"Estamos aqui pela Humanidade!" Comuna de Paris, 1871 - "Sejamos realistas, exijamos o impossível." Maio de 68

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domingo, 12 de dezembro de 2021

COMPANHEIRO PELÉ, PRESENTE NA LUTA! HOJE E SEMPRE!

"LCP: 'COMPANHEIRO PELÉ, PRESENTE NA LUTA!'

      Reproduzimos a nota emitida pela Comissão Nacional das Ligas de Camponeses Pobres em 9 de dezembro, a respeito do falecimento de um dos fundadores da LCP de Rondônia, o companheiro Pelé. 

    Faleceu aos 52 anos, na noite da última quarta-feira, 08 de dezembro de 2021, nosso companheiro Pelé, o camponês nascido na Bahia José Fonseca de Araújo. Ele sofria de diabetes e problemas cardíacos. Com o apoio do Socorro Popular já havia feito, há alguns anos, uma cirurgia que lhe salvou em uma situação crítica. Difícil para quem o conhecia imaginar que lutava contra tantas adversidades de saúde. Em qualquer hora, em qualquer lugar, sob qualquer tempo, dormindo sob um barraco de lona ou em algum lugar um pouco melhor, onde as massas clamassem o apoio da Liga na secular luta pela terra o Pelé estava.

    Alegre, otimista, apontando um caminho, fazendo reuniões, puxando palavras de ordem, animando os desanimados, confortando e acolhendo aqueles com mais dificuldades, Pelé sabia identificar o que era uma contradição no seio do povo de uma contradição entre o povo e seus inimigos. Se uma ou outra vez, por seu bom coração, errou na mão, nunca se furtou de analisar o problema com humildade. Aliás, humildade era o que sobrava àquele “homenzarrão” fisicamente grande, voz segura, corajoso, que sempre cobrava dos companheiros, em nossas avaliações, que falassem olhando nos olhos das massas.

    Pelé não se intimidava em nenhuma situação. Nas incontáveis vezes em que, atendendo aos camponeses, participava de audiências em órgãos públicos, colocava em seus devidos lugares as “autoridades” escaladas para ludibriar, amaciar ou intimidar as massas. Por isso em uma ocasião, no Pará, o Ouvidor dos latifundiários Gersino José Filho fez questão de identifica-lo. Não foi uma brincadeira, era para avisar aos latifundiários, policiais e pistoleiros, o perigo que representava para eles aquele “Negão” da LIGA junto com as massas naquela região. E por quantas regiões o Pelé passou nesse Brasil... Sem nunca esquecer Rondônia, onde começou. (...)“

- LER MAIS/ACESSE: https://anovademocracia.com.br/noticias/16903-lcp-companheiro-pele-presente-na-luta

- LEIA TAMBÉM/ACESSE (TODA NOSSA SOLIDARIEDADE ÀS VÍTIMAS DO LATIFÚNDIO EM RONDÔNIA, AOS SEUS COMPANHEIROS E FAMILIARES): https://institutohelenagreco.blogspot.com/2016/03/toda-nossa-solidariedade-as-vitimas-do.html



32ª MEDALHA CHICO MENDES DE RESISTÊNCIA - TRANSMISSÃO: SEGUNDA-FEIRA, DIA 13/12/2021, ÀS 18H - CANAL DE YOUTUBE DO GRUPO TORTURA NUNCA MAIS/RJ

Aguardamos todes para a

*Entrega aos homenageades de 2020*

O início da pandemia de covid 19 nos impediu de realizar a entrega da Medalha Chico Mendes de Resistência de 2020 no dia 1° de abril do ano passado. Como referência à luta contra toda violência de Estado a entrega será, excepcionalmente, no dia *13 de dezembro de 2021*, data que lembramos a promulgação a 53 anos do famigerado AI-5. A transmissão será pelo canal *https://youtube.com/c/GrupoTorturaNuncaMaisRJ*, às *18h*.

*AI-5 Nunca Mais!*

*Ditadura Nunca Mais!*

*Pela vida, pela paz, Tortura Nunca Mais!*

Fonte: https://www.facebook.com/gtnmrj

sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

10 DE DEZEMBRO DE 2021: DIA INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS

        A necropolítica ultraneoliberal vigente tornou-se a tumbeira do país: adotou a morte e a destruição como políticas de Estado. Os Direitos Humanos constituem objeto de ódio visceral do governo genocida, militarista, miliciano e ultraconservador Bolsonaro (PL)/Mourão (PRTB). Este governo é a cara de sua base no congresso, o centrão, apelido que camufla seu caráter de classe. É a bancada das finanças, dos empresários, dos latifundiários, dos policiais, dos militares, das milícias e dos fundamentalistas evangélicos – a bancada boi/bala/bíblia/jaula.

       Operando no modo fascista, o Estado brasileiro se firmou como um dos campeões mundiais em graves violações dos Direitos Humanos. Estamos falando do genocídio sanitário provocado por um negacionismo abjeto – o Brasil é o segundo no mundo em contaminação e óbitos por COVID-19. Estamos falando sobretudo do genocídio institucional do Povo Negro e dos Povos Indígenas emanados do racismo estrutural, da colonialidade sistêmica, do patriarcalismo e escravismo históricos; e ainda, a miséria vigente.

Este negacionismo abjeto está contido no obscurantismo cultural - o ataque feroz ao ensino, à pesquisa, às universidades, à ciência, às manifestações artísticas. Seu subproduto mais deletério é a mentira organizada, também adotada como política de Estado. Sua manifestação principal é a negação da História: o “aniversário” do golpe – chamado movimento no jargão da caserna – passou a ser oficialmente comemorado todo dia 31 de março pelas Forças Armadas. Afinal de contas, este governo tem como paradigmas declarados a ditadura militar (1964-1985), o AI-5, torturadores contumazes e milicianos (grupos de extermínio). Daí partiu o processo de desmonte das políticas públicas de Direitos Humanos e daquelas voltadas para Memória e Verdade. Questões sobre a ditadura foram banidas do ENEM. Em novembro deste ano veio chumbo grosso: foi nomeado diretor-geral do Arquivo Nacional, certo Ricardo Borba D’Água Braga. Seu currículo: ex-chefe de segurança do Banco do Brasil, ex-subsecretário de segurança pública do Distrito Federal, campeão de tiro, é CAC (Caçador, Atirador desportivo, Colecionador) e colaborador emérito do exército. Trata-se de verdadeira queima de arquivo administrativa. Houve repúdio geral das associações de arquivologia do Brasil; foi aberta investigação sobre a nomeação pelo Ministério Público Federal. A maior instituição de preservação da memória histórica do país corre risco de sofrer uma queima de arquivos administrativa se o recém-nomeado for mantido no cargo. Também em novembro, o governo federal anunciou o leilão do prédio da FAFICH-UFMG onde estava sendo construído o Memorial da Anistia, mais um ataque flagrante à luta por Memória, Verdade e Justiça.

Dispositivos fascistas, armamentismo exacerbado, punitivismo penal, discursos de ódio têm levado ao extremo a violência policial cuja letalidade é – há tempos - a maior do mundo. Têm levado ao extremo também o transfeminicídio (primeira posição entre 82 países), o feminicídio, os estupros, a violência doméstica, a violência contra LGBTQIA+ (quinta posição). Este cenário se agrava nesses tempos de pandemia.

A violência policial é sustentada pelo incremento do aparato repressivo/ jurídico/legislativo: a política antidrogas, o pacote anticrime de Sérgio Moro (Podemos), a isenção de ilicitude, a lei antiterrorismo e as constantes tentativas de endurecimento dela. Não podemos perder de vista que, na sua essência, o aparelho de Estado foi mantido na mesma estrutura que tinha na ditadura, sobretudo o aparato repressivo. A nova lei dos crimes contra o Estado Democrático de Direito (02/09/21) e as mudanças no Código Penal têm a lógica daquela que vieram a substituir - a Lei de Segurança Nacional de 1983. O objetivo é eliminar os inimigos internos de sempre: trabalhadoras/es, Povo Negro, Povos Indígenas, pobres, periféricas/os, marginalizadas/os, as/os diferentes e os movimentos sociais. A partir de 2019, os casos de tortura e desaparecimentos forçados – que já eram muitíssimos – cresceram ainda mais.

Em 2020, a polícia quebrou o próprio recorde em letalidade. O número de mulheres executadas dobrou; aumentou também o número de crianças mortas. Os negros constituem a maioria das vítimas, como sempre (78%).  Também é negra a maioria das vítimas da COVID-19. A maioria da população carcerária é negra – a terceira do planeta (tanto masculina quanto feminina).

       As chacinas aqui têm periodicidade assustadoramente regular. No dia 6 de maio deste ano, houve a chacina do Jacarezinho, a maior da história do Rio de Janeiro – a PM executou 28 moradores com requintes de crueldade. Nos dias 20 e 21 de novembro foi a Chacina do Salgueiro (São Gonçalo/RJ). Vinte e dois policiais do BOPE perseguiram, torturaram e executaram nove pessoas. Dispararam os fuzis 1514 vezes e acertaram 42 tiros. Depois jogaram os corpos no manguezal, fizeram churrasco e roubaram dinheiro e armas. Foram os próprios moradores que resgataram os corpos. Claudio Castro (PL), o governador bolsonarista do Rio de Janeiro, escarneceu das vítimas mortas e ofendeu seus familiares e a comunidade do Salgueiro. Na tarde de 30 de novembro, Jhonny Ítalo da Silva foi algemado na moto e arrastado por um policial militar nas ruas do centro de São Paulo, cena que automaticamente remete à escravidão - prática rotinizada pelo aparato repressivo.

       As graves violações dos Direitos Humanos se multiplicam também na Floresta e no campo. O governo Bolsonaro/Mourão tem cumprido à risca seus princípios programáticos: interdição absoluta de demarcação de terras indígenas, esbulho daquelas já demarcadas e destruição dos principais biomas. Os índices de desmatamento da Amazônia foram para a estratosfera. O Pantanal e o Cerrado também estão em chamas. Houve pesada militarização dos mecanismos de controle para o desmonte total das políticas públicas do meio ambiente. Isto absorveu parte dos seis mil militares – todos saudosos da ditadura - incrustados no aparelho de Estado.

Todo o aparato repressivo/burocrático/jurídico/legislativo/militar se colocou à disposição do agronegócio/latifúndio, das mineradoras e das empreiteiras na Amazônia. Hoje estão em andamento megaprojetos de abertura de estradas (rodovias e ferrovias), construção de hidrelétricas, mineração, empreendimentos agrícolas. São eles os responsáveis pela instalação de um Estado de exceção permanente contra os Povos da Floresta.  Não há mais obstáculo para a concessão de licenciamentos ambientais. Tudo pela soberania, segurança nacional, desenvolvimento econômico, integração. O mesmo discurso e a mesma sanha ecocida, epistemicida e etnocida da ditadura, que causou o massacre de milhares de indígenas. É esta a lógica da PEC do marco temporal, que limita a demarcação das terras indígenas. É também a lógica da inédita permissão do gen. Augusto Heleno - através do Conselho de Segurança Nacional - de sete megaprojetos de exploração de ouro em território intocado da Floresta. Se estes dois absurdos se efetivarem, será o fim definitivo do bioma e mais um gravíssimo ataque aos Povos Indígenas amazônicos.

Com tudo isso, está em andamento uma escalada vertiginosa de mortes de trabalhadores sem terra, quilombolas e indígenas, trucidados por tiros, doenças trazidas pelos invasores e fome, o que também se agravou com a pandemia. Os Yanomami testemunham de novo a transformação de seu território em campo de extermínio. O mesmo que aconteceu no final da década de 1980 com a invasão de mais de 20 mil garimpeiros, quando pelo menos 15% dos indígenas foram mortos. O Acampamento Luta pela Vida, erguido em Brasília de 22 a 28 de agosto deste ano, foi a maior manifestação indígena desde 1988. Foram 170 povos e mais de seis mil indígenas a defender seus direitos originários e seus territórios ancestrais contra o marco temporal. A institucionalidade e a mídia corporativa invisibilizaram totalmente esta luta – como o fazem secularmente.

A necropolítica ultraneoliberal – levada ao paroxismo nesses tempos de pandemia – completa este cenário de graves violações dos Direitos Humanos. Aprofunda-se o aniquilamento das conquistas da classe trabalhadora e dos movimentos sociais acumuladas ao longo de décadas: direito ao trabalho, transporte público, saúde, educação, moradia, alimentação, seguridade social, diversidade. O Brasil volta a ser o país da fome endêmica: são mais de 19 milhões a fazer filas para comprar ossos e carcaças. Aqueles outros milhões na faixa da insegurança alimentar não entram nessa estatística. São 14,4 milhões de desempregados. A maioria dos que estão empregados são superprecarizados. A atual legislação trabalhista praticamente institucionalizou o trabalho análogo à escravidão.

Mais da metade da população vive abaixo e no limiar da linha da pobreza Mais uma vez: a maioria é negra. De um lado, miséria absoluta; de outro, 42 novos bilionários brasileiros entram para a lista dos mais ricos do mundo. De um lado, fome endêmica, diminuição brutal dos meios de subsistência e recrudescimento do desemprego; de outro, superfaturamento do agronegócio, dos bancos e das megaempresas como as gigantes mineradoras e as gigantes farmacêuticas. Neste caso, trata-se literalmente de lucro às custas da doença e da morte, uma vez que globalmente a quebra de patentes das vacinas de COVID-19 não é cogitada.

Quanto às mineradoras, a Vale – uma das maiores do mundo - tem tido lucros recorde nestes últimos três anos. Ela é responsável pelos dois maiores crimes socioambientais em solo brasileiro – o rompimento das barragens de Bento Rodrigues (Mariana/MG - 05/11/2015) e de Brumadinho/MG - 25/01/2019. Em Bento Rodrigues a Vale matou 19 pessoas, destruiu ecossistemas de todo o estuário do Rio Doce. A lama passou por dois estados, 132 municípios e chegou ao oceano. Vários territórios indígenas estavam em seu caminho; os Krenak são os mais atingidos. Em Brumadinho a Vale matou 270 pessoas (11 estão desaparecidas) e provocou danos irreversíveis nos ecossistemas do estuário do Rio Paraopeba. Foi o maior acidente de trabalho do Brasil em número de mortes. Em julho deste ano, a Vale e o governador mineiro Romeu Zema (Novo) – com a anuência do legislativo e do judiciário - sequestraram para benefício próprio os recursos do acordo judicial firmado para a reparação do rompimento da barragem em Brumadinho. Será construído um rodoanel que servirá à mineradora. O restante da verba será distribuído em parcelas entre todos os 853 municípios de Minas Gerais, sob controle estrito do governador. Até agora não houve qualquer tipo de reparação efetiva.

Romeu Zema, bolsonarista de carteirinha, é também violador contumaz dos Direitos Humanos. Ele segue à risca a cartilha do ultraneoliberalismo. Seu objetivo é precarizar e privatizar tudo o que for possível em quatro anos. Uma das suas principais vítimas é o ensino público. Suas investidas: desqualificação das/os trabalhadoras/es em educação; congelamento dos salários; recusa a aplicar os recursos do FUNDEB na educação, como determina a Constituição; transferência da gestão de escolas públicas para a iniciativa privada (projetos Somar e Mãos dadas); avanço do processo de militarização (escolas cívico-militares); imposição de risco sanitário à comunidade escolar com a volta 100% do ensino presencial sem as mínimas condições para isso.

 Sabemos que todas estas graves violações dos Direitos Humanos são inerentes ao sistema capitalista, funcione ele no modo fascista ou não. Foi o capitalismo que forjou o racismo, o escravismo colonial, o patriarcalismo e o fundamentalismo, os quais constituem o alvo da nossa luta. Chico Mendes disse certa vez que “ambientalismo sem luta de classes é jardinagem”. Ousamos parafraseá-lo: a luta pelos Direitos Humanos sem luta de classes pode ser edificante, mas não é eficaz. Concluímos com a exortação de Ailton Krenak à negação resoluta da opressão deste sistema: se hoje há sobreviventes entre os Povos Originários – ele afirma – é porque há mais de 500 anos tem havido muita resistência e muita luta. Reiteramos aqui nossa solidariedade aos familiares e amigos dos mais de 616 mil mortos pela COVID-19. Prestamos nosso tributo à todas/os as vítimas das graves violações dos Direitos Humanos.

Pelo fim do genocídio do Povo Negro e dos Povos Indígenas!

Pelo fim das execuções, dos fuzilamentos, das violências policiais nos morros, vilas, favelas e ocupações!

Abaixo o terrorismo de Estado!

No capitalismo não há Direitos Humanos!

Belo Horizonte, 10 de dezembro de 2021

Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania – BH/MG