Foto/Arquivo: Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania |
NOTA DE REPÚDIO AO DESPEJO SOFRIDO PELA
COMUNIDADE
O Instituto Helena Greco de Direitos
Humanos e Cidadania (Belo Horizonte/MG) vem a público manifestar o mais
veemente repúdio ao despejo sofrido pela comunidade Pataxó da Aldeia Aratikum, localizada no
município de Cabrália/Bahia. A ação ocorrida na quinta-feira, dia 13 de outubro
de 2016, demonstra o quadro sistêmico de massacre, etnocídio e genocídio
instaurado contra os povos originários, institucionalizado pelo Estado
brasileiro desde a época da invasão portuguesa. A comunidade da Aldeia Aratikum
permanece resistindo e lutando pelo direito de ocupar suas terras ancestrais.
Essas têm sido continuamente atacadas pela prática da especulação imobiliária e
saqueadas pela indústria de turismo predatório.
A comunidade Pataxó enfrenta um
histórico processo de luta pela terra. A região de Porto Seguro/Cabrália é
conhecida nacionalmente como o marco do “descobrimento” do Brasil. Este fato é
crucial para entender a situação das comunidades indígenas da região, que sofrem
mais de 500 anos de contato e invasão marcados pelo massacre e pelo saque de
suas terras.
Na década de 1990, após contínuo
processo de luta e reivindicação por suas terras, os Pataxó conseguiram a
demarcação de parte do seu antigo território. Apesar dessa conquista, as terras
demarcadas não representam a totalidade daquelas reivindicadas pela comunidade.
A demarcação das terras indígenas foi controlada de maneira absoluta pela elite
local, que conduziu todo o processo de forma a conservar as áreas de maior
interesse imobiliário. No final deste processo, grande parte do território
Pataxó ficou fora das terras demarcadas. Esse fato trouxe indignação e revolta
à comunidade indígena.
A luta Pataxó se radicalizou com a
escabrosa comemoração dos 500 anos de “descobrimento”,
ocorrida no ano 2000. As manifestações, que repudiavam a narrativa hegemônica
da história, tomaram as ruas de Cabrália/BA exigindo demarcação imediata das
terras indígenas e denunciando a farsa histórica que o megaevento representava.
Os atos, realizados pelo movimento indígena, foram alvo de grande repressão. O
aparato repressivo de guerra fora novamente montado, deixando vários(as)
indígenas feridos(as). Apesar de tanta repressão, a luta Pataxó pela terra
ganhou força e foi capaz de encampar novo processo de retomada de terras,
responsável pela fundação das aldeias: Guaxuma, Juerana, Novos Guerreiros, Nova
Coroa, Tihí Kamayurá, Mirapé, Nova Esperança, Pé do Monte, Aldeia Nova, Jataí e Aratikum.
A Aldeia Aratikum faz parte desse duro
processo de retomada de terras que a comunidade Pataxó do sul da Bahia está a
enfrentar. Fundada há dois anos, a Aldeia conta com 15 famílias que ergueram,
neste curto período, toda uma comunidade: construíram casas, uma escola, um
centro de saúde e um centro cultural - tudo isso com as próprias mãos. A situação
da Aldeia é ainda agravada pela especulação imobiliária que a indústria do
turismo trava na região. A região de Santo André, pertencente ao município de
Cabrália, foi o ponto de hospedagem da seleção alemã de futebol durante a Copa
do Mundo de Futebol/FIFA de 2014. Esse evento trouxe uma hiper valorização da
área, há muito cobiçada por suas
belezas naturais. Foi neste cenário de grande interesse econômico que, no ano de 2015, a Aldeia sofreu duro golpe. Foi expedida pela Justiça Federal
liminar de reintegração de posse. Mesmo com o risco iminente, a comunidade continuou a
ocupar suas terras. No dia 13 de
outubro de 2016, sofreu violento
despejo a mando do Estado,
executado pelas forças da Polícia Federal, CAEMA e CTO. Estas duas últimas pertencem à Polícia
Militar baiana, conhecida nacionalmente por sua truculência e
brutalidade.
Com fuzis em punho, carros e um trator, Polícia Militar e Polícia Federal promoveram verdadeira operação de guerra contra 15 famílias
Pataxó. Com muita truculência e de forma arbitrária, as forças policiais
destruíram as casas, a escola, o centro de cultura e o posto de saúde da
comunidade, sem dar tempo para a retirada dos pertences. A comunidade foi
empurrada para as beiras da BR-001, onde agora vive em condições precárias e
sofre constantes ameaças. As comunidades indígenas são tratadas constantemente
como inimigas do Estado. O dantesco
aparato repressivo montado no despejo da Aldeia Aratikum demonstra, novamente,
o histórico papel colonizador que as polícias brasileiras desempenham no massacre às comunidades
originárias.
É importante reiterar a denúncia da atuação da Copa do Mundo/FIFA de 2014 nesse processo de despejo da Aldeia
Aratikum. O megaevento foi responsável em todo país por desocupações feitas
seguindo o mesmo modus
operandi. As comunidades
despejadas sofreram grande repressão policial e tiveram seus bens destruídos. O grande legado
da Copa do Mundo/FIFA para a
comunidade da Aldeia Aratikum foi a
espoliação das terras indígenas através
da hiper valorização imobiliária com fins turísticos.
Na segunda-feira, 17 de outubro,
professores e estudantes do PROEXT/ UFSB (Programa de Ensino e Extensão da
Universidade Federal do Sul da Bahia) - voltado para a questão indígena
Pataxó/Maxakali - convocaram um encontro com a comunidade da aldeia a fim de
repudiar o despejo e entender quais são as maiores necessidades frente ao grave
cenário atual. Durante o evento,
realizado na UFSB/Porto Seguro, o cacique Ailton Pataxó denunciou a ação de guerra das forças
repressivas, que violentou a comunidade e destruiu a aldeia. Repudiou também o sistema judiciário, que sempre está
do lado dos ricos e poderosos. Foi
ainda destacada a ineficiência da
FUNAI (Fundação Nacional do
Índio) na proteção dos direitos
indígenas e a necessidade da organização coletiva para a luta pela demarcação
de terras e pela garantia dos direitos indígenas.
Na noite de terça-feira, dia 18 de
outubro, a comunidade Pataxó decidiu convocar uma marcha saindo da Aldeia da
Jaqueira rumo à Aldeia Novos Guerreiros com fechamento da pista da BR-367. A manifestação contou
com a presença de indígenas de diversas aldeias da região - Mirape,
Novos Guerreiros, Jaqueira e Coroa Vermelha. O ato repudiou o despejo e
reivindicou a demarcação imediata das terras Pataxó. As lideranças da
comunidade se pronunciaram e afirmaram resistir e lutar para que a comunidade recupere o território da Aldeia Aratikum. Membro do Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e
Cidadania esteve presente na manifestação e junto aos indígenas da Aldeia
Aratikum.
- Toda nossa solidariedade e apoio à Aldeia
Aratikum!
- Pela imediata devolução do território da Aldeia
Aratikum para os Pataxó!
- Pela demarcação de todas as terras indígenas!
- Pelo fim do genocídio dos povos indígenas!
- Nosso veemente repúdio ao aparato repressivo!
- Abaixo o terrorismo do Estado e do capital!
- A luta em defesa dos territórios indígenas e a
luta contra o genocídio dos povos indígenas são princípios da luta pelos
direitos humanos!
Porto Seguro/BA, 05 de novembro 2016
Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e
Cidadania (BH/MG).
Foto/Arquivo: Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania |
Foto/Arquivo: Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania |
Parabéns ao Instituto Helena Greco por essa iniciativa fundamental!
ResponderExcluirPrezados, sugiro que entrem no site da comunidade Avaaz (avaaz.org), façam a denuncia e abram um abaixo assinado em favor da demarcação imediata das terras Pataxó.É um ótimo canal de difusão de denuncias , luta e reivindicações, com milhares de seguidores por todo o mundo. Abço
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