Foto: Jonas Cunha |
25
ANOS DA CHACINA DA CANDELÁRIA
No dia 23 de julho de 2018 a Chacina da
Candelária completou 25 anos. No dia 23 de julho de 1993, em frente à Catedral
da Candelária, no Rio de Janeiro, foram executados sumariamente por policiais
militares encapuzados os meninos Paulo Roberto de Oliveira (11 anos), Anderson
de Oliveira Pereira (13 anos), Marcelo Cândido de Jesus (14 anos), Valdevino
Miguel de Almeida (14 anos), Gambazinho (17 anos), Leandro Santos da Conceição
(17 anos), Paulo José da Silva (18 anos) e Marcos Antônio Alves da Silva (19
anos). Todos eram negros, todos eram crianças e adolescentes, todos em situação
de rua – estavam dormindo aos serem chacinados. Coincidência histórica
significativa: no mesmo dia 23 de julho de 1993, 12 Ianomâmi – idosas/os, mulheres
e crianças - foram chacinadas/os na Comunidade Haximu/Roraima. Trata-se de
genocídio, crime contra a humanidade, portanto.
Imagem: "Manifestação de Protesto contra a Chacina da Candelária", em Belo Horizonte, no dia 30/07/1993.
Foto: Cecília Pederzoli. Arquivo: Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania. |
Na década de 1990, os massacres e chacinas periódicos – que constituem processo histórico de longa duração no Brasil - atingiram sistematicidade assustadora. Vamos citar os casos mais notórios, além da Candelária e dos Ianomâmi: Acari, Rio de Janeiro, 26 de julho de 1990 (11 jovens mortos, 7 com menos de 18 anos); Carandiru, São Paulo, 2 de outubro de 1992 (111 presidiários mortos); Vigário Geral, Rio de Janeiro, 29 de agosto de 1993 (21 mortas/os); Corumbiara, Rondônia, 9 de agosto de 1995 (10 camponesas/es pobres mortas/os, pelo menos 20 desaparecidas/os); Eldorado dos Carajás, Pará, 19 de abril de 1996 (19 sem terra mortas/os); Taquaril, Belo Horizonte, 15 de março de 1996 (3 jovens sequestrados e mortos sob tortura). Todas estas chacinas foram cometidas direta e/ou indiretamente pelo Estado - policiais civis e militares em conluio com empresários, latifundiários e gerenciadores de garimpo ilegal.
As vítimas/alvos de todas estas chacinas
são negras/os, indígenas, sem terra, camponesas/es pobres, trabalhadoras/es do
campo e da cidade, sem teto, moradoras/es de ocupações, morros, favelas e
periferias. Estava a pleno vapor a guerra generalizada contra os pobres e o
genocídio institucionalizado contra o Povo Negro e os Povos Indígenas – prática
sistemática do Estado democrático de
direito, então recém-instituído pela Constituição de 1988. Ao longo das
duas décadas e meia que nos separam da chacina da Candelária a escalada do
processo de militarização e fascistização do Estado e da sociedade tem levado
ao paroxismo o terrorismo de Estado com o incremento do aparato repressivo policial-militar/jurídico/legislativo.
Massacres e chacinas – no atacado e no varejo – continuam a ser praticados
sistematicamente como política de Estado. A polícia que mais mata no mundo mata
pobre todo dia. O Brasil continua no pódio como um dos grandes campeões
mundiais em violência policial, concentração de renda e desigualdade social.
Para combater esta cultura da morte e do
extermínio precisamos aprofundar a luta pelo desmantelamento do aparato
repressivo e pelo direito à vida na perspectiva da independência e da
auto-organização. É assim que entendemos a luta pelos direitos humanos.
Paulo Roberto, Anderson, Marcelo,
Valdevino, Gambazinho, Leandro, Paulo José e Marcos Antônio: presentes na luta!
Pelo fim das chacinas e massacres praticados
pelo Estado!
Pelo fim do genocídio do Povo Negro e
dos Povos Indígenas!
Abaixo o terrorismo de Estado! Pelo
fim de todo aparato repressivo!
Imagem: "Manifestação de Protesto contra a Chacina da Candelária", em Belo Horizonte, no dia 30/07/1993.
Foto: Cecília Pederzoli. Arquivo: Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania. |
Belo Horizonte, 2 de agosto de 2018
Instituto Helena Greco de Direitos
Humanos e Cidadania
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