – no nariz do Brasil – supostamente para desenvolver atividades a favor das comunidades campesinas.

A Frente Guazú, coalizão das esquerdas que apoia Lugo, não conseguiu unificar seu discurso e seus integrantes acabaram perdendo a perspectiva na análise do poder real, ficando presos nos jogos eleitorais imediatistas. Infiltrados pelo USAID, muitos integrantes da Frente Guazú, que participavam da administração do Estado, sucumbiram ao canto de sereia do consumismo galopante do neoliberalismo. Se corromperam até os ossos, convertendo-se em cópias vaidosas de novos ricos que integravam os recentes governos do direitista Partido Colorado.

Curuguaty também engloba uma mensagem para a região, especialmente para o Brasil, em cuja fronteira se produziram esses fatos sangrentos, claramente dirigidos pelos senhores da guerra, cujos teatros de operações estão montados no Iraque, Líbia, Afeganistão e, agora, Síria. O Brasil está construindo um processo de hegemonia mundial junto com a Rússia, Índia e China, denominado BRIC. No entanto, os EUA não recuam na tentativa de manter seu poder de influência na região. Já está em marcha o novo eixo comercial integrado por México, Panamá, Colômbia, Peru e Chile. É um muro de contenção aos desejos expansionistas do Brasil na direção do Pacífico.

Enquanto isso, Washington segue sua ofensiva diplomática em Brasília, tratando de convencer o governo de Dilma Rousseff a estreitar vínculos comerciais, tecnológicos e militares. Além disso, a IV Frota dos EUA, reativada há alguns anos após estar fora de serviço desde o fim da Segunda Guerra Mundial, vigia todo o Atlântico Sul, caracterizando um outro cerco ao Brasil, caso a persuasão diplomática não funcione.

E o Paraguai é um país em disputa entre ambos países hegemônicos, sendo ainda amplamente dominado pelos EUA. Por isso, os eventos de Curuguaty representam também um pequeno sinal para o Brasil, no sentido de que o Paraguai pode se converter em um obstáculo para o desenvolvimento do sudoeste do Brasil.

Mas, acima de tudo, os mortos de Curuguaty representam um sinal do grande capital, do extrativismo explorador que assola o planeta e aplasta a vida em todos os rincões da Terra em nome da civilização e do desenvolvimento. Felizmente, os povos do mundo também vêm dando respostas a estes sinais da morte, com sinais de resistência, de dignidade e de respeito a todas as formas de vida no planeta.




quinta-feira, 14 de junho de 2012

INTERVENÇÃO DE CÂNDIDA GUARIBA NA 1ª REUNIÃO DA CNV

Companheiras, companheiros,
        O IHG divulga o  depoimento da companheira Cândida Guariba - neta da companheira   HELENY GUARIBA, desaparecida em julho de 1971.  A  fala de Cândida se deu na última 2a feira, 11/06/2012 , na primeira sessão pública da Comissão Nacional da Verdade.
        Fazemos nossas as palavras da companheira Cândida.  Sua intervenção merece ser transformada em manifesto unitário à CNV.

" Oi, meu nome é Cândida Cappello Guariba, sou neta de Heleny Guariba:
diretora de teatro, professora universitária, presa, torturada,
sequestrada, assassinada, desaparecida em julho de 1971 por lutar contra a
ditadura. 
Bem, vou ler alguns pontos que preparei para pedir que sejam incluídos no
trabalho da CNV e um paragrafosinho final estou certa de que da lista de pedidos que lerei a seguir,parte se inclui na lei que instituiu esta comissãoe parte não. 

Lerei todos:
- que se inclua na conta de mortos e desaparecidos políticos os camponeses
mortos (que até onde eu ouvi são em torno de 250) e os indígenas mortos
(que até onde eu ouvi são em torno de 2000) - que o estado reconheça este
genocídio
- que se faça uma lista de "afetados/vítimas" incluindo torturados,
perseguidos e exilados (estima-se em torno de 30.000 o número de
torturados)
- que se faça uma lista de torturadores, incluindo todos as pessoas que
trabalharam nos aparelhos da repressão
- que se faça uma lista de colaboradores (jornais, tvs, empresas,
multinacionais) e de como se deu sua atuação
- que se esclareça qual foi o apoio internacional dado ao Brasil, tanto
por multinacionais como por governos, e como este se deu
- que se esclareça como se deu a operação condor e qual foi a relação da
ditadura brasileira com as demais ditaduras da américa do sul
- que se faça uma revisão histórica do que significou o golpe de 64: como
e por quem o golpe foi dado? (quem o planejou? quais foram as partes
envolvidas? qual o papel de cada uma? quais os interesses do golpe? a quem
ele servia? foi um golpe militar ou, mais que isso, um golpe de classe?)
- que se faça um relatório sobre qual é a relação de crimes que continuam
ocorrendo (de violação de direitos humanos, corrupção, abuso de poder,
repressão e criminalização dos movimentos sociais) com a ditadura (métodos
que foram repassados, pessoas que continuam no poder)
- questão gilson dipp - bem, eu não conheço a fundo o caso Gomes Lund,
guerrilha do Araguaia X Brasil, mas parece que o senhor participou do
julgamento na corte interamericana de direitos humanos. Gostaria que
esclarecesse qual foi sua atuação/papel lá.
- que seja feita uma parceria com o MPF
- que seja quebrado o pacto do possível no qual esta comissão foi
constituída, este é um apelo que parece subjetivo mas, ao meu ver, é bem
objetivo
- que se saiba quem são os culpados impunes das barbáries cometidas
- que não aja mais desaparecidos nessa história
- que, se alguns destes talvez pretensiosos pedidos não puderem ser
acatados, que haja uma declaração oficial sobre o ponto.

O Estado não tem o poder de estabelecer ou "restituir" minha paz familiar,
não tem o poder de me reconciliar com aqueles que me oprimem e oprimem a
sociedade, aqueles que reprimiram a possibilidade de um avanço social
dando o golpe de 64 e que reprimiram e trucidaram a resistência a
ditadura.

O Estado não pode me dar a memória da avó que eu não tive, nem ao meu pai
e ao meu tio a memória da mãe que o Estado tirou a vida tão cedo, nem as
famílias que perdem seus pais e filhos diariamente na guerra do Estado
contra a pobreza, cujo pretexto, no presente momento, é a guerra, há tanto
perdida, contra o tráfico de drogas. aqui vale comentar que a especulação
imobiliária muitas vezes faz o Estado ir além disto.

Bem, disse isso para embasar esta última frase: minha necessidade não é a
de saber nas profundezas de que mares o corpo de minha avó foi parar,
minha necessidade de familiar de uma desaparecida política e de cidadã é
que o povo saiba o que aconteceu, por que continua acontecendo, quem
continua no poder, que sistema tem se repetido e o que significa a
impunidade."

terça-feira, 12 de junho de 2012


RELEASE P/ IMPRENSA: NESTA QUARTA (13/06) SERÁ EXUMADO O PRIMEIRO CORPO DE VÍTIMA DOS CRIMES DE MAIO DE 2006 

Informamos à imprensa e demais interessados que amanhã será dado um passo histórico na luta pela Verdade e por Justiça no que se refere às vítimas do estado brasileiro durante o atual período democrático. O corpo do gari Edson Rogério Silva dos Santos, 29, morto a tiros em Santos na noite de 15 de maio de 2006 ao que tudo indica por policiais, será exumado nesta Quarta-Feira (dia 13/06), a partir das 13:30hs no Cemitério da Areia Branca - na divisa de Santos com São Vicente-SP. Edson Rogério é filho de Debora Maria da Silva, fundadora do movimento Mães de Maio. Trata-se do primeiro corpo de vítima dos Crimes de Maio de 2006 a ser exumado para melhor investigação.

A intenção é encontrar projéteis que devem estar alojados na coluna cervical do Edson, e possivelmente no crânio. Existe a suspeita de que a arma usada para matá-lo foi a mesma que acabou apreendida com um policial em Cubatão-SP, também no litoral paulista. Para que tal investigação prossiga com o devido rigor, neutralidade e compromisso com a verdade, é fundamental o acompanhamento próximo da imprensa, de defensores de direitos humanos e demais pessoas comprometidas com a Verdade. Vale lembrar que, em novembro de 2011, o Tribunal de Justiça de SP condenou o Estado de São Paulo a indenizar em R$ 165 mil os familiares do Edson, numa decisão histórica para o movimento de familiares e amigos de vítimas do estado brasileiro, afinal tratou-se da primeira decisão judicial referente aos Crimes de Maio de 2006 que responsabilizou o estado de São Paulo por aquela matança, a qual vitimou mais de 500 pessoas em apenas oito dias em todo o estado. A imensa maioria dos demais casos, porém, seguem arquivados sem apuração nem julgamento dos responsáveis diretos e indiretos.

Nós do movimento Mães de Maio e toda Rede Nacional de Familiares de Vítimas do Estado estaremos acompanhando passo a passo essa exumação - alertas para que ela não tenha qualquer irregularidade, muito menos teatro arbitrário, absolutamente atentos a cada detalhe desta importante investigação, na busca por Verdade e Justiça. Esperamos que não se trate de uma manobra jurídica simplesmente para se postergar ou tentar se evitar o Desarquivamento e a Federalização das Investigações referentes aos Crimes de Maio de 2006, cujo pedido fora feito por nosso movimento junto a diversas outras entidades em Maio de 2010, e ainda aguarda parecer definitivo das respectivas instâncias federais.

Mais informações: 

13-8124-9643 (com Débora Maria da Silva)


CINEMA PELA VERDADE / HÉRCULES 56 / SILVIO DA-RIN - DIRETOR DO FILME ; BIZOCA - IHG E JOÃO PINTO FURTADO.


sexta-feira, 8 de junho de 2012

IHG ESTRÁ PRESENTE NAS ATIVIDADES PÚBLICAS DE 10 ANOS DO FAO E DA FUNDAÇÃO DA COORDENAÇÃO ANARQUISTA BRASILEIRA - FAU E FAO

Novo post em FARJ

Informações das atividades públicas dos 10 anos do FAO

by FARJ
10 anos do Fórum do Anarquismo Organizado. Rumo à Coordenação Anarquista Brasileira!
Companheiros/as, divulgamos os detalhes das atividades públicas dos 10 anos do Fórum do Anarquismo Organizado. Rumo a CAB!
- 9 de Junho (sábado)- 16:00 h Debate sobre a Organização Específica Anarquista com os companheiros da Federação Anarquista Uruguaia e da Coordenação Anarquista Brasileira.
Local: Centro de Cultura Social do Rio de Janeiro
Endereço: Rua Torres Homem, 790. Vila Isabel.
Ponto de referência: Descer no final do Boulevard 28 de Setembro (ponto da escola de samba Vila Isabel) e caminhar pela Luis Barbosa até a Rua Torres Homem.
- 10 de junho (domingo) - 10:00 h Ato Público de lançamento da Coordenação Anarquista Brasileira
Local: Sindpetro-RJ
Endereço: Avenida Passos, 34. Centro da Cidade

CRIAR UM POVO FORTE!
Declaração de Princípios e Intenções do FAO:
http://www.anarkismo.net/article/17346
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quinta-feira, 7 de junho de 2012



TRAVAMENTO DO
ANEL RODOVIÁRIO
 - ATO REALIZADOPELO MOVIMENTO DOS TRABALHADORES SEM TETO - MTST/MG, CSP-CONLUTAS E FAMÍLIAS SEM-TETO.
fotos:Lacerda - MTST/MG


FAMÍLIAS SEM-TETO
INTERDITAM ANEL RODOVIÁRIO

Na manhã desta segunda-feira, dia 04/06/2012, o Anel Rodoviário está sendo interditado por famílias sem-teto como forma de protesto, pressão e busca de diálogo com a Prefeitura de Belo Horizonte, o governo do Estado de Minas Gerais e o governo federal. A falta de projetos habitacionais que contemplem famílias entre 0 e 3 salários mínimos colocam mulheres, crianças e idosos, enfim, trabalhadores em condições subumanas, agredidos em seus direitos fundamentais e constitucionais, ferindo o princípio da dignidade humana. O direito à propriedade não pode se sobrepor ao direito à vida. Para ter vida com dignidade, necessário se faz que as famílias tenham moradia, educação, saúde, lazer e cultura com qualidade.
Mais uma vez o governo dos ricos em Belo Horizonte ameaça 277 famílias na Vila Santa Rita no Barreiro. As comunidades Camilo Torres e Irmã Dorothy correm o risco de serem vítimas da repressão do Estado, a exemplo do que ocorreu no Pinheirinho, em São José dos Campos. O terreno em que as famílias construíram suas casas é fruto de especulação imobiliária. Na sua origem era propriedade do Estado, considerado terra devoluta e sua destinação deveria servir a um objetivo com caráter social. Mas não esqueçamos: o governo é dos ricos. Assim, o terreno foi repassado para uma empresa, condicionado a que fosse destinado, dentro de dois anos, a um empreendimento no local. Nada foi feito e o terreno virou motivo de especulação imobiliária. O que deveria servir para atender a uma função social, serviu foi para enriquecer ainda mais as contas de empresas parasitárias (amigos dos governantes e poderosos).
A prefeitura de Belo Horizonte, o governo estadual e o governo federal estão unidos mais do que nunca em torno da proteção dos privilégios dos ricos. Ameaçam todos que ousam lutar contra uma condição de miséria e pobreza. As casas foram construídas no local, com esforço e suor dos próprios moradores, não teve um centavo vindo de financiamento público. Diferentemente dos ricos que receberam o terreno de graça e nada construíram, pelo contrário, serviu para o enriquecimento ilícito dos empresários e suas empresas envolvidas neste crime. Porém, quem é ameaçado é o pobre.
O governo dos ricos e poderosos é representado pelos partidos PSDB, PT, PMDB, DEM, PSD, PSB e outros comparsas seus. Assistimos estarrecidos à relação desses partidos com o crime organizado, privilegiando empresas e empresários, contraventores, e vá saber com que espécie de bandidos estes partidos mantêm relação. Mas com relação aos pobres, o que eles nos reservam é a repressão policial, a barbárie de retirar famílias de suas casas construídas com muita dificuldade, na base do cacetete e do coturno. Que direito é esse que na sua execução comete as maiores atrocidades contra pessoas pobres? Que direito é esse, que ao invés de fazer justiça comete as maiores injustiças? Claro, não esqueçamos: o governo é dos ricos. O direito brasileiro vai ser o direito do rico. Já passa da hora dos pobres neste país iniciarem um processo de luta em que estabeleçam um outro direito que não seja o direito de ricos proprietários e seus governos.
A emancipação da classe trabalhadora rumo à construção de uma sociedade justa e igualitária passa pela identificação de quem são nossos inimigos de classe, e neste momento é só olhar para o congresso nacional, para o governo federal, estadual, municipal, poder judiciário, polícia, empresários que os identificaremos.
Viva o poder popular!
Avançar na construção do socialismo antiburocrático!

MTST/MG
 (Movimento dos Trabalhadores SemTeto)
 CSP CONLUTAS