"Estamos aqui pela Humanidade!" Comuna de Paris, 1871 - "Sejamos realistas, exijamos o impossível." Maio de 68

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terça-feira, 10 de dezembro de 2024

10 DE DEZEMBRO DE 2024: DIA INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS!

A Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU (1948) e o mecanismo do Direito Internacional dos Direitos Humanos, forjado a partir dela, resultaram das lutas da classe trabalhadora e dos movimentos sociais. Certamente são documentos civilizatórios, mas têm se mostrado ineficazes. Crimes contra a humanidade têm assumido dimensões gigantescas no Brasil e no mundo. Genocídios e graves violações dos Direitos Humanos são, afinal, elementos fundantes do sistema capitalista.

O Estado colonial sionista de Israel foi instituído pela ONU também em 1948. Aí inicia a Nakba, a catástrofe - política genocida permanente e continuada de aniquilação da Palestina histórica e de seu povo. Desde outubro de 2023 a Faixa de Gaza sofre mais uma escalada da Nakba perpetrada por Israel e aliados: Estados Unidos, União Europeia e a negligência da ONU. O aparato midiático naturaliza este horror. Mais de 200 mil palestinas/os foram assassinadas/os. É incalculável o número de vítimas feridas e mutiladas. Mais de 2/3 são mulheres e crianças. O território virou terra arrasada - maior prisão a céu aberto do mundo, imenso campo de extermínio. Há mais de 20 mil palestinas/os nas prisões israelenses – 250 são crianças. O terrorismo sionista avança agora sobre a Cisjordânia, o Líbano e a Síria.

A Revolução de Rojava, o Curdistão sírio, está sob cerco. Por um lado, houve a queda histórica da ditadura sangrenta da dinastia Al-Assad, no poder na Síria desde 1970. A abertura da infame prisão de Sednaya mostra o que foram estes 54 anos de horrores. Por outro lado, a hegemonia da Turquia e de milícias islâmicas fundamentalistas-jihadistas reprime qualquer proposta popular laica, autônoma, socialista. A Revolução de Rojava - em construção desde 2012 – é projeto libertário autônomo, antirracista, anticolonial, antipatriarcal, feminista, anticapitalista. A luta por uma Síria Livre tem longo caminho a percorrer e muitas contradições a enfrentar.

No Brasil, 2024 marca também os 60 anos do golpe de 1964. O legado de exploração e opressão dos 21 anos de ditadura militar (1964-1985) foi consolidado, a partir de 1985, nos 39 anos de transição política pactuada e sem ruptura. O governo fascista de Bolsonaro (2019-2022) é filho dileto deste processo. Este governo se foi, mas o terrível legado da ditadura sobreviveu a ele. Para além do execrável plano de golpe recentemente desmascarado e da canhestra tentativa do 8 de janeiro 2023 - que devem ser radicalmente combatidos – o congresso nacional, as assembleias legislativas, as câmaras de vereadores, os governos estaduais e municipais estão eivados de fascistas e ultradireitistas. Tudo isto revela a organicidade da sordidez do aparelho de Estado, a qual envolve o aparato repressivo, o aparato legislativo/jurídico, o aparato empresarial/midiático, as forças armadas, as milícias.

O legado da ditadura prospera neste ambiente. Não houve abertura dos arquivos. A questão dos desaparecidos não foi sequer equacionada. Na lista de mortos e desaparecidos faltam os nomes e a história dos milhares de indígenas, quilombolas e trabalhadores do campo trucidados. Agentes da ditadura que torturaram, mataram e fizeram desaparecer corpos não foram responsabilizados. Empresários e latifundiários que participaram da repressão sequer foram nomeados. A estratégia do esquecimento se mantém como politica de Estado.  Continua a luta por Memória, Verdade e Justiça.

Não houve desmantelamento do aparato repressivo. O Brasil é o país das chacinas periódicas, do encarceramento em massa, da guerra generalizada contra os pobres. Tem a polícia mais letal do planeta, a qual mata preto e pobre todo dia com as mesmas armas israelenses que matam o Povo Palestino. Aqui as faixas de gaza são favelas, periferias e florestas. Estamos no país do racismo estrutural e do genocídio institucional do Povo Negro e dos Povos Indígenas. Estes nunca tiveram direito à reparação pelos 21 anos de ditadura, pelos mais de 350 anos de escravização e pelos mais de 500 anos de extermínio e esbulho de seus territórios. Sequer a questão do marco temporal – cuja inconstitucionalidade é flagrante – foi resolvida.

Vivemos o impacto da escalada da letalidade policial e da violência generalizada contra a população de rua.  A polícia militar mata 7 pessoas a cada 24 horas. Em 2023 foram 6.393 ao todo, 243 são crianças e adolescentes – 90% são negras. A tortura, o extermínio e o desaparecimento forçado constituem política de Estado levada a cabo por governadores de todos os matizes. Destaque para o fascista Tarcísio de Freitas (Republicanos/SP) e o capitão Derrite, seu carniceiro. Outro destaque para Jerônimo Rodrigues (PT/BA) – a Bahia é o estado campeão em letalidade policial.

Aumenta exponencialmente a criminalização dos movimentos sociais e a ofensiva policial sobre as ocupações urbanas e rurais. A PMMG, fortemente armada, invadiu hoje a Ocupação Eliana Silva, no Barreiro, Belo Horizonte. Um conluio entre o governador fascista Romeu Zema (Novo/MG), o prefeito reacionário Fuad Noman (PSD/MG) e os empresários da especulação imobiliária deu origem a uma ação de reintegração de posse completamente descabida. A ocupação está há 12 anos consolidada naquela região. Bem à moda da ditadura, a PMMG tentava intimidar moradores e apoiadores que preparavam reunião contra esta medida.  Houve violação simultânea do direito à moradia e da liberdade de expressão e organização.

O Brasil é um dos campeões mundiais também em concentração de renda, desigualdade social e número de casos de trabalho escravizado. O arcabouço fiscal do governo Lula/Alkmin traz em seu bojo a necropolítica do totalitarismo de mercado neoliberal: exploração da força de trabalho, precarização, uberização, arrocho e congelamento salariais, privatismo. E ainda: aprofundamento do desmonte das políticas públicas de saúde, educação, moradia, saneamento básico. O outro lado da moeda: renúncias fiscais e subsídios arquibilionários para o agronegócio e as grandes corporações e pagamento dos juros escorchantes da chamada dívida pública para o sistema financeiro. Há interdição total da taxação das grandes fortunas e dos lucros e dividendos imensos deste sistema. Daí a pertinência da luta pela escala 4x3 e o fim da escala 6x1: redução da jornada de trabalho sem redução do salário. Trata-se de luta histórica da classe trabalhadora contra a exploração capitalista.

São as mulheres que sofrem o maior peso do terrorismo de Estado e do capital. Este  recai sobre elas nas quatro dimensões da interseccionalidade gênero, raça, classe e sexualidade. É no Brasil que há o maior número de transfeminicídios do mundo. Também o maior número de estupros e crianças grávidas vítimas desta violência. É um dos primeiros em feminicídio, violência doméstica e violência contra LGBTQIAPN+. Temos uma das leis antiaborto mais retrógradas do planeta, em risco permanente de retroceder ainda mais a partir de leis feitas por homens brancos, ricos, fascistas, misóginos, escravocratas e patriarcais. A cada ano 11.607 meninas estupradas tornam-se mães. São também as mulheres que protagonizam as lutas contra toda esta opressão.

Por tudo isto, entendemos que Direitos Humanos e capitalismo são termos que se excluem mutuamente. A luta pelos Direitos Humanos é contra-hegemônica: Internacionalista e Anticapitalista por definição. Tem que ser necessariamente Feminista, Antirracista, Anticolonial e Antifascista. O Povo Palestino, o Povo Curdo, o Povo Negro, os Povos Indígenas, a classe trabalhadora e os movimentos sociais  existem porque resistem!

VIVA A LUTA DO POVO PALESTINO! ABAIXO O ESTADO SIONISTA DE ISRAEL!

PELO FIM DO GENOCÍDIO DO POVO PALESTINO, DO POVO NEGRO E DOS POVOS INDÍGENAS!

PELO FIM DAS EXECUÇÕES, DOS FUZILAMENTOS, DA VIOLÊNCIA POLICIAL NAS PERIFERIAS, MORROS, VILAS, FAVELAS E OCUPAÇÕES!

ABAIXO O TERRORISMO DE ESTADO!

NO CAPITALISMO NÃO HÁ DIREITOS HUMANOS!

Belo Horizonte, 10 de dezembro de 2024

Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania – BH/MG



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