"Estamos aqui pela Humanidade!" Comuna de Paris, 1871 - "Sejamos realistas, exijamos o impossível." Maio de 68

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sábado, 28 de agosto de 2021

42 ANOS DA LEI DE ANISTIA PARCIAL E RESTRITA: POR UMA ANISTIA AMPLA, GERAL E IRRESTRITA!

      A lei 6683, de 28 de agosto de 1979, faz hoje 42 anos. Ela traz no seu bojo a Doutrina de Segurança Nacional, arcabouço ideológico da ditadura militar (1964-1985), aquela que preconiza a eliminação sistemática dos inimigos internos. Nela estão contidas a estratégia do esquecimento, a mentira organizada, o negacionismo, a institucionalização da tortura e dos desaparecimentos forçados.

Tudo isto sobreviveu aos 21 anos de ditadura sangrenta e aos 33 anos de transição política sem ruptura, forjada nas entranhas do sistema (1985-2018). Consolidou-se a interpretação equivocada e escabrosa de que se trata da lei de autoanistia. Esta foi positivada pelo Supremo Tribunal Federal, em 2010, com o indeferimento da ADPF 153. Determinou-se, então, a inimputabilidade automática de todos os agentes do Estado que perpetraram crimes de lesa humanidade. Lembremos que estes crimes são inanistiáveis, imprescritíveis e inafiançáveis. 

Todas estas iniquidades têm sido levadas às máximas consequências nestes quase três anos de governo fascista Bolsonaro/Mourão, que as adotou como politica de Estado. Trata-se de um governo dos militares, tanto quanto a ditadura o fora. Trata-se também de um governo das milícias. São mais de seis mil componentes das forças armadas a ocupar cargos de primeiro escalão e postos estratégicos em todas as instâncias do executivo. Todos eles entusiastas da ditadura militar, defensores explícitos da tortura e adeptos do mais canhestro negacionismo. Neste mês de agosto cem deles foram nomeados marechais, inclusive o finado arquitorturador cel. Brilhante Ustra, principal paradigma do projeto de poder em vigor.

A Anistia Ampla, Geral e Irrestrita pela qual lutavam o Movimento Feminino pela Anistia (MFPA), a partir de 1975, e os Comitês Brasileiros pela Anistia (CBAs), a partir de 1977, combatia radicalmente o projeto da ditadura de anistia parcial e recíproca. Os trechos a seguir foram extraídos das Resoluções da Carta do I Congresso Nacional pela Anistia, realizado em São Paulo, em novembro de 1978[i]:  

“A anistia pela qual lutamos deve ser Ampla – para todas as manifestações de oposição ao regime; Geral – para todas as vítimas da repressão; e Irrestrita – sem discriminações ou restrições. Não aceitamos a anistia parcial e repudiamos a anistia recíproca. Exigimos o fim radical e absoluto das torturas e dos aparatos repressores, e a responsabilização judicial dos agentes da repressão e do regime a que eles servem.” (Congresso Nacional pela Anistia Resoluções. São Paulo, novembro 1978, p.5).

“Os movimentos pela anistia entendem claramente que não se trata de reformar o poder judiciário, a legislação eleitoral, a LSN. Impõe-se a supressão do aparato repressivo, a desativação dos centros de tortura, oficiais, clandestinos ou militares. Impõe-se a responsabilização dos que, investidos da autoridade conferida pelo poder de polícia, têm praticado torturas e assassinatos; impõe-se acabar com a impunidade dos órgãos paramilitares.” (Congresso Nacional pela Anistia Resoluções. São Paulo, novembro 1978, p.8).

São evidentes e impressionantes a atualidade, a pertinência e a radicalidade deste documento de 1978. Nestas mais de quatro décadas que se passaram, não foi possível sequer equacionar a questão dos mortos e desaparecidos políticos, ter acesso irrestrito aos arquivos da repressão e nem mesmo nomear as/os milhares de indígenas e trabalhadoras/es sem terra trucidadas/os pela política genocida da ditadura e de seus aliados - o latifúndio/agronegócio, as grandes mineradoras, madeireiras  e empreiteiras. São as mesmas forças que hoje estão no poder sedimentando as mesmíssimas práticas de esbulho e extermínio.

Assim, todos os princípios formulados pela luta pela Anistia Ampla, Geral e Irrestrita continuam valendo e compõem a nossa luta permanente contra o aparato repressivo e pelo direito à História, à Memória, à Verdade e à Justiça.

DITADURA NUNCA MAIS!

TORTURA NUNCA MAIS!

NOSSO TRIBUTO A TODAS/OS QUE TOMBARAM NA LUTA CONTRA A DITADURA!

ABAIXO O GOVERNO GENOCIDA DE BOLSONARO, MOURÃO E MILITARES!

Belo Horizonte, 28 de agosto de 2021

Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania – BH/MG


[i] CONGRESSO NACIONAL PELA ANISTIA. Resoluções Proposições políticas gerais. São Paulo, nov. 1978, mimeo, p.8

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