Acervo
GNTM/RJ - 8 de agosto de 2018
NOTA DENÚNCIA E CONVITE PARA O
ESCRACHO
O GRUPO TORTURA NUNCA MAIS-RJ vem
veementemente repudiar a tese de doutorado de Hugo Studart Em algum lugar das
selvas Amazônicas: as memórias dos guerrilheiros do Araguaia (1966-1974), que
foi adaptada para livro sob o título Borboletas e Lobisomens: vidas, sonhos e
mortes dos Guerrilheiros do Araguaia. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 2018.
O autor é filho do
tenente-coronel-aviador Jonas Alves Corrêa que “era o de chefe da Seção de
Operações do CISA em Brasília durante a repressão no Araguaia. A partir de
1968, passou a organizar as redes de informantes, treinou civis e militares em
operações de inteligência. Era especialista em recrutar militantes das
organizações de luta armada, para infiltrar agentes, principalmente na região
Centro-Oeste.” (STUDART, 2018, pp. 628, 629)
Esta tese de doutorado, baseada em
relatos dos militares e dos camponeses que serviram de apoio a estes nas ações
de extermínio das guerrilheiras e dos guerrilheiros, é recheada de insinuações
misóginas, ofensivas e caluniosas. As guerrilheiras são apresentadas como
mulheres frágeis, possivelmente delatoras, amantes dos seus algozes e incapazes
de pensar criticamente o seu papel revolucionário no contexto histórico da
Guerrilha do Araguaia.
Relatos preconceituosos sobre a vida
sexual dos guerrilheiros também estão presentes neste trabalho, afirma em seu
livro que: “… havia um problema naquele grupo revolucionário. Eram quase
sessenta homens jovens para dezoito mulheres, numa relação de três para uma”.
(Idem, p.281)
Outra de suas declarações, cuja
comprovação baseia-se apenas nos relatos dos militares, não identificando os
seus verdadeiros nomes, é a de que “(…) todos os guerrilheiros do Araguaia
presos, absolutamente todos, prestaram algum tipo de informação aos militares”.
(Idem, p. 463)
O autor afirma, ainda, sem nenhuma
comprovação, que sete destes guerrilheiros, desaparecidos há aproximadamente 45
anos, estão vivos. Teriam se arrependido e mudado de identidade. Este fato está
causando imensa indignação e transtornos emocionais para os familiares que
dedicam toda a sua vida na busca das circunstâncias das mortes e na
identificação de seus entes queridos. Isto representa um novo golpe à memória
destes militantes e de seus familiares.
O GTNM-RJ que, desde a sua fundação, em
1985, sempre lutou pela memória, verdade e justiça, interroga: como uma tese
com tantas incongruências encontra acolhida dentro do ambiente acadêmico?
Espanta-nos o fato desta tese ter sido premiada na UnB e ter concorrido ao
Prêmio Capes de Tese de História.
Há tempos denunciamos este autor. Em
nosso jornal (05 de agosto de 2009), sob título “FARSA HISTÓRICA?” já havíamos
apontado que “em seu livro A Lei da Selva (Geração Editorial, 2006) – produto
de sua dissertação de mestrado defendida, em 2005, também na UnB – deixa claro
o acordo que fez para manter o anonimato dos militares que participaram
diretamente dos crimes cometidos na região do Araguaia contra os guerrilheiros
e a população local.
Finalmente, nossa última denúncia refere-se aos agradecimentos contidos nesta tese de doutorado e reproduzidos no livro, em particular, a Nelson Jobim “que, na condição de ministro da Defesa, autorizou ao autor o acesso aos arquivos secretos do extinto Serviço Nacional de Informações (SNI) como também aos arquivos do Serviço de Inteligência Militar” (Idem, p. 8).
Finalmente, nossa última denúncia refere-se aos agradecimentos contidos nesta tese de doutorado e reproduzidos no livro, em particular, a Nelson Jobim “que, na condição de ministro da Defesa, autorizou ao autor o acesso aos arquivos secretos do extinto Serviço Nacional de Informações (SNI) como também aos arquivos do Serviço de Inteligência Militar” (Idem, p. 8).
Reafirmamos a nossa luta, de mais de
três décadas, pela abertura de todos os arquivos da ditadura civil-militar, bem
como a localização e a identificação dos corpos dos desaparecidos da Guerrilha
do Araguaia e de todos os demais desaparecidos como está determinado na
Sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos da OEA (2010).
Continuamos a nossa luta contra o
esquecimento, contra o sigilo, contra as insanas memórias construídas com a
exclusiva finalidade de destruir a luta daqueles que queriam construir um país
mais justo e igualitário.
Convidamos
as nossas parceiras e parceiros, a todas e todos implicadas e implicados com a
defesa dos Direitos Humanos em nosso país, a fazermos um escracho no lançamento
do livro Borboletas e Lobisomens, no Rio de Janeiro, na frente da livraria
Argumento, no dia 14 de agosto, terça-feira, às 18h. Rua Dias Ferreira, 417, no
Leblon.
Para
maiores informações:
Rio
de Janeiro, 8 de agosto de 2018.
Pela
Vida, Pela Paz
Tortura Nunca Mais!
Tortura Nunca Mais!
- Texto
reproduzido/Fonte:
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