Foi
com imensa consternação que recebemos a noticia do falecimento do companheiro
Manoel da Conceição em Imperatriz/Maranhão, aos 86 anos, na última
quarta-feira, 18 de agosto. Manoel da Conceição é uma das grandes referências
da luta contra o latifúndio e do combate à ditadura militar (1964-1985).
No início da década de 1960 participou do
Movimento de Educação de Base (MEB), de Paulo Freire. Foi alfabetizado neste
movimento e ajudou a organizar dezenas de escolas de alfabetização na região de
Pindaré-Mirim/MA. Em 1963 foi um dos
fundadores do Sindicato dos Trabalhadores Rurais do Maranhão, do qual foi o
primeiro presidente, sindicato que chegou a ter mais de quatro mil filiados.
Em 1964, logo depois do golpe, os militares
invadiram o sindicato e prenderam mais de 200 trabalhadores. Em 1968, a polícia
abriu fogo contra uma das subsedes do sindicato, em Anajá. Manoel da Conceição
foi baleado na perna direita. Na prisão não recebeu tratamento e teve a perna
amputada. O governador do Maranhão à época era José Sarney (ARENA).
Manoel da Conceição foi militante da Ação
Popular, viajou o Brasil e o mundo. Na China socialista (1969) conheceu a
guerra popular de base camponesa, que se tornou uma de suas referências. Ao
retornar a Pindaré-Mirim, em 1970, centenas de camponeses foram presos na
região. Manoel da Conceição foi sequestrado e preso em janeiro de 1972 pelo
DOPS do Maranhão, depois transferido para a Polícia do Exército do Rio de
Janeiro, em seguida para o Centro de Informações da Marinha (CENIMAR). Foram
sete meses de torturas intensivas inclusive nos órgão genitais, as quais
deixaram lesões físicas permanentes. Só foi apresentado à Auditoria Militar em
setembro de 1972; condenado, cumpriu três anos de prisão.
Em outubro de 1975 foi novamente
sequestrado, preso e barbaramente torturado pelo famigerado DEOPS paulista.
Ampla campanha nacional e internacional com a participação de D. Paulo Evaristo
Arns, do reverendo Jaime Wright, de movimentos pelos Direitos Humanos e da
Anistia Internacional garantiram a sua libertação e seu exílio em Genebra/Suíça.
Lá ele se tornou uma das principais vozes de denúncia contra ditadura militar
brasileira militando na luta pela Anistia Ampla, Geral e Irrestrita. Participou
ativamente da Conferência Internacional pela Anistia e Liberdades Democráticas
no Brasil (Roma, Itália, 28 a 30 de junho de 1979).
Voltou ao Brasil em 1979, logo depois da
lei de anistia parcial e continuou na luta contra a ditadura e se organizando
pela classe trabalhadora - teve importante papel na construção das oposições
sindicais. A partir da década de 1990, seguiu firme na
sua luta permanente contra o latifúndio/agronegócio ao participar da construção
de várias entidades e organismos como: o Centro Nacional de Apoio às
Populações Tradicionais (CNPT); a Reserva Extrativista do Ciriaco; a Rede Frutos do
Cerrado em vários municípios do Maranhão; cooperativas de pequenos produtores
rurais no sul do Maranhão; a União Nacional de Cooperativas da Agricultura
Familiar de Economia Solidária (Unicafes); a Central de Cooperativas do
Maranhão.
O
companheiro Manoel da Conceição dedicou sua vida à luta contra a exploração e
opressão: é, com certeza, um dos imprescindíveis,
no sentido brechtiano. Nosso forte abraço de solidariedade aos seus familiares e companheiras/os. Ele estará sempre presente nas nossas lutas!
COMPANHEIRO MANOEL DA CONCEIÇÃO:
PRESENTE, HOJE E SEMPRE!
Belo Horizonte, 23 de agosto de 2021
Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania – BH/MG
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