Realizado o Ato em Repúdio ao tenente-coronel Lício Maciel, torturador e assassino. Ato convocado Pela Frente Independente pela
Memória, Verdade e Justiça - MG (22/10/2013).
Belo
Horizonte, 24 de outubro de 2013
Às 18h30 de terça-feira, 22/10/2013, em frente ao Círculo
Militar de BH, foi realizado combativo ato em repúdio ao tenente-coronel Lício
Maciel. Ele é um dos maiores repressores
do período da ditadura militar (1964-1985), é assassino confesso de pelo menos
quatro guerrilheiros. Lício Maciel é um
dos responsáveis pelo massacre da Guerrilha do Araguaia (1972-1975): além dos
guerrilheiros torturados e mortos, a população local também foi aterrorizada e trucidada
pelos militares. Este clima de terror é sentido pelas comunidades do Araguaia
até hoje. Lício Maciel foi convidado pelo Círculo Militar de BH – juntamente com
outras associações de militares da reserva, militares da ativa e com o Círculo
Monarquista de MG (?) – a proferir palestra contra a Guerrilha do Araguaia.
Nesta palestra ele faria a apologia dos crimes cometidos pela ditadura militar
na Guerrilha do Araguaia e se vangloriaria das suas próprias façanhas sanguinárias.
O ato em repúdio a esta provocação contra
a história, a verdade e a memória das companheiras e companheiros que lutaram e
tombaram na luta contra a ditadura foi convocado pela Frente Independente pela
Memória, Verdade e Justiça-MG - da qual o Instituto Helena Greco de Direitos
Humanos e Cidadania faz parte. Estiveram
presentes militantes, ex-presos políticos, entidades, organizações e movimentos
que lutam contra a repressão e pela punição dos responsáveis pelas torturas,
mortes e desaparecimentos de opositores durante a ditadura militar. Foi um ato de repúdio à presença de Lício
Maciel em BH. Foi também um veemente
protesto contra os crimes de lesa humanidade cometidos durante a ditadura
O tenente-coronel Lício Maciel e seus pares – alguns poucos
que apareceram - foram recebidos ao som de palavras de ordem como: “ASSASSINO! ASSASSINO!” “O MILITAR É
INIMIGO, TORTURADOR TEM QUE SER PUNIDO!” “NÃO ESQUECEMOS A DITADURA:
ASSASSINATOS E TORTURAS!” “CADÊ, CADÊ, CADÊ O AMARILDO? ONDE ESTÃO OS
DESAPARECIDOS?” Durante duas horas os manifestantes se mantiveram
mobilizados, o que, praticamente, inviabilizou a tal palestra do assassino confesso
Lício Maciel. Era este o nosso objetivo: protestar contra a presença de Lício
Maciel em BH, inviabilizar a palestra,
denunciar publicamente os crimes da ditadura militar e exigir a punição dos
torturadores e assassinos de presos políticos.
A
tropa de choque da Polícia Militar cercou as imediações do Clube Militar,
reproduzindo sua habitual tentativa de intimidação de manifestações legítimas. Chamou
atenção a truculência dos convidados do tenente-coronel Lício Maciel, que
tentaram entrar no Círculo Militar para assistir à palestra: muitos usaram de agressividade verbal e até
física contra os manifestantes. Esta
truculência ficou também evidente na cobertura da tentativa de palestra de Lício
Maciel feita pelas associações dos militares e seus simpatizantes na internet,
nos dias 23 e 24/10/2013: os mais canhestros ataques aos movimentos sociais, as
mais fascistas demonstrações de apoio à ditadura militar e entusiásticos
chamamentos para um novo golpe.
Durante o ato de repúdio a Lício Maciel, prestamos
homenagem às guerrilheiras e guerrilheiros do Araguaia e aos companheiros que
foram presos nas manifestações do 7 de setembro de 2013, em Belo Horizonte.
Foram lidas as notas de repúdio da família Petit (familiares de Maria Lúcia
Petit, Lúcio Petit e Jaime Petit – desaparecidos no Araguaia), de Criméia Alice
Schmidt de Almeida (ex-guerrileira do Araguaia e viúva de André Grabois - desaparecido
no Araguaia) e do Grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro.
A
nota da família Petit denuncia o escárnio absurdo empregado por Lício Maciel ao
responder em juízo sobre a localização dos desaparecidos do Araguaia. Ele
disse: “Querem saber? Venham procurar os ossos
nos bolsos da minha calça!”. Criméia
Alice, em sua nota, enumera alguns dos crimes de Lício Maciel. Ela conclui a nota com a seguinte afirmação: “Repudiar a presença de pessoas como Lício Maciel
é defender a democracia. Não podemos permitir que tais indivíduos continuem
fazendo apologia dos crimes contra os direitos humanos praticados pelo Estado
num flagrante desrespeito aos tratados internacionais assinados pelo nosso
país, recentemente condenado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos.” O
Grupo Tortura Nunca Mais-RJ destaca que Lício
Maciel nega-se a receber as intimações de comparecimento perante a Justiça
Federal em Marabá/PA, onde responde a processo criminal pelos crimes de tortura, homicídio,
desaparecimento forçado e ocultamento de cadáveres. A nota do GTNM-RJ exorta o Estado brasileiro
a adotar medidas urgentes “para que os
agentes públicos envolvidos em crimes contra a humanidade sejam investigados e
responsabilizados por seus atos bárbaros”.
Terminamos
o Ato em Repúdio ao tenente-coronel Lício Maciel, torturador e assassino depois
de reafirmar as nossas palavras de ordem e fazer a chamada das nossas
companheiras e companheiros que tombaram na Guerrilha do Araguaia. Todos os manifestantes responderam depois da
leitura de cada nome abaixo: PRESENTE NA LUTA !!!
1 Adriano Fonseca Fernandes Filho (Chico)
2 André Grabois (Zé Carlos)
3 Antonio
Alfredo de Lima (Alfredo)
4 Antônio
Carlos Monteiro Teixeira (Antônio
da Dina)
5 Antônio
de Pádua Costa (Piauí)
6 Antonio
Ferreira Pinto (Antonio
Alfaiate)
7 Antonio
Guilherme Ribas (Ferreira)
8 Antonio
Teodoro (Raul)
9 Arildo
Valadão (Ari)
10
Áurea Elisa
Valadão (Elisa)
11
Batista
12
Bergson Gurjão Farias (Jorge) - uma das duas únicas ossadas encontradas e identificadas.
13
Cilon da
Cunha Brum (Simão)
14
Ciro
Flávio Salazar Oliveira (Flávio)
15
Custódio
Saraiva Neto (Lauro)
16
Daniel Ribeiro Callado (Doca)
17
Dinaelza Soares Santana Coqueiro (Mariadina)
18
Dinalva Oliveira Teixeira (Dina)
19
Divino
Ferreira de Sousa (Nunes)
20
Elmo Correa (Lourival)
21
Gilberto Olímpio Maria (Pedro)
22
Guilherme Gomes Lund (Luis)
23
Helenira Resende de Souza Nazareth (Fátima)
24
Helio
Luiz Navarro de Magalhães (Edinho)
25
Idalísio
Soares Aranha (Aparício)
26
Jaime
Petit
27
Jana Moroni Barroso (Cristina)
28
João Carlos Haas Sobrinho (Dr. Juca)
29
João Gualberto
Calatroni (Zebão)
30
José
Humberto Bronca (Zeca
Fogoió)
31
José
Maurílio Patricio (Manuel
do B)
32
José
Piauhy Dourado (Ivo)
33
José
Toledo de Oliveira (Vitor)
34
Kleber Lemos da Silva (Carlito)
35
Líbero Giancarlo Castiglia (Joca)
36
Lourival
de Moura Paulino
37
Lúcia Maria de Souza (Sônia) -
o episódio de sua morte é o mais célebre da história da guerrilha, onde feriu
dois oficiais do exército antes de morrer, Lício Maciel e o Major Curió.
38
Lúcia Regina Martins (Regina)
39
Lúcio
Petit (Beto)
40
Luis Renê
Silveira (Duda)
41
Luiza Garlippe (Tuca)
42
Manuel
José Nurchis (Gil)
43
Maria Célia Correa (Rosa)
44 Maria Lúcia Petit (Maria)
– uma das duas únicas ossadas
encontradas e identificadas.
45
Maurício Grabois (Mário)
46
Miguel
Pereira dos Santos (Cazuza)
47
Nelson Lima
Piauhy Dourado (Nelito)
48
Orlando
Momente (Landinho)
49
Osvaldo Orlando da Costa (Osvaldão)
50
Paulo
Mendes Rodrigues (Paulo)
51
Paulo
Roberto Pereira Marques (Amauri)
52
Pedro Alexandrino de Oliveira (Peri)
53
Pedro
Matias de Oliveira (Pedro
Carretel)
54
Rodolfo de Carvalho Troiano (Mané)
55
Rosalindo
de Sousa (Mundico)
56
Suely Yumico Kanayama (Chica)
57
Telma Regina Cordeiro Correa (Lia)
58
Tobias
Pereira Junior (Josias)
59
Uirassu
de Assis Batista (Valdir)
60
Vandick
Raidner Pereira Coqueiro (João
Goiano)
61
Walkiria Afonso da Costa (Wal)
- Ângelo Arroyo (Joaquim) -
foi um dos líderes da guerrilha, morto por agentes DOI-CODI em 16 de dezembro
1976, em São Paulo, no episódio conhecido como Chacina da Lapa.
- Carlos
Danielli (Antonio) -
Integrante do quadro dirigente do PCdoB, fazia a ligação entre a área rural e
urbana do partido. Morreu sob tortura ao ser preso nas dependências do
DOI-CODE/SP, na madrugada de 30 de dezenbro de 1972.
Fonte da lista acima: Comissão de Familiares
de Mortos e Desaparecidos Políticos. Dossiê Ditadura Mortos e Desaparecidos Políticos
no Brasil 1965-1985. São Paulo, IEVE
Instituto de Estudos sobre a Violência do Estado e Impresnsa Oficial, 2009.
INSTITUTO HELENA GRECO
DE DIREITOS
HUMANOS E CIDADANIA – BH/MG
Fotos: Inst. Helena Greco