Imagem: Manifestação dos Cem Mil, Anticopa , Jornadas de Junho 2013 - dia 26/06/2013, BH/MG. Foto/Arquivo: IHG
NOTA DE REPÚDIO À REPRESSÃO, ÀS PRISÕES
POLÍTICAS
E À CRIMINALIZAÇÃO DOS MOVIMENTOS POPULARES
Nós, do Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania/BH,
manifestamos, mais uma vez, o mais veemente repúdio ao Estado de exceção
instalado no Brasil. Tal Estado de exceção
se consolidou sobretudo a partir dos chamados megaeventos – Copa das Confederações (junho 2013) e Copa do Mundo
(junho de 2014). Para garantir a grande
farra da FIFA e do capital, o Estado intensificou sua guerra generalizada
contra os pobres, os trabalhadores, a juventude e o movimento popular. Nossas cidades foram transformadas em
verdadeiras praças de guerra: durante a Copa do Mundo a Polícia Militar adotou
sistematicamente, inclusive, a tática bélica do cerco (envelopamento), mobilizando todo o seu efetivo para impedir e
reprimir manifestações. É importante
destacar que a ferocidade do aparato repressivo foi incrementada pelos
equipamentos e treinamento fornecidos pelo Estado de Israel – parceiro
preferencial do Estado brasileiro para compra de armamentos. Repudiamos esta
parceria, assim como repudiamos o genocídio perpetrado por Israel contra o povo
palestino, intensificado ainda mais nos últimos dias.
Em Minas e no Brasil, Polícia
Militar, Polícia Civil, Guardas Municipais, Forças Armadas, Força Nacional de
Segurança Pública – juntamente com seus parceiros, o aparato jurídico e o
aparato midiático - lançaram mão da totalidade do repertório de violência que
têm à sua disposição para vigiar, monitorar, conter, prender, espancar,
torturar e condenar manifestantes, trabalhadores em greve e moradores de favelas
e comunidades da periferia. Os métodos da ditadura militar (1964-1985) têm sido
utilizados, agora com a cobertura do pessimamente chamado Estado democrático de Direito (?), a partir da lógica da
necessidade de eliminação dos inimigos
internos. Tal Estado democrático de
direito não é outra coisa senão o Estado penal. É evidente a reprodução da
Doutrina de Segurança Nacional, ainda em vigor no ano do cinquentenário do
golpe militar. A doutrina da pacificação – cujo protótipo é constituído pelas
Unidades de Polícia Pacificadora/UPPs -, a
repressão desenfreada, a tortura, o extermínio, a ocultação de cadáveres, a
mentira organizada continuam a ser adotados como política de Estado. Trata-se do mesmo Estado que mantém
interditados os arquivos da ditadura e que impede a punição dos torturadores e
assassinos de opositores durante a ditadura militar e daqueles que cometem os
mesmos crimes contra a humanidade nos dias de hoje.
Ao
longo de 2013 e 2014, milhares de manifestantes sofreram revistas violentas
indiscriminadas, foram espancados e atingidos por gás pimenta, bombas, balas de
metal e de borracha. Muitos dos que foram presos apanharam e foram torturados
nas dependências do Estado. Cerca de trinta pessoas – manifestantes e moradores
de periferia - foram assassinadas pela repressão. Dezenas de operários foram
mortos e sofreram acidentes de trabalho na construção dos estádios, arenas, viadutos
e outras obras da FIFA. Obras do Plano de Aceleração do
Crescimento/PAC do governo federal, como Jirau e Belo Monte, foram ocupadas pelas
Forças Armadas. Há dezenas de
trabalhadores da cidade e do campo desaparecidos e presos, estes últimos por
lutarem contra o latifúndio, o qual matou milhares deles nos últimos vinte
anos. Há ainda as demissões absolutamente
inaceitáveis de 42 metroviários grevistas (São Paulo, junho/2014).
Não
podemos tolerar o intolerável: aos cinquenta anos do golpe militar, o Brasil
continua a ser um país de presos políticos e de mortos e desaparecidos
políticos. Em Belo Horizonte, há um
número indeterminado de jovens indiciados pelo fato de participarem das
manifestações contra a Copa das Confederações e o 7 de setembro/2013. Durante a Copa do Mundo, mais onze
manifestantes foram detidos – entre eles, um adolescente. A companheira Karinny foi espancada e
torturada pela PM, permanecendo atrás das grades por dois dias por registrar a
manifestação e a violência da repressão.
Dois outros companheiros ficaram presos por mais de duas semanas. Os três encontram-se agora fora da prisão,
mas foram indiciados e portam as abomináveis tornozeleiras eletrônicas. Em São Paulo, o estudante Fábio Hideki Harano,
os professores Rafael Lusvargh e Jefte Rodrigues do Nascimento e João Antônio Alves
de Souza continuam presos e já se tornaram réus. No Rio de Janeiro, 23 manifestantes se
tornaram réus a partir de um inquérito – de mais de três mil páginas! –que
levou menos de duas horas para virar processo.
Todos tiveram prisão preventiva decretada, a qual foi revogada somente
no dia 23/07/2014, depois de muita pressão do movimento popular e dos mais diversos
setores da sociedade. Fábio Raposos e
Caio Silva de Souza não foram libertados porque são responsabilizados pela
morte do cinegrafista Santiago Andrade, atingido por um rojão ao trabalhar sem equipamento
de segurança na cobertura de uma manifestação em fevereiro deste ano. Ainda no Rio, há o caso emblemático do único
processo transitado em julgado: Rafael Braga Vieira, 25 anos, negro, coletor de
materiais recicláveis - preso e condenado a cinco anos de prisão por portar
produtos de limpeza. É este exatamente o
perfil daqueles que, no Brasil, são vítimas da política de Estado de
encarceramento em massa – temos a quarta maior população carcerária do mundo. É também o perfil daqueles que são mortos
pela polícia todos os dias, a polícia que mais mata no mundo.
Não aceitamos
definitivamente esta repressão, estas demissões, estes inquéritos, estes
processos, estes indiciamentos, estas prisões, estas mortes. Exigimos o fim das polícias e do aparato
repressivo. Exigimos a libertação imediata de todos os presos políticos. Exigimos o trancamento das ações penais e o
fim dos indiciamentos e processos. Exigimos a readmissão dos grevistas
demitidos. Repudiamos com veemência o
aparato jurídico que, no seu reacionarismo intransponível, tem instituído
verdadeiros tribunais de exceção para indiciar sumariamente manifestantes e
trabalhadores em luta. Trata-se, também
aqui, de reprodução dos métodos da ditadura militar: agentes infiltrados, escutas
e grampos inclusive de conversas dos advogados com seus clientes; provas
forjadas, testemunhas falsas.
Repudiamos com
igual veemência a imprensa burguesa que demoniza com alarde e histeria jovens
manifestantes e movimentos sociais: um de seus alvos principais é a Frente
Independente Popular/FIP, referência de combatividade na luta contra a repressão.
Tal aparato midiático – Rede Globo, Folha
de São Paulo, Diários Associados et caterva -tem no prontuário ampla folha
de serviços prestados à ditadura militar e utiliza o mesmo procedimento de
então ao constituir seus tribunais particulares : compila inquéritos policiais
sem o menor escrúpulo; publica sem criticidade apenas as versões policiais e
militares; vocifera contra as lutas populares; defende com unhas e dentes a propriedade e o capital. Trata-se, afinal de contas, de instrumento
histórico da repressão e do Estado burguês.
Institucionaliza-se,
assim, a criminalização dos movimentos sociais. O aparato repressivo, o aparato
jurídico e o aparato midiático se instrumentalizam cada vez mais para explorar
e reprimir as lutas dos trabalhadores e do povo. É evidente o aprofundamento do processo de
fascistização do Estado e da política de seus gestores nas esferas executivas
federal, estaduais e municipais.
Apesar de toda
esta situação de barbárie, em todo o país crescem as mobilizações em defesa dos
presos políticos e da liberdade de manifestação e expressão. Combater a opressão é princípio do qual os
trabalhadores, a juventude e o povo não abrem mão, combate que só se efetiva na
perspectiva da luta de classes. Nós, do Instituto Helena Greco de Direitos
Humanos e Cidadania, participamos desta luta.
Para realiza-la, demarcamos com setores do movimento – como a Assembleia
Popular Horizontal/APH de Belo Horizonte – que acreditam que tudo pode ser
resolvido pelo aparato jurídico, incorrendo no desvio do jurisdicismo. Tais
setores praticam a política de resultados estabelecendo diálogos, acordos e
comissões conjuntas com o governo (Anastasia – PSDB) e com a polícia. A partir
de atitudes pelegas, autoritárias e ultracentralizadoras, criminalizam os
movimentos que mantêm a radicalidade, o classismo e a independência em relação
ao Estado, aos governos, aos patrões e à institucionalidade.
Pela libertação imediata de todas(os)
as(os) presas(os) políticas(os)!!!
Pelo trancamento de todas as ações
penais contra manifestantes!!! Pelo fim de todos os indiciamentos e
processos!!!
Abaixo a repressão!!! Pela liberdade
de protesto, manifestação e expressão!!!
Abaixo a criminalização dos movimentos
sociais!!! Protestemos contra a criminalização dos protestos!!!
Pelo desmantelamento do aparato
repressivo!!! Pelo fim das polícias!!!
Belo
Horizonte, julho/2014
INSTITUTO HELENA GRECO DE DIREITOS HUMANOS E
CIDADANIA
Imagem: no primeiro plano, em destaque, arte-objeto de contestação"Slave 2014" feita por artistas anônimos, doada para o IHG. Abaixo, à direita, a abominável tornozeleira eletrônica. Montagem/Arquivo: IHG
Imagem: Faixa da Frente Independente pela Memória, Verdade e Justiça, da qual o IHG participa juntamente com vários outros movimentos, entidades, organizações, coletivos e indivíduos. Ato Anticopa, no dia 21/06/2014, em BH/MG. Foto/Arquivo: IHG
Imagem: Faixa da Frente Independente pela Memória, Verdade e Justiça, da qual o IHG participa juntamente com vários outros movimentos, entidades, organizações, coletivos e indivíduos. Ato Anticopa, no dia 21/06/2014, em BH/MG. Foto/Arquivo: IHG
Imagem: Ato Anticopa, no dia 17/06/2014, em BH/MG. Foto/Arquivo: IHG
Imagem: Ato Anticopa, no dia 14/06/2014, em BH/MG. Cerco ('envelopamento') da Polícia Militar. Foto/Arquivo: IHG
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