Imagem: instalação Urgências do presente de Alice Costa Souza. Foto: Sávio Leite. |
NOTÍCIA SOBRE O ATO CENTENÁRIO HELENA GRECO
E REPÚDIO ÀS PROVOCAÇÕES FASCISTAS
DIANTE DO NOME DO VIADUTO D. HELENA
GRECO
Aconteceu
no sábado, dia 18 de junho de 2016, embaixo do Viaduto Dona Helena Greco, o Ato Centenário
Helena Greco (1916 - 2016). Foi um ato público de militância em tributo aos
mortos e desaparecidos políticos da ditadura (1964 – 1985). Foi realizado pelo
Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania, com o apoio da Frente
Independente pela Memória, Verdade e Justiça de Minas Gerais (FIMVJ/MG) e com a
parceria da atriz Idylla Silmarovi e do cineasta Sávio Leite.
Houve
debates, microfone aberto para militantes e movimentos sociais, lançamento de
documentário, apresentação teatral, apresentação musical, discotecagem,
instalação de arte e várias intervenções no viaduto.
A
seguinte programação se estendeu de 16h00 às 21h30:
·
Painéis
seguidos de microfone aberto com a participação de Cecília Coimbra (presa
política durante a ditadura e membro do Grupo Tortura Nunca Mais/RJ), Diva
Moreira (militante histórica do movimento negro, participou da luta contra a
ditadura e do Movimento Feminino pela Anistia/MG), Amelinha Teles (presa
política durante a ditadura, membro da Comissão de Familiares de Mortos e
Desaparecidos Políticos, da União de Mulheres de São Paulo e das Promotoras
Legais Populares), Vicente Gonçalves (militante histórico do movimento de vilas
e favelas, membro da Associação dos Perseguidos Políticos, participou do Comitê
Brasileiro de Anistia/MG). Participaram também da mesa Marília Greco (socióloga
do Projeto Horizonte, participou do Movimento Feminino pela Anistia e do Comitê
Brasileiro de Anistia/MG) e Dirceu Greco (infectologista, professor da UFMG com
trajetória de luta contra a AIDS), filhos de Helena Greco;
·
Exibição
do documentário Arquivos Imperfeitos (2006)
– sobre a trajetória de lutas de
Helena Greco.
·
Lançamento
do documentário Desarquivando o Brasil
(2016) – registro da coleta de material genético de familiares de desaparecidos
políticos para efeito de identificação de ossadas. Tal coleta teve lugar no Instituto Helena
Greco de Direitos Humanos e Cidadania, em 7 de maio de 2007. Ambos os
documentários são de Sávio Leite, que estava presente no ato;
·
Apresentação
teatral Experimento 1: Mostra Guerrilha,
solo de Idylla Silmarovi, direção de Raquel Castro e direção musical de Cláudia
Manzo. Trata-se de apresentação feminista em homenagem às guerrilheiras.
·
Instalação
Urgências do presente de Alice Costa
Souza, que esteva presente no ato. A instalação presta homenagem aos mortos e
desaparecidos políticos e traz a inscrição 1964
NUNCA MAIS!;
·
Apresentação
musical (MPB de protesto e músicas próprias) – voz e violão de Ênio Poeta;
·
Discotecagem revolucionária – DJ Guerrilha e DJ Confusa.
São objetivos deste ato público Centenário Helena Greco:
•
prestar homenagem aos mortos e desaparecidos políticos da ditadura e a todas as
vítimas do aparato repressivo nos dias de hoje;
•
resgatar a memória da luta contra a ditadura, a luta pelos direitos humanos e a
trajetória de Helena Greco;
•
debater e repudiar o terrorismo de Estado e do capital;
•
garantir a identificação do Viaduto, já que não existe no local e no entorno
nenhuma visualização física do seu nome;
•
propor a consolidação do viaduto como lugar de memória para que todas e todos –
movimentos, entidades, indivíduos e militância – façam intervenções/ocupações
permanentes neste espaço.
Compareceram
e participaram do ato militantes dos movimentos sociais, sindicalistas, membros
de organizações políticas de esquerda, população de rua, trabalhadores(as), estudantes,
punks, presos políticos durante a ditadura, familiares de mortos e desparecidos
políticos, companheiros(as) de luta de Helena Greco. O Comitê Mineiro de Apoio
às Causas Indígenas e a Aldeia Umuarama fizeram expressiva denúncia e veemente repúdio
do genocídio dos povos indígenas ao longo da história e na atualidade. Fizeram
também intervenções no viaduto.
Este foi
um ato de democracia direta realizado no chão da rua de forma absolutamente autogestionária,
autônoma e independente com relação ao Estado, governos e empresas. Agradecemos
a todas e todos que participaram do ato e tornaram possível a sua realização.
Até 2014, o viaduto tinha o nome de
Castelo Branco, primeiro ditador imposto pelo golpe militar de 1964. Há
dois anos, no dia 1º de abril de 2014 – 50 anos do golpe – foi feita a
renomeação popular do viaduto, que passou a se chamar Dona Helena Greco. Neste dia foi realizado o seguinte ato público:
“Manifestação em repúdio ao golpe de 1964 – 50 anos! Abaixo a ditadura!”.
Este foi convocado pela Frente Independente pela Memória, Verdade e Justiça de
Minas Gerais (FIMVJ/MG), da qual o Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e
Cidadania participa. Foi feito tributo aos mortos e desaparecidos políticos.
Foi exigida a mudança do nome do Viaduto para Dona Helena Greco. Houve
intervenções com faixas, cartazes, banners e um expressivo silhuetaço. Depois
de muita pressão, o nome Viaduto Dona Helena Greco foi
oficializado no dia 02/05/2014. Até hoje, no entanto, ele não foi identificado
com a instalação de placas indicando o seu nome.
A
extrema direita nunca se conformou com a substituição popular do nome de um
ditador sanguinário pelo nome de uma militante da luta contra a ditadura e da
luta pelos direitos humanos. No
mesmo dia do Ato Público Centenário
Helena Greco pela manhã - antes, portanto, do nosso ato - certo grupo fascista autodenominado Direita Minas fez provocação pesada. Seus membros – muitos deles agentes da
repressão – distribuíram, no Viaduto Dona Helena Greco, canhestro folheto que
destila o mais rebaixado anticomunismo em defesa da Marcha da Família com Deus
(19/03/1964) e da ditadura militar. O folheto ostenta o retrato do ditador
marechal Castelo Branco. Tal grupo é
entusiasta de todas as iniquidades do terrorismo de Estado e do capital de
ontem e de hoje. Ele defende abertamente
crimes contra a humanidade fazendo apologia da tortura e de torturadores; é
adepto do machismo, da cultura do estupro, da LGBTfobia. Combate com ferocidade todas as conquistas e
princípios programáticos do movimento feminista, das comunidades LGBTs, das
causas indígenas, do movimento negro e dos quilombolas. Defende fortemente a redução da maioridade
penal. Apregoa o aprofundamento da repressão e guerra generalizada contra os
pobres, da criminalização das lutas dos(as) trabalhadores(as) e dos movimentos
sociais.
Os adeptos
do Direita Minas portavam com orgulho
camisetas do deputado Jair Bolsonaro (PSC/RJ), réu no Supremo Tribunal Federal
por apologia da cultura do estupro. O
mesmo Bolsonaro – militar da reserva, racista, fascista, machista, LGBTfóbico ao
paroxismo - que é membro proeminente da Bancada da Bala no congresso nacional.
Ele tem como herói o Cel. Brilhante Ustra, o Dr. Tibiriçá, torturador contumaz condenado pela justiça brasileira
em ação declaratória transitada em julgado em 2012, graças à iniciativa de
Amelinha Teles e de seus familiares – todos eles presos e torturados por ele no
DOI-CODI de São Paulo. Brilhante Ustra,
morto em 2015, foi chefe do DOI-CODI/SP - um dos maiores centros de tortura e
extermínio da ditadura militar – nos anos 1970-73, tendo sido responsável por
pelo menos 50 casos de assassinatos e 300 casos de torturas naqueles porões.
Durante
o nosso ato público, houve ainda outra agressão isolada: foi arremessado no
local, de um carro, um saco cheio de cacos de vidro – não acertaram ninguém, o
ato prosseguiu. Mas ficou o recado. Jamais passarão!
O
Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania repudia com veemência
este grupo fascista e suas tentativas de impor uma memória e uma narrativa que são
aquelas dos repressores, torturadores e assassinos de opositores - a história
dos vencedores e da classe dominante. Trata-se da estratégia do esquecimento
que herdeiros da ditadura militar insistem em construir.
O espaço
físico do Instituto
Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania também tem sido alvo de provocações de grupos de
extrema direita. No ano de 2014, seu muro e seu portão foram pichados várias vezes com dizeres anticomunistas, nazistas, machistas e LGBTfóbicos. Dona Helena Greco sofreu ataques de grupos
semelhantes sobretudo durante a ditadura militar. Houve atentado a bomba e
tiros contra sua casa. Ela teve a correspondência violada, recebia ameaças pelo
correio e por telefone. Algumas destas
provocações eram anônimas, outras eram assumidas por grupos parapoliciais e
paramilitares.
Reiteramos
que não aceitamos nem aceitaremos estas provocações. A
maneira de combater estas investidas é identificar o Viaduto Dona Helena Greco e consolidá-lo como
espaço de resgate da luta contra a ditadura; da luta por memória, verdade e
justiça; da luta pelos direitos humanos; da luta pelo fim de todo o aparato
repressivo; da luta contra o terrorismo de Estado e do capital. Trata-se da
construção de um espaço a ser ocupado para a resistência e a reafirmação das
lutas do povo negro, das populações indígenas, das mulheres, da comunidade
LGBTs, dos estudantes, dos(as) trabalhadores(as), da população de rua; das
ocupações rurais e urbanas; dos movimentos sociais: um lugar de memória onde todas e todos – movimentos, entidades, indivíduos
e militância – façam intervenções/ocupações permanentes contra a exploração, a
cultura dominante e a opressão.
VIADUTO DONA HELENA GRECO:
OCUPAR E RESISTIR!
nazi/fascistas
e coxinhas: NÃO PASSARÃO!
VIADUTO DONA HELENA GRECO: SEMPRE!
VIADUTO DONA HELENA GRECO: SEMPRE!
Belo Horizonte, 22 de junho de 2016
INSTITUTO HELENA GRECO DE DIREITOS HUMANOS E
CIDADANIA (BH/MG)
Imagem: camisetas da Ocupação Helena Greco, Bairro Zilah Spósito. Foto/Arquivo: Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania. |
Fotos acima/Arquivo: Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania.
Foto: Raquel Castro. |
Foto: Jô Miranda. |
Fotos acima: Sávio Leite.
Fotos acima/Arquivo: Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania.
Fotos acima: Alice Costa Souza.
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