NOTÍCIA
SOBRE O ATO DE REPÚDIO AOS ATAQUES CONTRA O POVO GUARANI KAIOWÁ
“BASTA
DO GENOCÍDIO DOS POVOS INDÍGENAS!”
Foi
realizado, no dia 29/06/2016, às 18:30, na PUC – BH/MG, o Ato de
repúdio aos ataques contra o povo Guarani Kaiowá. O ato foi convocado pelas seguintes
entidades: Luta Popular e Sindical (LPS), Liga Operária, Associação Brasileira
de Advogados do Povo (ABRAPO), Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e
Cidadania, Liga dos Camponeses Pobres (LCP), Federação dos Trabalhadores na
Agricultura do Estado de Minas Gerais (FETAEMG), Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas de Correios e
Telégrafos e Similares do Estado de Minas Gerais (SINTECT/MG), Sindicato dos
Trabalhadores da Construção de Belo Horizonte e região/MARRETA, Sindicato dos Empregados em Empresas de Processamento de Dados, Serviços de
Informática e Similares do Estado de Minas Gerais (SINDADOS/MG), Sindicato dos Trabalhadores no Comércio
Varejista e Atacadista de Contagem
(SINTRACC), SINDBOR/MG, Movimento Estudantil Popular
Revolucionário (MEPR), Movimento Feminino
Popular (MFP),
Movimento Mundo do Trabalho contra a Precarização, Comitê Mineiro de Apoio às
Causas Indígenas e Aldeia Umuarama.
O
ato teve destaque com a presença dos indígenas Terena do Mato Grosso do Sul - Alberto
Terena e Gilmar Veron. Este é também Guarani; seu avô, Marcos Veron foi
assassinado em 2003 diante de sua família.
Este crime permanece impune até hoje.
Os companheiros Terena denunciaram a situação de barbárie que vigora em
Mato Grosso do Sul: 50% dos assassinatos
dos povos indígenas no Brasil acorreram naquele estado. Destacaram que o genocídio institucionalizado
constitui prática continuada levada a cabo pelo conluio do latifúndio/agronegócio,
seus pistoleiros e o Estado brasileiro. Dois dos maiores inimigos dos povos
originários em Mato Grosso do Sul são o deputado estadual José Teixeira (DEM) e
o fazendeiro assassino Jacinto Honório.
Alberto
Terena e Gilmar Veron relataram o brutal assassinato do agente de saúde
indígena, o Guarani Kaiowá Clodiodi Aquiles Rodrigues de Souza, no dia
14/06/2016, mais um episódio do extermínio sistemático de lideranças indígenas
por latifundiários e pistoleiros acobertados pelo Estado brasileiro. Este se apresentou
no território dos Guarani Kaiowá através da Polícia Federal, da Força Nacional
de Segurança Pública, das polícias civil e militar do Mato Grosso do Sul. Os latifundiários e pistoleiros cercaram e
metralharam um grupo de indígenas Guarani Kaiowá que estão mobilizados em
defesa de suas terras. Mais 6 indígenas
foram atingidos, entre eles uma criança de 12 anos. Trata-se do primeiro massacre do governo
Temer (PMDB,PP, PSDB) que tem como Ministro da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento ninguém menos Blairo Maggi (PP), o dito rei da soja, ícone do latifúndio, do agronegócio e da bancada do boi no senado.
Os
companheiros Terena denunciaram também a mídia burguesa que criminaliza os
povos indígenas e acoberta o racismo, a
opressão e o genocídio praticados pelo Estado e o latifúndio. Denunciaram a PEC 215, que transfere para o
legislativo federal a demarcação de terras indígenas, quilombolas e zonas de proteção
ambiental – leia-se, transfere para o latifúndio/agronegócio este poder. Alberto Terena e Gilmar Veron reafirmaram a
capacidade de luta e resistência dos povos indígenas para defender suas terras
e sua cultura: “Direito conquistado não pode ser rasgado”.
Além
dos Terena, participaram do ato indígenas das etnias Kambiwá, Guarani, Pataxó
(Coroa Vermelha/BA) e Pataxó Hã-hã-hãe - inclusive parentes de Galdino Pataxó,
queimado vivo em Brasília, em 1997. Avelin Kambiwá, do Comitê Mineiro de Apoio às
Causas Indígenas e da Aldeia Umuarama, fez amplo painel da situação da
população indígena urbana em Belo Horizonte.
Esta tem sido submetida sistemática e cotidianamente ao racismo e à
repressão da Polícia Militar, da Guarda Municipal, da Polícia Civil e do
aparato institucional. Reiterou a denúncia do assassinato de Samuel Pataxó,
assassinado em Betim/MG no ano de 2014, na ocasião da Copa do Mundo/FIFA. Destacou
o papel das mulheres indígenas na luta – todas guerreiras. O Comitê Mineiro de
Apoio às Causas Indígenas fez uma instalação no local do ato com a denúncia das
chacinas e assassinatos institucionalizados sofridos pelos povos originários.
Célia Pataxó, da Aldeia
Agricultura de Coroa Vermelha, Porto Seguro/BA é parente de Samuel Pataxó e
teve também um tio, que era artesão, assassinado em Belo Horizonte. Denunciou os obstáculos interpostos pelo
Instituto de Medicina Legal (IML) de Belo Horizonte para que a família pudesse
reaver os restos mortais do tio. O IML
se recusava até mesmo de reconhecer a identidade indígena da família e do
parente morto. Denunciou a opressão sofrida pelos índios aldeados que, por questão
de sobrevivência, são obrigados a vir temporariamente para a cidade para vender
artesanato: são reprimidos no seu direito de ir, vir e permanecer; são
impedidos de trabalhar; seu artesanato é confiscado e destruído; são impedidos
de expor na feira de artesanato de Belo Horizonte; são maltratados pela
prefeitura de Márcio Lacerda (PSB/PSDB).
Célia Pataxó denunciou a farsa eleitoral e a ineficácia e falsidade da
demagogia eleitoreira. Ela e Avelin Kambiwá reafirmaram a união à luta e resistência
dos parentes Terena e Guarani Kaiowá.
Junto
com as companheiras e companheiros indígenas, compuseram a mesa coordenada por
Felipe Nicolau (Abrapo): Pedro Paulo (Luta Popular e Sindical), Gerson Lima
(Liga Operária) e Matheus (prof. da PUC/MG). Na sequência, houve várias intervenções
dos participantes e dos organizadores: Nilo (LCP), Bizoca (Instituto Helena
Greco de Direitos Humanos e Cidadania); João Martinho (Sind-UTE –
Vespasiano/MG); profa. Cláudia (MOCLATE); Abram (LCP); Pronzato (cineasta); Marisa
(professora da UFMG); membro da Unidade Vermelha; membro da Frente Revolucionária
de Defesa dos Direitos do Povo; membro do MEPR e outros. Houve participação
especial da escritora Rosana Bond, que fez bela explanação sobre a história dos
Terena e a importância da luta dos povos indígenas para a América Latina e para
a humanidade. Antes do encerramento do ato, foi exibido um vídeo realizado pelos
Terena que denuncia o genocídio dos povos originários no Mato Grosso do Sul.
Todas
as intervenções reiteraram a denúncia de que o Brasil é o país do genocídio sistêmico
institucional contra indígenas, quilombolas e negros. Foi lembrado que, durante
a ditadura militar (1964-1985), foram exterminados mais de 8 mil índios e que seus nomes não constam nas listas de
mortos e desaparecidos políticos. Foi feita a denúncia do papel da Polícia
Militar de Minas Gerais neste processo: a ela pertenciam o Reformatório Krenak
(Resplendor/MG) e a Fazenda Guarani (Carmésia/MG), que se tornaram verdadeiros
campos de concentração étnicos durante o período. Foi destacada a necessidade
da construção de um comitê permanente de defesa dos povos indígenas e
quilombolas. Destacou-se a importância
da questão da terra no país, a qual unifica as lutas de indígenas, quilombolas,
populações ribeirinhas e tradicionais e trabalhadores do campo/camponeses – estes
também vítimas constantes assassinatos e massacres. Denunciou-se que o Estado e seus gerentes
esvaziaram a luta pela reforma agrária e reafirmou-se a necessidade da retomada
e da radicalização desta luta. Reafirmou-se sobretudo o princípio da
independência, da autonomia e da combatividades destas lutas. Tais lutas não se
travam nas entranhas do Estado e da institucionalidade. Elas devem ser travadas nas ruas, nas praças,
nas aldeias, nas ocupações - sempre mantendo a perspectiva classista: uma forte
aliança de indígenas, quilombolas, operários, trabalhadores da cidade e do
campo.
Os
companheiros Terena do Mato Grosso do Sul fecharam o ato com um chamado à luta
e cantaram a seguinte palavra de ordem:
-Diga
ao povo que avance! -
eles puxaram.
E
todas e todos respondemos: Avançaremos!
Belo Horizonte, 30 de junho de 2016
INSTITUTO
HELENA GRECO DE DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA