"Estamos aqui pela Humanidade!" Comuna de Paris, 1871 - "Sejamos realistas, exijamos o impossível." Maio de 68

R. Hermilo Alves, 290, Santa Tereza, CEP: 31010-070 - Belo Horizonte/MG (Ônibus: 9103, 9210 - Metrô: Estação Sta. Efigênia). Contato: institutohelenagreco@gmail.com

Reuniões abertas aos sábados, às 16H - militância desde 2003.

sábado, 5 de novembro de 2016

DESPEJO DA ALDEIA ARATIKUM

Foto/Arquivo: Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania

 NOTA DE REPÚDIO AO DESPEJO SOFRIDO PELA COMUNIDADE
PATAXÓ DA ALDEIA ARATIKUM – CABRÁLIA/BA

        O Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania (Belo Horizonte/MG) vem a público manifestar o mais veemente repúdio ao despejo sofrido pela comunidade Pataxó da Aldeia Aratikum, localizada no município de Cabrália/Bahia. A ação ocorrida na quinta-feira, dia 13 de outubro de 2016, demonstra o quadro sistêmico de massacre, etnocídio e genocídio instaurado contra os povos originários, institucionalizado pelo Estado brasileiro desde a época da invasão portuguesa. A comunidade da Aldeia Aratikum permanece resistindo e lutando pelo direito de ocupar suas terras ancestrais. Essas têm sido continuamente atacadas pela prática da especulação imobiliária e saqueadas pela indústria de turismo predatório.

        A comunidade Pataxó enfrenta um histórico processo de luta pela terra. A região de Porto Seguro/Cabrália é conhecida nacionalmente como o marco do “descobrimento” do Brasil. Este fato é crucial para entender a situação das comunidades indígenas da região, que sofrem mais de 500 anos de contato e invasão marcados pelo massacre e pelo saque de suas terras.

        Na década de 1990, após contínuo processo de luta e reivindicação por suas terras, os Pataxó conseguiram a demarcação de parte do seu antigo território. Apesar dessa conquista, as terras demarcadas não representam a totalidade daquelas reivindicadas pela comunidade. A demarcação das terras indígenas foi controlada de maneira absoluta pela elite local, que conduziu todo o processo de forma a conservar as áreas de maior interesse imobiliário. No final deste processo, grande parte do território Pataxó ficou fora das terras demarcadas. Esse fato trouxe indignação e revolta à comunidade indígena.

        A luta Pataxó se radicalizou com a escabrosa comemoração dos 500 anos de “descobrimento”, ocorrida no ano 2000. As manifestações, que repudiavam a narrativa hegemônica da história, tomaram as ruas de Cabrália/BA exigindo demarcação imediata das terras indígenas e denunciando a farsa histórica que o megaevento representava. Os atos, realizados pelo movimento indígena, foram alvo de grande repressão. O aparato repressivo de guerra fora novamente montado, deixando vários(as) indígenas feridos(as). Apesar de tanta repressão, a luta Pataxó pela terra ganhou força e foi capaz de encampar novo processo de retomada de terras, responsável pela fundação das aldeias: Guaxuma, Juerana, Novos Guerreiros, Nova Coroa, Tihí Kamayurá, Mirapé, Nova Esperança, Pé do Monte, Aldeia Nova, Jataí e Aratikum.

        A Aldeia Aratikum faz parte desse duro processo de retomada de terras que a comunidade Pataxó do sul da Bahia está a enfrentar. Fundada há dois anos, a Aldeia conta com 15 famílias que ergueram, neste curto período, toda uma comunidade: construíram casas, uma escola, um centro de saúde e um centro cultural - tudo isso  com as próprias mãos. A situação da Aldeia é ainda agravada pela especulação imobiliária que a indústria do turismo trava na região. A região de Santo André, pertencente ao município de Cabrália, foi o ponto de hospedagem da seleção alemã de futebol durante a Copa do Mundo de Futebol/FIFA de 2014. Esse evento trouxe uma hiper valorização da área,  muito cobiçada por suas belezas naturais. Foi neste cenário de grande interesse econômico que, no ano de 2015, a Aldeia sofreu duro golpe. Foi expedida pela Justiça Federal liminar de reintegração de posse. Mesmo com o risco iminente, a comunidade continuou a ocupar suas terras. No dia 13 de outubro de 2016, sofreu violento despejo a mando do Estado, executado pelas forças da Polícia Federal, CAEMA e CTO. Estas duas últimas pertencem à Polícia Militar baiana, conhecida nacionalmente por sua truculência e brutalidade.

        Com fuzis em punho, carros e um trator, Polícia Militar e Polícia Federal promoveram verdadeira operação de guerra contra 15 famílias Pataxó. Com muita truculência e de forma arbitrária, as forças policiais destruíram as casas, a escola, o centro de cultura e o posto de saúde da comunidade, sem dar tempo para a retirada dos pertences. A comunidade foi empurrada para as beiras da BR-001, onde agora vive em condições precárias e sofre constantes ameaças. As comunidades indígenas são tratadas constantemente como inimigas do Estado. O dantesco aparato repressivo montado no despejo da Aldeia Aratikum demonstra, novamente, o histórico papel colonizador que as polícias brasileiras desempenham no massacre às comunidades originárias.

        É importante reiterar a denúncia da atuação da Copa do Mundo/FIFA de 2014 nesse processo de despejo da Aldeia Aratikum. O megaevento foi responsável em todo país por desocupações feitas seguindo o mesmo modus operandi. As comunidades despejadas sofreram grande repressão policial e tiveram seus bens destruídos. O grande legado da Copa do Mundo/FIFA para a comunidade da Aldeia Aratikum foi a espoliação das terras indígenas através da hiper valorização imobiliária com fins turísticos.

        Na segunda-feira, 17 de outubro, professores e estudantes do PROEXT/ UFSB (Programa de Ensino e Extensão da Universidade Federal do Sul da Bahia) - voltado para a questão indígena Pataxó/Maxakali - convocaram um encontro com a comunidade da aldeia a fim de repudiar o despejo e entender quais são as maiores necessidades frente ao grave cenário atual. Durante o evento, realizado na UFSB/Porto Seguro, o cacique Ailton Pataxó denunciou a ação de guerra das forças repressivas, que violentou a comunidade e destruiu a aldeia. Repudiou também o sistema judiciário, que sempre está do lado dos ricos e poderosos. Foi ainda destacada a ineficiência da FUNAI (Fundação Nacional do Índio) na proteção dos direitos indígenas e a necessidade da organização coletiva para a luta pela demarcação de terras e pela garantia dos direitos indígenas.

        Na noite de terça-feira, dia 18 de outubro, a comunidade Pataxó decidiu convocar uma marcha saindo da Aldeia da Jaqueira rumo à Aldeia Novos Guerreiros com fechamento da pista da BR-367. A manifestação contou com a presença de indígenas de diversas aldeias da região - Mirape, Novos Guerreiros, Jaqueira e Coroa Vermelha. O ato repudiou o despejo e reivindicou a demarcação imediata das terras Pataxó. As lideranças da comunidade se pronunciaram e afirmaram resistir e lutar para que a comunidade recupere o território da Aldeia Aratikum. Membro do Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania esteve presente na manifestação e junto aos indígenas da Aldeia Aratikum.

- Toda nossa solidariedade e apoio à Aldeia Aratikum!

- Pela imediata devolução do território da Aldeia Aratikum para os Pataxó!

- Pela demarcação de todas as terras indígenas!

- Pelo fim do genocídio dos povos indígenas!

- Nosso veemente repúdio ao aparato repressivo!

- Abaixo o terrorismo do Estado e do capital!

- A luta em defesa dos territórios indígenas e a luta contra o genocídio dos povos indígenas são princípios da luta pelos direitos humanos!

Porto Seguro/BA, 05 de novembro 2016
Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania (BH/MG).

Foto/Arquivo: Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania

Foto/Arquivo: Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

ESCOLAS OCUPADAS EM VENDA NOVA - TODO NOSSO APOIO!

Luta das escolas estaduais ocupadas de Venda Nova contra a PEC 241/PEC 55 e contra a reforma do ensino médio.

       Ontem, feriado de 02 de novembro de 2016, estudantes secundaristas da Escola Estadual Ari da Franca e de outras escolas ocupadas da região de Venda Nova panfletaram no Centro de Belo Horizonte. Digitalizamos e reproduzimos, abaixo, o panfleto.

Todo nosso apoio aos estudantes das escolas ocupadas!
Ocupar e resistir!

Belo Horizonte, 03 de novembro de 2016
Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania.
Imagem: Panfleto das Escolas Estaduais ocupadas em Venda Nova, Belo Horizonte/MG

terça-feira, 1 de novembro de 2016

SOBRE (RE) LANÇAMENTO DE A CHAMA E O VENTO EM BH

Imagem: Maria Helena Barcelos (irmã de Maria Auxiliadora Lara Barcelos),
Sérgio Mudado (autor do livro a chama e o vento) e Cecília Coimbra (Grupo Tortura Nunca Mais/RJ).
NOTÍCIA SOBRE (RE) LANÇAMENTO DO LIVRO A CHAMA E O VENTO

        Realizado, no dia 31 de outubro/2016, no Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania (BH/MG), a chama e o vento - (Re) lançamento do livro de Sérgio Mudado.

        Houve uma roda de conversa entre Sérgio Mudado, Cecília Coimbra (Grupo Tortura Nunca Mais/RJ), Maria Helena Barcelos (irmã de Maria Auxiliadora Lara Barcelos) e o público.  Além de Maria Helena, estavam presentes os seguintes familiares de Maria Auxiliadora Lara Barcelos: Maria Luiza Barcelos Guimarães (irmã), José Guilherme Lara Barcelos (irmão) e Philipe Ratton (sobrinho). Estiveram presentes estudantes, professores(as), trabalhadores(as), militantes dos movimentos sociais, familiares e companheiros(as) de Sérgio Mudado. Foi feita leitura dramática de um trecho do livro pela atriz Idylla Silmarovi (idealizadora do espetáculo Guerrilha).

Houve homenagem à Maria Auxiliadora Lara Barcelos (1945 – 1976), à sua mãe – Dona Clélia Lara Barcellos (in memoriam) - e aos seus familiares.  O romance de Sérgio Mudado é uma ficção que transita pelos acontecimentos da época da ditadura militar (1964-1985). Tem como pano de fundo a trajetória de Maria Auxiliadora Lara Barcelos. 

Maria Auxiliadora Lara Barcelos (Dorinha, Dodora) participou da luta armada contra a ditadura e pelo socialismo – fez parte de Comandos de Libertação Nacional (COLINA) e Vanguarda Armada Revolucionária-Palmares (VAR-Palmares). Nasceu em Belo Horizonte, estudou medicina na UFMG, atuou na clandestinidade, foi presa política barbaramente torturada. Foi banida do país em janeiro de 1971, trocada com outros(as) 69 companheiros(as) pelo embaixador suíço. Atuou no Chile de Salvador Allende e, com o golpe de Pinochet, teve que fugir para a Europa. Denunciou amplamente as torturas, mortes e desaparecimentos – os crimes contra a humanidade – praticados pela ditadura brasileira. Suicidou-se no exílio em Berlim, em 1976. Sua mãe, Dona Clélia Lara Barcelos, é referência de dignidade, coragem e combatividade dos familiares de presos políticos e de todos que lutaram contra a ditadura militar.

O (re) lançamento do livro a chama e o vento foi uma parceria entre o Grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro e o Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania. Agradecemos a presença de todas e todos.

Companheiras
Dona Clélia Lara Barcellos 
e
Maria Auxiliadora Lara Barcelos:
Presentes na luta!

Belo Horizonte, 1º de novembro de 2016
Notícia/Fotos/Arquivo: Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania



sábado, 29 de outubro de 2016

OCUPA UFSB

Imagem: Ocupa UFSB.
Foto/Arquivo:
Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania.

NOTÍCIA SOBRE A OCUPAÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO SUL DA BAHIA

No dia 26/10/2016, foi decidida em assembleia estudantil a ocupação dos três campi da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), Campus Sosígenes Costa – Porto Seguro/BA, Campus Paulo Freire – Teixeira de Freitas /BA e Campus Jorge Amado – Itabuna/BA. A decisão iniciou um processo de articulação de uma ocupação de resistência, contra os ataques à educação, a saúde e contra a destruição das conquistas trabalhistas.

        A assembleia multi campi debateu os impactos da PEC-241 na saúde e na educação pública. Entendendo o quadro sinistro que configura a política nacional - esta que conta com o congresso mais reacionário desde a ditadura militar e possui um presidente levado ao cargo através de um golpe parlamentar - os estudantes da UFSB repudiaram com veemência todas as tentativas de aniquilamento das conquistas sociais e propuseram a ocupação dos campi para a criação de um programa intenso de resistência.

        Além dos estudantes, os técnicos administrativos da UFSB entraram em greve a partir do dia 26/10 e também estão em processo de mobilização. Os professores votaram paralisação de 72h no dia 27/10 propondo convocação de greve para o dia 31/10. Tanto os professores quanto os técnicos apoiaram o movimento de ocupação e permanecem mobilizados contra o congelamento dos gastos públicos, propostos pela PEC-241 e o atual governo.

        Após a decisão conjunta de ocupação, cada campus continuou uma assembleia específica responsável por dar direcionamento a cada processo de ocupação. O campus Sosígenes Costa – Porto Seguro/BA ainda deliberou a realização de uma manifestação na BR-367, onde se localiza o campus, que aconteceu no dia 27/10, quinta-feira.

        A manifestação teve início às 16h30 e prosseguiu até às 18h. Os estudantes realizaram panfletagem e interromperam parte da BR-367. Foram feitas barricadas com galhos e cartazes repudiando os ataques aos direitos dos trabalhadores, à saúde e à educação. Após a manifestação foi realizada nova assembleia para dar continuidade às demandas da ocupação.

        Os estudantes da UFSB continuam ocupando os três campi e não têm previsão de cessar suas atividades.

Todo nosso apoio à Ocupação! PEC – 241, NÃO!

Porto Seguro/BA, 29 de outubro de 2016
Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania (Belo Horizonte/MG)
Imagem: Manifestação na BR-367 realizada pelo Ocupa UFSB do campus Sosígenes Costa – Porto Seguro/BA. Foto: Julio Cézar Chaves. Fonte: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10207651917999134&set=pcb.918548691608931&type=3&theater
Imagem: Manifestação na BR-367 - Porto Seguro/BA.
Foto/Arquivo: Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania. 

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

(RE)LANÇAMENTO DO LIVRO "A CHAMA E O VENTO" EM BELO HORIZONTE


a chama e o vento
            (Re) lançamento do livro de Sérgio Mudado

Segunda-feira, dia 31 de outubro de 2016, às 19 horas.
Local: Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania
- Rua Hermilo Alves, nº 290, Bairro Santa Tereza, Belo Horizonte/MG.

“Neste novo romance de Sérgio Mudado, fato e ficção, passagens por vezes admiráveis, mesclam-se criando um panorama – absurdo – da dramática trajetória de vida de uma família, de origem simples, arrebatada e sufocada pelos tentáculos implacáveis da ditadura que se instalou no Brasil, em 1964”.

Roda de conversa com o autor e Cecília Coimbra do Grupo Tortura Nunca Mais/RJ.

 Leitura dramática e apresentação musical: Idylla Silmarovi e Cláudia Manzo.

Homenagem à Maria Auxiliadora Lara Barcelos (1945 – 1976), à sua mãe – D. Clélia Lara Barcellos (in memoriam) - e aos seus familiares.


“SÉRGIO MUDADO nasceu em Belo Horizonte, em outubro de 1950. É autor dos seguintes romances: O quarto selo – A origem secreta da AIDS (1989); Uma vez ontem (1997); Vassallu – A saga de um cavaleiro medieval (2006) e Os negócios extraordinários de um certo Juca Peralta (2010) – finalista do Prêmio São Paulo de Litaratura”.

https://www.facebook.com/events/167897390334889/

terça-feira, 18 de outubro de 2016

RONDA DE LOS JUEVES DE LAS MADRES DE PLAZA DE MAYO


Nossa visita à Ronda das Quintas-feiras das Mães da Praça de Maio,
Buenos Aires/Argentina

        Na última quinta-feira, dia 13 de outubro de 2016, o Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania esteve presente na Ronda de los Jueves de las Madres de Plaza de Mayo (Ronda das Quintas-feiras das Mães da Praça de Maio), em torno da Pirámide de Mayo, na Plaza de Mayo, em Buenos Aires. Desde 30 de abril de 1977 - em plena ditadura militar (1976-1983) – as mães de presos(as) políticos(as) sequestrados(as), torturados(as) e executados(as) se concentram nesta praça todas as quintas-feiras, sempre às 15h30.  A praça é situada em frente à Casa Rosada, sede do governo argentino.  As Mães da Praça de Maio enfrentaram o terrorismo de Estado durante a ditadura em busca dos seus filhos e filhas desaparecidos(as). Elas nunca esmoreceram, nem mesmo depois dos sequestros, torturas e mortes de três das suas fundadoras em dezembro de 1977.

Durante a Copa do Mundo de 1978 – que aconteceu na Argentina –, las Madres denunciaram para o mundo a prática genocida e os crimes contra a humanidade perpetrados pela ditadura.  Sua visibilidade só tem crescido desde então. As Mães da Praça de Maio contam com a parceria das Abuelas de Praça de Mayo (Avós da Praça de Maio) e da Federación de los Familiares de Desaparecidos y Detenidos por Razones Politicas/FEDEFAM (Federação de Familiares de Desaparecidos e Detidos por Razões Políticas).  Nesta luta há também a atuação importante das Hijas y Hijos por la Identidad y la Justicia contra el Olvido y el Silêncio/ H.I.J.O.S.(Filhas e Filhos pela Identidade e a Justiça contra o Olvido e o Silêncio).  Desde 1986 as Mães da Praça de Maio possuem duas linhas: a Associación Madres de Plaza de Mayo (Associação Mães da Praça de Maio) e Madres de Plaza de Mayo Linea Fundadora (Mães da Praça de Maio Linha Fundadora). Elas se colocam como movimento social e político apartidário e independente de governos. Defendem a democracia revolucionária, não a democracia burguesa. A linha Associación Madres de Plaza de Mayo, no entanto, apoiou o kirchnerismo, recebeu subsídios e estabeleceu certo vínculo com os governos deste período. Madres de Plaza de Mayo Linea Fundadora manteve o princípio da independência firmado na sua origem, em 1977.  Ambas as linhas fazem a Ronda de Plaza de Mayo às quintas-feiras e partilham o princípio da luta sem trégua pelos direitos humanos e por memória, verdade e justiça.

Na Argentina são 30 mil opositores(as) sequestrados(as), presos(as), torturados(as) e executados(as) pela ditadura – 5 mil arremessados vivos de aviões no Rio da Prata, os voos da morte.   Muitas da presas políticas deram a luz em cativeiro – são 500 bebês sequestrados e apropriados pelos militares e seus aliados.  Destes, 117 foram encontrados e recuperaram sua verdadeira identidade. Ao contrário do que acontece no Brasil,  foram abertos 1136 processos contra os militares genocidas – houve 563 condenações.  O próprio ditador Jorge Rafael Videla foi condenado a prisão perpétua por crimes contra a humanidade em dezembro de 2010  e morreu na prisão em maio de 2013, aos 87 anos.  Tudo isto é devido à luta das Mães da Praça de Maio, das Avós da Praça de Maio e dos H.I.J.O.S.

Depois da ditadura, as Mães da Praça de Maio e seus aliados se mantêm firmes na luta. Continuam a buscar seus milhares de filhas e filhos desaparecidos(as): a única luta que se perde é aquela que você abandona, dizem elas.  A Ronda de los Jueves constitui manifestação importante desta luta e se tornou ela mesma documento contra o terrorismo de Estado. Em toda a extensão do perímetro da Praça de Maio foi imprimido o símbolo das Madres – o panuelo branco que elas portam e que as identifica  no mundo inteiro. Na quinta-feira (13/10) tivemos a oportunidade de acompanhar a sua 2009ª marcha. A comissão de frente da ronda é composta por Madres – com idade entre 75 e 95 anos de idade.

Depois de fazer a ronda, las Madres se sentam e falam para os presentes. Na praça, estavam presentes vítimas da ditadura, familiares de mortos e desaparecidos, ex-presos políticos, estudantes, trabalhadores(as) e muitas crianças.  Todas e todos as receberam com entusiasmo, respeito e solidariedade ao cantar:

Las madres en la plaza,
El Pueblo las abraza!

(As mães na praça, o povo as abraça!)

Para nós, do Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania, las Madres de Plaza de Mayo constituem referência incontornável de combatividade e radicalidade na luta. Fazemos nossa a exortação delas:

30 000 detenidos desaparecidos PRESENTES!
Ahora y siempre.
Hasta la victoria!

(30 000 detidos desaparecidos PRESENTES!
Agora e sempre.
Até a vitória!)

E acrescentamos:

VIVA A LUTA DAS MÃES DA PRAÇA DE MAIO!

Belo Horizonte, 18 de outubro de 2016
Notícia/Fotos/Arquivo: 
Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania


segunda-feira, 10 de outubro de 2016

NOTÍCIA SOBRE A TEMPORADA GUERRILHA

Imagem: Estreia do espetáculo Guerrilha no dia 04/10/2016.
Foto/Arquivo: 
Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania 

NOTÍCIA SOBRE A TEMPORADA DO ESPETÁCULO GUERRILHA
         Neste mês – de 4 a 9 de outubro – foi realizada, no Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania (BH/MG), a temporada do espetáculo Guerrilha – experimentos para tempos sombrios.
        A apresentação teatral, performática, musical e audiovisual aborda a luta feminista em todos os âmbitos. Trata da militância, da resistência contra a ditadura, da luta contra a tortura - por memória, verdade e justiça - da luta armada contra o capital, da luta pela revolução, da luta contra o terrorismo de Estado na atualidade, da luta contra o patriarcado e o machismo. Durante o espetáculo foram transmitidos áudios de depoimentos de mulheres que participaram da luta armada e que foram torturadas pela ditadura militar (1964 – 1985). Foram explicitadas todas as lutas das mulheres da América Latina: trabalhadoras, moradoras de ocupações, zapatistas, indígenas, negras e outras. Foi feita uma homenagem a Helena Greco, já que 2016 é o ano de seu centenário. No encerramento de cada seção foi servida a conhecida macarronada de D. Helena Greco e foi relatado que, aos domingos, esta macarronada era servida na casa dela – espaço de resistência - para a militância e para perseguidos(as) políticos(as).
        O espetáculo solo ocupou todo o espaço físico do local e sua dinâmica apresentou-se de forma itinerante. A lotação foi limitada a 30 pessoas por seção. Por este motivo foram realizadas 6 apresentações – de terça a domingo. O cineasta e professor Sávio Leite fez o registro audiovisual. Guerrilha contou com a seguinte ficha técnica:
CRIAÇÃO, ATUAÇÃO E IDEALIZAÇÃO: Idylla Silmarovi
DIREÇÃO: Raquel Castro
DIREÇÃO MUSICAL: Claudia Manzo
COREÓGRAFO: Thales Brener Ventura
DRAMATURGIA: Idylla Silmarovi
ORIENTAÇÃO DE PESQUISA HISTÓRICA: Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania
ILUMINAÇÃO: Akner Gustavson
FIGURINO E MASCARAMENTOS: Idylla Silmarovi
PRODUÇÃO: Fernanda Rodrigues
COPRODUÇÃO: Fabrício Trindade
FOTOGRAFIA: Randolpho Lamonier e Victor Galvão
O Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania vem a público agradecer a iniciativa da atriz Idylla, da musicista chilena Cláudia e da diretora Raquel. Agradecemos igualmente à equipe técnica (Fernanda, Thales, Akner, Fabrício, Randolpho e Victor) e ao Sávio.  Agradecemos ainda a todas e todos que vieram assistir Guerrilha.
Belo Horizonte, 10 de outubro de 2016
Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania


Imagem: Guerrilha. Foto: Sávio Leite.

sábado, 1 de outubro de 2016

NÃO VOTE!

EM DEFESA DE QUE DEMOCRACIA?
NÃO VOTE! LUTE CONTRA TERRORISMO DE ESTADO E DO CAPITAL!

        O Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania vem a público explicitar a sua posição contra a farsa eleitoral, a farsa institucional e a farsa da democracia representativa. Vem repudiar o processo de fascistização do Estado, o qual constitui matéria de longa duração no Brasil. O desfecho também farsesco do impeachment - o golpe parlamentar promovido pelo chamado Estado democrático de direito - e a consequente instalação do governo espúrio de Michel Temer/Henrique Meirelles (PMDB/PSD/PSDB/PP/DEM/PPS/PR/PP/PV/PTB/PSB), no entanto, imprimem a tal processo ritmo de escalada. O congresso que o levou a cabo é o mais inepto, mais corrupto e o mais reacionário desde os tempos da ditadura militar, sendo galvanizado pelo obscurantismo insuperável das bancadas Boi/Bíblia/Bala. Procedeu-se, então, o advento do governo direto, sem qualquer tipo de mediação, do mesmíssimo bloco de classes responsável pelo golpe militar de 1964, pela ditadura e pela transição política – donos de empreiteiras, bancos, oligopólios industriais, latifúndios/agronegócios, mineradoras e oligopólios midiáticos (encabeçados pela Folha de São Paulo e a Rede Globo). Estes, aliados ao fundamentalismo cristão e a protofascistas de todas as espécies (adeptos dos Cunha/PMDB, Bolsonaro/PSC, Feliciano/PSC, Ronaldo Caiado/DEM et caterva), se livraram do incômodo intermediário/aliado/cúmplice, o Partido dos Trabalhadores (PT).

 De nada valeu ao PT – já a partir da Carta aos brasileiros (2002) - ter seguido à risca a cartilha do Fundo Monetário Internacional (FMI) e executado a mais colaboracionista conciliação de classes e a mais subserviente cooptação dos movimentos sociais e sindicais nos 13 anos em que atuou como gerente do Estado burguês, ombro a ombro com PCdoB/ PMDB /PR/ PP e outros partidos de direita. De nada valeu ao PT – antes, durante e depois do impeachment – incorporar a ortodoxia do discurso neoliberal e insistir em estabelecer alianças espúrias com os golpistas. Primeiro em nome da governabilidade a qualquer preço, depois na tentativa de salvar o mandato de Dilma Rousseff dizendo-se em defesa da democracia – mas, que democracia?

O projeto Temer em andamento é a implementação do totalitarismo de mercado sem qualquer tipo de escrúpulo. Trata-se de clássico golpe de classe: seu objetivo é retirar todos os obstáculos interpostos à consecução – se possível, instantânea - dos desígnios do mercado total cujo maior beneficiário é o capital financeiro.  Sabemos qual é a essência dos tão propalados ajuste fiscal e superávit primário (controle de gastos públicos, reforma previdenciária, reforma trabalhista e privatizações generalizadas) – carros chefes deste projeto: arrocho salarial e desemprego implacáveis; aumento exponencial da exploração e da opressão; desmonte radical das já sofríveis políticas públicas de educação, saúde, moradia, saneamento básico, transporte e assistência social; tentativa de aniquilação de todos os direitos conquistados pelos(as) trabalhadores(as) ao longo de décadas; aumento da repressão aos(às) trabalhadores(as) do campo em luta contra o latifúndio; aprofundamento radical da repressão policial e militar com a naturalização do extermínio; privatização e militarização das cidades a partir do modelo racista e segregacionista das UPPs; reforço da criminalização das ocupações urbanas e rurais, dos movimentos sociais e das manifestações populares; intensificação do genocídio do povo negro e das populações indígenas; ofensiva reacionária sobre as lutas femininas/feministas e as comunidades LGBTs. O obscurantismo político e cultural foi exacerbado com projetos infames como a Escola sem Partidos/Lei da Mordaça e a draconiana reforma do ensino médio – leia-se precarização/ terceirização/privatização/mercantilização devastadoras da educação - imposta por medida provisória.  Tudo isto tem levado a níveis insuportáveis o rebaixamento das relações de convivência e o aviltamento do senso comum.

Os 21 anos de ditadura militar (1964-1985) e os 31 anos de transição pactuada com as Forças Armadas e controlada pelas elites (1985-2016) prepararam o terreno e produziram o caldo de cultura ideal para a consolidação deste projeto de acumulação por espoliação. A limitadíssima democracia representativa que daí surgiu completou o serviço. Afinal, as democracias representativas se mostram historicamente mais eficazes do que qualquer ditadura para dar cobertura ao terrorismo de Estado e do capital.  Isto pelo simples fato de que as ditaduras, por mais longevas que sejam, têm prazo de validade. Já o Estado democrático de direito, cujo verdadeiro nome é Estado Penal, tem os atributos da sustentabilidade e da globalização, logo, da possibilidade de perenização. A burguesia, sempre assombrada por crises, está permanentemente em busca de ajustes cirúrgicos a serem pagos pelos(as) trabalhadores(as).  Tal Estado democrático de direito configura-se, então, em Estado de emergência econômica permanente ou Estado oligárquico de direito com destaque para as afinidades históricas entre capitalismo e exceção, entre Estado e crime organizado/corrupção, como denuncia Paulo Arantes. Evidência empírica deste quadro – aqui e agora - é a dantesca corrupção sistêmica, que abarca todas as malhas do Estado, dos mercados e do capital e escancara a promiscuidade e a retro alimentação que os interliga.

Além disso, o Estado burguês jamais abre mão dos instrumentos de violência que tem à sua disposição: a impunidade e a institucionalização da tortura, dos desaparecimentos forçados e dos crimes contra a humanidade; a sistematicidade das graves violações dos direitos humanos; a política de encarceramento em massa; a guerra generalizada contra os pobres; a destruição continuada do espaço público; a estratégia do esquecimento como método de governo; a fabricação da mentira organizada – tudo veio para ficar. Continua em vigor a Lei de Segurança Nacional promulgada pela ditadura militar (Lei 7170/1983), continua em vigor a justiça militar.  A Constituição Federal de 1988 incrementou o processo: as Forças Armadas continuam a figurar como guardiãs da pátria, dos poderes constitucionais, da lei e da ordem (art. 142) e são criadas as guardas municipais armadas (art.144, par.8, regulamentado pela Lei Federal 13 022/2014).  Mais uma corporação policial num país que é o campeoníssimo mundial em violência policial, cuja Polícia Militar – o paradigma das guardas municipais – é a mais letal do mundo! A PM tem que ser, portanto, extinta. A propósito, o Brasil é também um dos campeões mundiais em concentração de riqueza e desigualdade social. Em 2004, o governo Lula criou por decreto a Força Nacional de Segurança Pública (Dec. 5289/04 reformulado pelo Dec. 7913/2013), a qual se constitui como verdadeira guarda pretoriana: o executivo passa a contar com sua força policial exclusiva. Como se não bastasse, sempre dentro do sistema Law and Order ditado pelo FMI, foi fabricada a iníqua Lei Antiterrorismo (Lei 13 260/2015) sancionada por Dilma Rousseff e brandida com estardalhaço durante as Olimpíadas pelo governo Temer e seu xerife Alexandre de Morais. Os alvos preferenciais de todo este gigantesco arsenal são as lutas dos(as) trabalhadores(as) e do povo, as manifestações e os movimentos sociais.

Fica evidente que o arcabouço jurídico da Doutrina de Segurança Nacional – aquela que propugna a eliminação dos inimigos internos, herança estruturante da ditadura – se fixou nas entranhas deste pessimamente chamado Estado democrático de direito instituído pela Constituição de 1988.  É esta a lógica da segurança pública – a lógica da doutrina da pacificação - adotada como paradigma da política de Estado. Os inimigos internos a serem eliminados são as classes perigosas/classes torturáveis de sempre. No jargão militar, são os insurgentes, as forças oponentes a serem debeladas, a saber: os 2/3 da população que vivem no limiar da linha de miséria; movimentos sociais, manifestantes, estudantes e trabalhadores(as) do campo e da cidade em luta por seus direitos; negros(as) e indígenas, vítimas do racismo e do genocídio institucionais; moradores das periferias, vilas, favelas, ocupações urbanas e rurais; mulheres e comunidades LGBTs. O Estado penal é genocida, racista, machista e LGBTfóbico.

A composição do governo Temer reflete com clareza meridiana o conluio mercado total/Estado penal. A ausência de mulheres e negros(as) já dá a medida. Mas vejamos os nomes mais emblemáticos: o banqueiro Henrique Meirelles (Ministro da Fazenda), o rei da soja Blairo Maggi (Ministro da Agricultura) - sucedâneos respectivamente do chicago boy Joaquim Levy e da ruralista Kátia Abreu do governo Dilma -, o xerife Alexandre de Morais (Ministro da Justiça) e o general Sérgio Westhpalen Etchegoyen (chefe do Gabinete de Segurança Institucional/GSI, que passa a comandar também a Agência Brasileira de Inteligência/ABIN).
O general Sérgio é crítico feroz e explícito do processo de investigação dos crimes contra a humanidade perpetrados pela ditadura militar.  Não é para menos.  Ele pertence a uma linhagem de repressores e torturadores contumazes. Os nomes de seu pai e de seu tio integram a lista de 377 torturadores publicada no relatório final da Comissão Nacional da Verdade(CNV) (cap.16, v.1).  Seu pai, o gen. Leo Guedes Etchegoyen, foi Chefe de Polícia do Rio Grande do Sul após o golpe de 1964, onde recebeu o agente da CIA Dan Mitrione para ministrar aulas de tortura para a Guarda Civil do estado.  Além disso, na qualidade de chefe do Estado Maior do II Exército e supervisor das atividade do DOI-CODI (1979-1981), um dos maiores centro de tortura da época, foi entusiasta do trabalho do ten. cel. Dalmo Lúcio Muniz Ciryllo, um dos torturadores mais sanguinários da ditadura militar.  Seu tio, Ciro Guedes Etchegoyen, era a autoridade do Centro de Informações do Exército/CIE responsável pela chamada Casa de Petrópolis, centro clandestino de tortura, extermínio, mutilação e ocultação de cadáveres de presos políticos. Quanto a Alexandre de Morais, a sua atuação à frente da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (2014-2016), foi marcada pela enormidade dos assassinatos cometidos pela Polícia Militar (uma em cada quatro mortes no Estado em 2015) e pela selvageria na repressão de protestos, manifestações públicas e estudantes do ensino médio e fundamental que ocuparam as escolas – exemplo de combatividade para todos(as) nós.

O reacionarismo histórico do judiciário brasileiro – o mesmo que respaldou o impeachment e ungiu o governo Temer - confirma e arremata a situação de barbárie que estamos a descrever. São proverbiais a sua subserviência perante o poder e o seu papel ex oficio de garantidor da propriedade capitalista e de mantenedor das relações de dominação e opressão.  Senão, vejamos.  Há exatos 24 anos, no dia 2 de outubro de 1992, a Polícia Militar de São Paulo invadiu o Pavilhão 9 do Presídio do Carandiru (Casa de Detenção), na capital.   Em menos de meia hora, executou 111 presos nus, de cócoras, com tiros nas costas e na cabeça. Desde então, alguns julgamentos se arrastaram e condenaram 74 policiais a penas de até 624 anos de prisão. Ao longo deste quase ¼ de século nenhum policial foi preso. Em 2001, o cel. Ubiratan Guimarães, comandante da corporação, foi condenado a 632 anos de prisão por 105 das 111 mortes.  Em 2006, o Tribunal de Justiça de São Paulo o absolveu sob alegação de obediência devida. Em 2002, ele foi eleito deputado estadual de São Paulo com o número 14 111 pelo PSD (o mesmo partido de Henrique Meirelles).  Tornou-se liderança da bancada policial e puxador de votos do seu partido. Foi morto em 2006, sem nunca ter sido preso. Pedro Franco de Campos, Secretário de Segurança Pública e Luís Antônio Fleury Filho, governador de São Paulo à época sequer se tornaram réus: prestaram depoimento como testemunhas de defesa e defenderam em juízo a invasão do presídio. Michel Temer assumiu a Secretaria de Segurança de São Paulo no rescaldo do massacre para colocar panos quentes e se posicionou literalmente da seguinte forma: “O choque do dia a dia é tarefa ingrata e eles [os PMs] precisam de repouso e meditação”. Esta foi a recomendação dele. Hoje Temer é presidente da república e Luís Antônio Fleury Filho é integrante da executiva estadual do seu partido, o PMDB. Na última terça-feira, 27 de setembro de 2016, o Tribunal de Justiça anulou todos os julgamentos que condenaram os 74 PMs.   O relator do recurso, desembargador Ivan Sartori, defendeu a absolvição deles afirmando que “não houve massacre, houve legítima defesa”.

É esta a lógica do judiciário no Brasil: histeria punitiva para pobres e pretos, criminalização dos movimentos sociais e a mais total impunidade para os perpetradores de graves violações de direitos humanos e crimes contra a humanidade – o Estado e seus agentes.  É a mesma lógica do indeferimento pelo Supremo Tribunal Federal da ADPF 153 (abril/2010), o qual confirmou e institucionalizou a inimputabilidade dos agentes do Estado que estupraram, torturaram, mataram, mutilaram, esquartejaram e fizeram desaparecer corpos de opositores durante a ditadura militar.  Até hoje nenhum deles enfrentou a barra dos tribunais.  Da mesma forma, aqueles que praticam os mesmos crimes contra a humanidade nos dias de hoje permanecem impunes e até são contemplados com cargos, comendas e promoções. É a mesma lógica dos autos de resistência na legitimação e institucionalização das execuções cotidianas e dos massacres periódicos Brasil adentro e afora, cuja lista é interminável.  A sanha punitiva desse judiciário espúrio recai exclusivamente sobre pretos e pobres – é este o perfil da quarta maior população carcerária do mundo. Lembremos de Rafael Braga,  preso em 2013 durante a grande manifestação do Rio de Janeiro nas jornadas de junho. Ele foi condenado exatamente por ser preto, pobre, ter trajetória de rua, ser coletor da material reciclável e portar material de limpeza.

E aí vem a questão crucial a ser enfrentada: o que fazer perante esta situação de barbárie representada pela normalização da exceção brasileira (mais uma vez, Paulo Arantes).  Por tudo que foi dito até agora, a luta pela auto-emancipação, que defendemos, pressupõe fazer militância fora das instituições e exige o combate ao terrorismo do Estado e do capital; pressupõe a denúncia do Estado democrático de direito/Estado penal e de todas as suas mazelas.  Uma das maiores delas é a farsa eleitoral, da qual discordamos com veemência.  As esquerdas institucionais - eleitorais/eleitoreiras, reformistas, social-democratas – capitularam ao formato imposto pelo Superior Tribunal Eleitoral (STE), pelo aparato midiático, pelo marketing político e pela estética e a lógica narcisista das chamadas redes sociais. Passaram, por isto, a formular um discurso multiculturalista e populista, eivado de sorrisos e esperança, mas desprovido de radicalidade, combatividade e classismo - mesmo que formulem este discurso de maneira edificante. Precisam se tornar palatáveis e dialogáveis. Chegaram algumas vezes a fazer concessões mesmo ao discurso privatista da ortodoxia neoliberal e até ao discurso punitivo de segurança pública ao defenderem as UPPs. Submeteram-se à dinâmica da democracia representativa perdendo drasticamente substância crítica e potencial utópico.  Acabaram por legitimar a democracia burguesa e o eleitoralismo, uma vez que levam a sério as regras do jogo parlamentar e acabam por dançar conforme a música imposta pela institucionalidade – participam da maior festa da democracia. Aquelas esquerdas que se encontram mais à direita neste espectro não ousam dizer o próprio nome. Não ousam sequer dizer os nomes (e as cores) dos seus partidos, substituindo-os pela neutralidade despolitizada e inócua dos números das respectivas legendas. Não ousam muito menos falar de socialismo ou revolução. O efeito residual de todo este investimento político e de toda esta mobilização concentrados na participação da farsa eleitoral pode vir a ser a consolidação de uma concepção e uma atitude que só entendem a militância a partir da mediação de partidos institucionais.

Para nós, do Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania, a luta contra o terrorismo de Estado e do capital só pode ser travada de maneira autogestionária, autônoma, independente e classista. Caso contrário estaríamos nos rendendo à mera administração das iniquidades do capitalismo e às limitações da democracia representativa/burguesa. À democracia representativa, contrapomos a democracia direta, a qual não passa pela institucionalidade, não passa pelas urnas, não passa pela farsa eleitoral. Trata-se da luta de classes, que é instituinte por definição. O Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania - espaço e movimento social apartidário - é autogestionário, autônomo e independente com relação ao Estado, aos governos, aos gabinetes, ao parlamento, aos editais, às empresas, e à institucionalidade. O Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania sempre se colocou como unidade independente de militantes de esquerda e do movimento popular. Conta exclusivamente com recursos e militância de membros, apoiadores e visitantes. Aqueles que defendem a soma da luta via institucional com a luta não institucional, na prática acabam favorecendo a primeira e boicotando a segunda. A partir destes princípios expostos sentimos necessidade de partilhar nossa posição de NÃO VOTAR.  

Várias organizações políticas, tendências, coletivos e movimentos sociais defendem fortemente a mesma coisa no Brasil e no mundo, cada um à sua maneira - esta é uma proposta eminentemente internacionalista. Identificamo-nos com muitos deles. A Reaja ou será morta, reaja ou será morto propõe campanha nacional de boicote à farsa eleitoral - Não vote, reaja - que propugna a luta contra o genocídio do Povo Negro, contra a política de encarceramento em massa, contra o racismo, contra a supremacia branca e o terrorismo institucional de forma autogestionária, autônoma e independente. Há também exemplo emblemático no México: os familiares e moradores das comunidades dos 43 estudantes da Escola Normal de Ayotzinapa desaparecidos – chacinados por ação de um prefeito da região aliado ao narcotráfico e à polícia, em maio de 2013 – boicotaram, através de ação direta, as eleições locais e federais de junho de 2015 com a queima das urnas e do material eleitoral no município de Tixtla, no sul do México: Vivos los llevaran vivos los queremos, exigem eles.  

Estamos numa situação de extremos, vivemos em tempos sombrios. Não há lugar para meio termo. Afinal de contas, a história não terminou, como o pensamento único – arcabouço ideológico do neoliberalismo – quer impor. È preciso descriminalizar o dissenso, a radicalidade e reafirmar as energias utópicas da luta contra a opressão. É preciso praticar a negação intransigente.  É preciso contrapor a revolução e o socialismo ao terrorismo de Estado e do capital.  Esta luta decididamente não passa pelas urnas.

NÃO VOTE OU VOTE NULO!

NÃO VOTE! ORGANIZE-SE E LUTE!

INSTITUTO HELENA GRECO DE DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA
Belo Horizonte, 1º de outubro de 2016


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