Nossa
visita à Ronda das Quintas-feiras das Mães da Praça de Maio,
Buenos
Aires/Argentina
Na última quinta-feira, dia 13 de outubro
de 2016, o Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania esteve
presente na Ronda de los Jueves de las
Madres de Plaza de Mayo (Ronda das Quintas-feiras das Mães da Praça de
Maio), em torno da Pirámide de Mayo,
na Plaza de Mayo, em Buenos Aires. Desde
30 de abril de 1977 - em plena ditadura militar (1976-1983) – as mães de presos(as)
políticos(as) sequestrados(as), torturados(as) e executados(as) se concentram
nesta praça todas as quintas-feiras, sempre às 15h30. A praça é situada em frente à Casa Rosada,
sede do governo argentino. As Mães da
Praça de Maio enfrentaram o terrorismo de Estado durante a ditadura em busca
dos seus filhos e filhas desaparecidos(as). Elas nunca esmoreceram, nem mesmo
depois dos sequestros, torturas e mortes de três das suas fundadoras em
dezembro de 1977.
Durante
a Copa do Mundo de 1978 – que aconteceu na Argentina –, las Madres denunciaram para o mundo a prática genocida e os crimes
contra a humanidade perpetrados pela ditadura.
Sua visibilidade só tem crescido desde então. As Mães da Praça de Maio
contam com a parceria das Abuelas de
Praça de Mayo (Avós da Praça de Maio) e da Federación de los Familiares de Desaparecidos y Detenidos por Razones
Politicas/FEDEFAM (Federação de Familiares de Desaparecidos e Detidos por
Razões Políticas). Nesta luta há também
a atuação importante das Hijas y Hijos
por la Identidad y la Justicia contra el Olvido y el Silêncio/ H.I.J.O.S.(Filhas e Filhos pela
Identidade e a Justiça contra o Olvido e o Silêncio). Desde 1986 as Mães da Praça de Maio possuem
duas linhas: a Associación Madres de
Plaza de Mayo (Associação Mães da Praça de Maio) e Madres de Plaza de Mayo Linea Fundadora (Mães da Praça de Maio
Linha Fundadora). Elas se colocam
como movimento social e político apartidário e independente de governos.
Defendem a democracia revolucionária, não a democracia burguesa. A linha Associación Madres de Plaza de Mayo, no
entanto, apoiou o kirchnerismo,
recebeu subsídios e estabeleceu certo vínculo com os governos deste período. Já Madres
de Plaza de Mayo Linea Fundadora manteve o princípio da independência
firmado na sua origem, em 1977. Ambas as
linhas fazem a Ronda de Plaza de Mayo
às quintas-feiras e partilham o princípio da luta sem trégua pelos direitos
humanos e por memória, verdade e justiça.
Na
Argentina são 30 mil opositores(as) sequestrados(as), presos(as),
torturados(as) e executados(as) pela ditadura – 5 mil arremessados vivos de
aviões no Rio da Prata, os voos da morte.
Muitas da presas políticas deram a luz em cativeiro – são 500 bebês
sequestrados e apropriados pelos militares e seus aliados. Destes, 117 foram encontrados e recuperaram
sua verdadeira identidade. Ao contrário do que acontece no Brasil, foram abertos 1136 processos contra os
militares genocidas – houve 563 condenações.
O próprio ditador Jorge Rafael Videla foi condenado a prisão perpétua
por crimes contra a humanidade em dezembro de 2010 e morreu na prisão em maio de 2013, aos 87
anos. Tudo isto é devido à luta das Mães
da Praça de Maio, das Avós da Praça de Maio e dos H.I.J.O.S.
Depois
da ditadura, as Mães da Praça de Maio e
seus aliados se mantêm firmes na luta. Continuam a buscar seus milhares de filhas
e filhos desaparecidos(as): a única luta
que se perde é aquela que você abandona, dizem elas. A Ronda
de los Jueves constitui manifestação importante desta luta e se tornou ela
mesma documento contra o terrorismo de Estado. Em toda a extensão do perímetro
da Praça de Maio foi imprimido o símbolo das Madres – o panuelo branco
que elas portam e que as identifica no
mundo inteiro. Na quinta-feira (13/10) tivemos a oportunidade de acompanhar a
sua 2009ª marcha. A comissão de frente da ronda é composta por Madres – com idade entre 75 e 95 anos de
idade.
Depois
de fazer a ronda, las Madres se
sentam e falam para os presentes. Na praça, estavam presentes vítimas da
ditadura, familiares de mortos e desaparecidos, ex-presos políticos, estudantes,
trabalhadores(as) e muitas crianças. Todas
e todos as receberam com entusiasmo, respeito e solidariedade ao cantar:
Las
madres en la plaza,
El
Pueblo las abraza!
(As mães na praça,
o povo as abraça!)
Para
nós, do Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania, las Madres
de Plaza de Mayo constituem referência incontornável de combatividade e
radicalidade na luta. Fazemos nossa a exortação delas:
30
000 detenidos desaparecidos PRESENTES!
Ahora
y siempre.
Hasta
la victoria!
(30
000 detidos desaparecidos PRESENTES!
Agora
e sempre.
Até
a vitória!)
E acrescentamos:
VIVA
A LUTA DAS MÃES DA PRAÇA DE MAIO!
Belo Horizonte, 18
de outubro de 2016
Notícia/Fotos/Arquivo:
Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania
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