"Estamos aqui pela Humanidade!" Comuna de Paris, 1871 - "Sejamos realistas, exijamos o impossível." Maio de 68

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sexta-feira, 7 de maio de 2021

CHEGA DE CHACINA! TODA SOLIDARIEDADE À COMUNIDADE DO JACAREZINHO!

      Na manhã do dia 6 de maio de 2021, a Polícia Civil do Rio de Janeiro – com apoio da Polícia Militar - invadiu o Jacarezinho, zona norte da capital, com mais de 250 homens portando armas de grosso calibre, 4 caveirões terrestres e dois aéreos (helicópteros blindados munidos de plataformas de tiro). A favela inteira foi literalmente crivada de balas e de bombas de gás pimenta. Um policial foi morto, o que exacerbou ainda mais a sanha assassina dos seus colegas. Moradoras/es tiveram suas casas arrombadas e destruídas. Seus telefones foram confiscados. Houve torturas e execuções dentro de seus próprios domicílios, nas ruas e nos becos. Usuários do metrô foram baleados. Houve requintes de crueldade: policiais expuseram o cadáver ensanguentado de um jovem no meio da rua, em posição vexatória, para, segundo eles, servir de exemplo para a comunidade. Cadáveres foram espalhados por todo o território. Não houve marca de troca de tiros: como sempre, o que aconteceu foram as execuções sumárias que a polícia chama de autos de resistência.

 Este massacre durou mais de seis horas. Aconteceu à luz do dia e a céu aberto. Segundo testemunhas, as mortes foram mais de 25. As vítimas foram levadas em carros blindados. Nada se sabe delas até agora. Não foram divulgados seus nomes, nem o número de feridos. Crianças e adolescentes foram atingidas/os. Não houve perícia, o cenário dos crimes foi descaracterizado.

Esta chacina aconteceu menos de 20 dias depois da audiência pública do Supremo Tribunal Federal (19/04/2021) sobre a letalidade policial no Rio de Janeiro.  O objeto da audiência foi a avaliação dos resultados da proibição de operações policiais nas vilas e favelas durante a pandemia (ADPF 635, junho 2020) – salvo em casos excepcionais, que devem ser comunicados ao Ministério Público. Esta legislação é resultado de forte pressão dos movimentos sociais e moradoras/os destas comunidades.

Nesta audiência pública constatou-se que tais operações policiais continuaram a ocorrer e tiveram aumento exponencial neste ano de 2021. No primeiro trimestre 453 pessoas foram mortas pela polícia e houve 30 chacinas na região metropolitana do Rio. Trata-se de questão histórica e sistêmica: o Brasil é campeão mundial em letalidade policial e graves violações dos Direitos Humanos. A partir de 2019 – com o governo de extrema-direita Bolsonaro/Mourão/militares – a polícia que mais mata preto e pobre todo dia tem batido cotidianamente o próprio recorde.

Há ainda a peculiaridade terrível do aumento exponencial da execução de crianças e adolescentes negras/os: de 2017 a 2019, foram 2215 em todo o país e este número não para de crescer a partir de 2020. Só no Rio de Janeiro, 12 crianças negras foram executadas naquele ano: Anna Carolina de Souza Neves, Douglas Enzo, Ítalo Augusto, João Pedro, Emily Vitória, Rebeca Beatriz, Kauã Vitor da Silva, Leônidas Augusto, Luiz Antônio de Souza, Maria Alice Neves, Rayane Lopes, João Vitor Moreira. Aumenta também o número de casos de tortura e desaparecimentos forçados – sobretudo na Baixada Fluminense.

As chacinas têm atingido periodicidade cada vez mais curta e regular. Esta do Jacarezinho é a segunda maior do Rio de Janeiro até hoje. A primeira é a da Baixada Fluminense, em 2005, 29 executados; a terceira a de Vigário Geral, em 1993, 21 executados; a quarta a do Complexo do Alemão, 2007, pela Força Nacional de Segurança, 19 mortos; e a de Vila Vintém, 2009, também 19 mortos. Vamos falar de mais duas recentes: 13 executados nas favelas do Fallet, Fogueteiros e Prazeres, fevereiro 2020; 12 executados no Complexo do Alemão, maio 2020.  

Este projeto de extermínio se consolida como política de Estado. Trata-se de genocídio institucional que, juntamente com o genocídio sanitário eugenista e higienista e o racismo estrutural, constitui elemento essencial da necropolítica em andamento.  

A chacina do Jacarezinho escancara os horrores do terrorismo de Estado levado às máximas consequências. Em entrevista coletiva, o comando da Polícia Civil se mostra seguro com o sucesso da operação – sempre a guerra às drogas – que teria ocorrido “dentro de total legalidade”. Fica claro que o aparato policial-repressivo incorporou na prática a prerrogativa da excludência de ilicitude (leia-se direito de matar) mesmo que ela ainda não tenha sido positivada. O delegado Rodrigo Oliveira, subsecretário de Planejamento e Integração Operacional, responsabiliza o que chama de “ativismo judicial”, “entidades e grupos ideológicos” por não poder invadir o morro mais vezes para “defender a sociedade de bem” (leia-se para deixar preto no chão).

Para a Polícia Civil, aquele é o território das classes perigosas indesejáveis, do inimigo interno a ser eliminado. É assim que ela tentou fundamentar a excepcionalidade protocolar exigida pela ADPF 635 para este tipo de operação: a periculosidade geral. Nas palavras do delegado Felipe Cury: “Não tem suspeito aqui - tem criminoso, homicida e traficante. Nossa dor é a morte do nosso colega”. Em momento algum se fala nas milícias, são elas que mais capitalizam e avançam a partir desta política genocida. As milícias, afinal, têm relação orgânica não só com as polícias, mas com Bolsonaro e o aparelho de governo. Como os militares, também elas estão no poder. O Rio de Janeiro está todo em suas mãos. Não podemos perder de vista que, desde a ditadura militar, policiais civis têm organicidade com o Esquadrão da Morte/Scuderie Le Cocq e protagonismo nos grupos de extermínio, nos grupos parapoliciais e paramilitares. É esta a origem direta das milícias.

Pelo horror desta chacina deve ser responsabilizado também o governador bolsonarista Cláudio Castro (PSC), depositário da política de segurança pública baseada no confronto e no abate do impichado Wilson Witzel (PSC). O Ministério Público, por sua vez, foi comunicado pela Polícia Civil logo depois do início da operação, a qual teve a sua anuência.  

Prestamos nosso tributo e solidariedade à comunidade do Jacarezinho, aos familiares, às/os companheiras/os das vítimas da chacina. Todo nosso apoio aos que lutam contra o terrorismo de Estado e pelo desmantelamento do aparato repressivo. O desagravo só virá com a erradicação do genocídio institucional supremacista através da luta independente, combativa e classista/popular. – luta necessariamente Feminista, Antirracista, Antifascista, Anticapitalista e Decolonial.

CHEGA DE CHACINA! PELO FIM DA POLÍCIA ASSASSINA!

PELO FIM DO GENOCÍDIO DO POVO NEGRO!

PELO DESMANTELAMENTO DO APARATO REPRESSIVO!

TODO O APOIO E SOLIDARIEDADE ÀS VÍTIMAS DO TERRORISMO DE ESTADO NO JACAREZINHO!

Belo Horizonte, 7 de maio de 2021

Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania – BH/MG


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