"Estamos aqui pela Humanidade!" Comuna de Paris, 1871 - "Sejamos realistas, exijamos o impossível." Maio de 68

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sábado, 18 de julho de 2020

BASTA DE VIOLÊNCIA POLICIAL E TERRORISMO DE ESTADO: “NÃO ACABOU, TEM QUE ACABAR! EU QUERO O FIM DA POLÍCIA MILITAR!”

        O Brasil é o país do racismo estrutural e do genocídio institucional. Tem no prontuário mais de 500 anos de opressão dos Povos Indígenas e mais de 350 anos de escravidão do Povo Negro. É o país que tem um dos maiores índices de concentração de renda e de desigualdade do planeta. Tem a terceira maior população carcerária e a terceira maior população carcerária feminina. É o campeão mundial em assassinatos e violência contra LGBTQIA+. Não por acaso é o vice-campeão mundial em casos de contaminação e mortes pela COVID-19, a qual atinge sobretudo negras/os, indígenas e pobres.
        O Brasil tem ainda no prontuário 21 anos de ditadura militar sangrenta (1964-1985) cujo legado é assumido com orgulho pelo governo de extrema-direita Bolsonaro/Mourão/Guedes, cuja militarização é sistêmica – são 6.157 militares ocupando postos estratégicos em todos os escalões do executivo federal. Este governo tem como paradigmas os porões da ditadura, torturadores contumazes e milicianos genocidas. Os governos estaduais – sobretudo, mas não só, Wilson Witzel/PSC (Rio de Janeiro) e João Dória/PSDB (São Paulo) – incorporaram a apologia da violência policial de Bolsonaro.  Neste cenário, a Polícia Militar mais violenta e mais letal do planeta tem batido cotidianamente os próprios recordes, mais ainda durante a COVID-19. Não são casos pontuais: esta guerra generalizada contra pobres, pretas/os e indígenas tem sido cada vez mais consolidada como política de Estado.
        Nesta semana mais uma investida estarrecedora desta necropolítica foi revelada em horário nobre de televisão da mídia burguesa - a tortura praticada pela PM paulista a céu aberto, em Parelheiros (zona sul da capital). Uma comerciante negra de 51 anos foi algemada, espancada, arrastada, sufocada, teve o pescoço pisado e a tíbia fraturada. Isto aconteceu no dia 30 de maio, emblematicamente cinco dias após a execução por garrote vil de George Floyd, em Minneapolis/EUA, por um policial branco. A comerciante paulistana foi indiciada por “resistência, desobediência, desacato e lesão corporal”, juntamente com dois clientes que também apanharam da polícia. Como sempre, nada aconteceu com os policiais que os trucidaram: eles apenas “permanecerão fora das atividades operacionais”, informou a Secretaria de Segurança Pública de João Dória. São os tais autos de resistência e excludência de ilicitude - na prática, o direito de matar.
        Para ocultar o aumento exponencial dos casos de tortura, execuções e chacinas, o negacionismo genocida de Bolsonaro consolida seu projeto de extermínio: a violência policial foi excluída do relatório oficial de violações dos Direitos Humanos. Nunca é demais repetir o óbvio: a extrema brutalidade policial está longe de ser fato isolado - é cadeia de comando e é rotineira. No ano passado, pelo menos 5.804 pessoas foram mortas pela polícia. De janeiro a maio deste ano, pelo menos 442 pessoas já foram mortas pela polícia paulista e 741 pela polícia fluminense.
        Citemos os casos mais recentes no estado de São Paulo, aqueles que foram flagrados por vídeos de testemunhas. Todas as vítimas são negras: em 12 de junho, em Barueri (Grande SP), policiais militares aplicam um mata leão em um homem e espancam os vizinhos que tentavam defendê-lo; em 13 de junho, em Jaçanã (zona norte da capital), policiais espancam jovem já rendido e o acusam de “desacato e resistência”; em 15 de junho, em Vila Clara (zona sul da capital), a polícia agride violentamente a comunidade que protestava contra a execução do adolescente Guilherme Silva Guedes; em 22 de junho, em Carapicuíba (Grande SP), jovem desmaia após ser estrangulado duas vezes pela PM; em 14 de julho, na capital, o motoboy Jefferson André Lima da Silva, que participava de manifestação da categoria, foi ferozmente reprimido, submetido a choques elétricos, gás de pimenta e sufocamento por golpe de mata leão.
        Agora vamos aos casos mais recentes de execução sumária. Aí jovens e crianças negras têm sido os alvos preferenciais da polícia. Nesta segunda-feira (13 de julho), o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) completou 30 anos. Este reconhece a criança e o adolescente como sujeitos de direitos, mas não contempla jovens negras/os, pobres e periféricas/os, vítimas da necropolítica em andamento como: João Pedro Matos Pinto (14 anos, Rio de Janeiro), Ágatha Felix (8 anos, Rio de Janeiro), Kauê Ribeiro (12 anos, Rio de Janeiro), Kauã Rosário (11 anos, Rio de Janeiro), Kauan Peixoto (12 anos, Rio de Janeiro), Jenifer Cilene Gomes (11 anos, Rio de Janeiro), Luiz Antônio Ferreira (17 anos, Rio de Janeiro), Estêvão Freitas de Souza (17 anos, Rio de Janeiro), João Vitor da Rocha (18 anos, Rio de Janeiro), Luiz (18 anos, Rio de Janeiro), Guilherme da Silva Guedes (São Paulo, 15 anos), Mateus dos Santos Passos (22 anos, Salvador). Lembremos o massacre de Paraisópolis/São Paulo (01/12/2019) quando nove adolescentes – cercados, acuados e envelopados em cerco da Polícia Militar - foram mortos pisoteados ou por asfixia. Outros doze adolescentes ficaram feridos. E ainda a execução do músico Evaldo Rosa Santos e do catador Luciano Macedo por mais de oitenta tiros de armas de grosso calibre disparados pelo Exército brasileiro, no Rio de Janeiro (08/04/2019).
        Reiteramos aqui nosso tributo a todas estas vítimas do genocídio institucional e do racismo estrutural e a seus familiares. Já dissemos que o desagravo só virá quando tal prática for erradicada, ou seja, só virá com o desmantelamento do aparato repressivo e o fim da polícia militar. Os recentes levantes no mundo inteiro contra a execução de George Floyd evidenciam mais ainda que terrorismo de Estado, colonialismo, escravismo, imperialismo, racismo, desigualdade e injustiça social são inerentes ao sistema capitalista. Daí a urgência da luta antirracista, antifascista e anticapitalista – uma luta permanente de caráter estrutural, planetário e decolonial. É assim que entendemos a luta pelos Direitos Humanos e Cidadania.
Pelo fim do genocídio do Povo Negro!
Pelo fim do genocídio dos Povos Indígenas!
“Numa sociedade racista, não basta não ser racista, é preciso ser Antirracista!”
Pelo fim das execuções, dos fuzilamentos e da violência policial nos morros, vilas, favelas e ocupações!
Pelo desmantelamento do aparato repressivo!
Abaixo o terrorismo de Estado e do capital!
No fascismo, no conservadorismo e no capitalismo não há Direitos Humanos!
“O fascismo não se discute, se destrói!”
Fora Bolsonaro, fora Mourão, fora Guedes e militares!
Racistas e fascistas: NÃO PASSARÃO!
Ditadura NUNCA MAIS!
Belo Horizonte, 18 de julho de 2020
Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania
Sempre na luta Antirracista, Antifascista e Anticapitalista!

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