O
Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania – BH/MG vem a público
manifestar apoio incondicional aos familiares e à comunidade de refugiados
congoleses no Brasil, atingidos pelo assassinato do jovem trabalhador Moïse Mugenyi
Kabagambe. No dia 24 de janeiro ele foi trucidado a socos, chutes, golpes de
taco de beisebol por cobrar seu direito - duzentos reais de diárias atrasadas
do quiosque Tropicália. Ali ele era
submetido a trabalhos dos mais hiperprecarizados, como acontece sistematicamente
no Brasil com os imigrantes oriundos de países africanos. Este linchamento foi
perpetrado pelo gerente do quiosque e seus amigos, à vista de todos, numa das
áreas mais nobres, movimentadas e frequentadas da orla da Barra da Tijuca (Rio
de Janeiro/RJ). O dono do quiosque, policial militar, tem sido preservado.
Pessoas
que espaireciam no local assistiram passivamente à execução de Moïse, apenas
duas tentaram ajudar. Houve omissão inclusive da Guarda Municipal que fazia
ronda no local. Polícia Civil e Polícia militar, mais do que coniventes, têm
sido omissas no inquérito, cuja abertura foi protelada o máximo possível. As
câmeras de segurança do quiosque – que revelam os terríveis detalhes do
linchamento - só foram acessadas por causa da pressão constante dos familiares
de Moïse. Desde então, estes têm sofrido reiteradas ameaças da Polícia Militar.
Foi a partir da combatividade dos familiares, da mobilização dos movimentos
populares e da repercussão internacional que a investigação começou a andar. Afinal,
o aparato repressivo - estruturalmente racista, xenófobo e genocida - existe
para defender a propriedade, os patrões e o Estado. É este o seu papel
institucional.
Este
linchamento escancara mais uma vez a necropolítica que perpassa todas as malhas
do Estado e da sociedade: racismo e genocídio constituem sistema de poder neste
país escravocrata cujo Estado mata milhares por ano – maioria de negras/os,
indígenas, pobres e faveladas/os.
Sistema de poder que está a crescer em ritmo de escalada nestes tempos milicianos,
bolsonaristas, fascistas.
Vivemos
no país que adota as chacinas como política de Estado, levando a sua
banalização ao paroxismo. A data do linchamento de Moïse Mugenyi Kabagambe quase
coincide com a data de sete anos da Chacina do Cabula em Salvador/BA
(06/02/2015), onde 12 jovens foram executados pela Polícia Militar na Vila
Moisés. Igualmente, nada foi esclarecido. Na manhã desta última quinta-feira
(03/02) a Polícia Militar do Rio de Janeiro chacinou pelo menos 15 pessoas no
Parque Florestal, na Baixada Fluminense, sob a justificativa de estabilização do território, no tacanho
jargão das forças repressivas. Há uma rotina de desaparecimentos forçados nesta
região, dominada pelas milícias. Milícias que estão incrustadas no aparelho de
Estado, como todas/os sabemos.
O
linchamento de Moïse Mugenyi Kabagambe é mais um crime do Estado/capital que
repudiamos com veemência. Reiteramos nosso tributo ao trabalhador morto e nossa
solidariedade aos familiares e à Comunidade Congolesa.
Em
todo Brasil, neste sábado, dia 05/02/2022, haverá atos de protesto em memória
do jovem negro, refugiado congolês e trabalhador Moïse Mugenyi Kabagambe. Em
Belo Horizonte/MG o Ato “Justiça por Moïse” será na Praça Sete, às 10 horas.
PELO
FIM DA EXPLORAÇÃO E DO EXTERMÍNIO DOS REFUGIADOS!
PELO
FIM DO GENOCÍDIO DO POVO NEGRO!
Belo Horizonte, 05
de fevereiro de 2022
Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania – BH/MG
*Use máscara, mantenha o distanciamento, álcool em gel e vacine-se!
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