"Estamos aqui pela Humanidade!" Comuna de Paris, 1871 - "Sejamos realistas, exijamos o impossível." Maio de 68

R. Hermilo Alves, 290, Santa Tereza, CEP: 31010-070 - Belo Horizonte/MG (Ônibus: 9103, 9210 - Metrô: Estação Sta. Efigênia). Contato: institutohelenagreco@gmail.com

Reuniões abertas aos sábados, às 16H - militância desde 2003.

sexta-feira, 1 de abril de 2022

1º ABRIL DE 2022 – 58 ANOS DO GOLPE DE 1964. DITADURA NUNCA MAIS!

O golpe militar de 1964 instaurou no Brasil uma ditadura (1964-1985) que se tornou referência para todas as outras do Cone Sul da América Latina. Todas seguiam a Doutrina de Segurança Nacional: anticomunismo exacerbado; Deus, Pátria e Família acima de tudo; defesa dos ideais do Ocidente; sujeição ao imperialismo estadunidense; contenção e eliminação dos inimigos internos. A ditadura brasileira exportou para as demais  técnicas de tortura, de desaparecimentos, de assassinatos de opositoras/es, de montagem do aparato repressivo.

Os Estados Unidos tiveram protagonismo em todas elas. Todas tinham o projeto fascista de modernização do capitalismo, a ser viabilizado pelo mais extremado terrorismo de Estado. Daí a criação conjunta da Operação Condor - a famigerada transnacional do terror - para a eliminação dos inimigos internos.

Em longevidade, a ditadura brasileira só perde para a do Paraguai (1954-1989). Assim, no Brasil, os militares tiveram tempo suficiente para concretizar a sua obra. Foram os militares que consolidaram a institucionalização da tortura, os desaparecimentos forçados e a fabricação do esquecimento. Formataram enorme aparato jurídico, gigantesco aparato repressivo e ubíqua estrutura de vigilância e censura. Milhares de pessoas foram cassadas, presas, torturadas, exiladas, banidas, mortas e desaparecidas. Este aparato repressivo vinculava organicamente as forças armadas, as polícias e grupos de extermínio.

O golpe militar continua a nos cercar por todos os lados. Foram os 21 anos de ditadura sangrenta e os 34 anos de transição pactuada (1985-2018) que abriram espaço para o advento do governo fascista Bolsonaro (PL)/Mourão (Republicanos). O quadro descrito ao longo desta nota se aplica ao projeto de poder bolsonarista. Este tem como referência a própria ditadura. Seus heróis são torturadores e milicianos (grupos de extermínio).

Tanto quanto a ditadura, o bolsonarismo tem ódio mortal dos Direitos Humanos e de qualquer tipo de diversidade. O Brasil é um dos campeões mundiais em concentração de renda e desigualdade social. Tem a polícia mais letal do mundo. Este é o país do racismo estrutural e do genocídio institucional do Povo Negro e dos Povos Indígenas. É o vice-campeão em genocídio sanitário deliberadamente provocado pelo negacionismo adotado como método de governo – são mais de 660 mil vidas perdidas para a COVID-19.  

Continuamos na luta pelo desmantelamento do aparato repressivo e na luta contra a tortura e o extermínio institucionalizados. Continuamos na luta pela abertura dos arquivos da repressão. Bolsonaro tem tentado destruir documentos sensíveis do Arquivo Nacional. Aniquilou o que havia de política pública voltada para Memória, Verdade e Justiça. Até hoje não foi resolvida a questão das/os desaparecidas/os políticas/os. A elas/es devemos enterro digno e resgate histórico. Não houve responsabilização pública dos seus algozes. Incluímos aí os empresários, latifundiários e banqueiros que respaldaram e financiaram a ditadura. Até hoje não constam nas nossas listas os nomes dos milhares de indígenas e trabalhadoras/es rurais trucidadas pela ditadura, pelo latifúndio e pelas gigantes empreiteiras e mineradoras.

Como a ditadura, o governo atual é dos militares: mais de seis mil estão incrustados em todas as malhas do aparelho de Estado. São todos entusiastas do golpe militar de 1964, da ditadura, da tortura. A mando de Bolsonaro, desde 2019 foram retomadas as ordens do dia alusivas ao 31 de março do Ministério da Defesa, assinadas pelo ministro e pelos três comandantes das forças armadas. Foi institucionalizada, assim, a apologia da ditadura e de crimes contra a humanidade, com respaldo do Supremo Tribunal Federal. Sempre no canhestro jargão da caserna, estas ordens do dia reproduzem fielmente o negacionismo histórico, o auto-enaltecimento e a mentira organizada – características essenciais da ditadura militar e do bolsonarismo.   A ordem do dia deste ano, como a do ano passado, é assinada pelo general Braga Netto (PL), ministro da defesa até ontem, candidato a vice-presidente de Bolsonaro.

Os fascismos prosperam em todas as instâncias de poder. O aparato repressivo é cada vez mais incrementado. Os inimigos internos são cada vez mais fustigados. Como tem acontecido com as professoras/es grevistas da rede estadual de Minas Gerais e da rede municipal de Belo Horizonte. Recentemente, a polícia militar do governador bolsonarista Zema (Novo) reprimiu grevistas em São João del Rei e Uberaba. No dia 29/03, em frente à prefeitura de Belo Horizonte – espaço público, portanto - professoras/es municipais foram brutalmente atacadas/os pela tropa de choque da guarda civil municipal, a mando do então prefeito Kalil (PSD). Houve espancamento generalizado com cassetetes. Houve bombas e tiros de escopetas com balas de borracha a curta distância. Grevistas que lá estavam, pouco mais de vinte pessoas, ficaram feridas/os - quatro deles mais gravemente. Felizmente agora todas/os estão fora de perigo. Um dos professores, que tomou forte golpe de cassetete na cabeça, foi literalmente arrastado, ainda desmaiado, para o pronto socorro. Depois foi preso e ficou incomunicável por horas.

Se já é aberração a existência de uma guarda civil municipal militarizada, é absolutamente inaceitável a feroz repressão desencadeada em cima de professoras/es em luta por seus direitos, pelo piso salarial, contra o aniquilamento de carreiras, contra a precarização do trabalho, contra o desmonte do ensino público.

Este cenário remete, mais uma vez, à ditadura militar. Lembremo-nos das históricas greves de 1979, quando as/os professoras/es também lutavam ao lado de diversas categorias. Toda a diretoria da União dos Trabalhadores de Ensino de Minas Gerais (UTE/MG) – hoje Sind-UTE/MG - foi presa e levada para o DOPS. Quatro trabalhadores grevistas foram assassinados pela polícia militar: três em Minas Gerais (o trabalhador da construção civil Orocílio Martins Gonçalves e os metalúrgicos Benedito Gonçalves e Guido Leão) e um em São Paulo (o metalúrgico Santo Dias). Saudamos as/os grevistas de ontem e de hoje. Nosso tributo a todas as vítimas do terrorismo de Estado e do capital.  A elas/es nossas homenagens e nossa solidariedade.

ABAIXO A REPRESSÃO!

GOLPE, DITADURA E TORTURA NUNCA MAIS!

PELO DIREITO À HISTÓRIA, À MEMÓRIA, À VERDADE E À JUSTIÇA!

FASCISTAS NÃO PASSARÃO!

Belo Horizonte, 1º de abril de 2022

Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania – BH/MG


Nenhum comentário:

Postar um comentário